Transformando coação, controle e comando em convencimento, acompanhamento e autonomia 

A evolução para uma liderança consciente é essencial em um mundo complexo, onde as necessidades das pessoas vão além do aspecto financeiro. Além de atender às necessidades básicas, como um bom salário, as pessoas buscam também pertencimento, crescimento pessoal e profissional, e a oportunidade de fazer contribuições significativas. Nesse contexto, o papel do líder é fundamental, passando de um mero executor de comandos para um guia que oferece acompanhamento e autonomia. Este artigo explora essa transformação, destacando a importância da delegação eficaz, do estímulo a feedbacks construtivos e de uma postura aberta e ativa, que sustentam essa nova forma de liderar.

CRIANDO AUTONOMIA: EMPODERANDO ATRAVÉS DA DELEGAÇÃO EFETIVA

O papel evolutivo da consciência de um líder transcende o simples poder de comando para se tornar um guia que orienta, desenvolve e apoia as equipes, ao mesmo tempo em que aprimora processos em todas as esferas. Essa transformação requer a habilidade de delegar tarefas de maneira eficaz, um processo que se desdobra em quatro passos essenciais:

  1. Orientação: clareza sobre o “quê” e o “porquê“. 
  2. Responsabilização: vantagens e desvantagens de cada ação. 
  3. Preparação: avaliação da experiência e recursos disponíveis. 
  4. Validação: verificação de compreensão e engajamento.

Ao dominar esses passos, o líder abandona o controle direto e assume o papel de acompanhamento, permitindo que as pessoas desenvolvam o “como” e façam da melhor forma o seu trabalho.

FEEDBACKS CONSTRUTIVOS NA JORNADA DE TRANSFORMAÇÃO

À medida que um líder desenvolve sua consciência e evolui de uma posição de coação para uma função de convencimento, o feedback emerge como uma ferramenta central. Diálogos diretos, naturais e instantâneos, assemelhando-se a um GPS, estabelecem as bases para interações significativas. Essa correlação com o GPS permite que conversas de correção de rota ocorram de forma mais próxima e imediata, ao contrário da abordagem distante que muitos líderes adotam, esperando tratar os problemas de três a seis meses após o ocorrido em avaliações de desempenho ou, pior ainda, optando pela demissão ao invés do dialogo construtivo.

Outra função do feedback é reforçar comportamentos positivos. Essa prática, apesar de ser a menos utilizada por gestores, possui maior impacto positivo na cultura da empresa. Isso porque, ao reforçar o que está sendo feito, por mais simples e óbvio que seja, o líder cria as condições de segurança psicológica necessárias para as pessoas darem o próximo passo, além de mostrar para elas que, o que está sendo feito, é visto e valorizado.

SAIR DE TRAZ DA MESA: LÍDERES ATIVOS NA OBSERVAÇÃO E INTERAÇÃO

Como parte da transformação do papel de um líder de controle para um líder de acompanhamento, é essencial que o gestor deixe para trás a mesa, as planilhas e os controles e se envolva diretamente com os processos internos da empresa. Circular entre fornecedores, clientes e colaboradores faz com que o líder se torne um observador ativo e um ouvinte atento. Essa abordagem possibilita uma compreensão mais profunda das operações, permite identificar problemas antes que se tornem obstáculos significativos e facilita a conexão direta com as pessoas que desempenham um papel fundamental no sucesso da organização.

Por experiência como líder, aprendi que não precisamos perguntar ou cobrar das pessoas se os resultados serão entregues ou se existem problemas; quanto maior o seu nível de abertura, mais as pessoas lhe contarão o que é mais importante e urgente a ser feito. O líder não só ganha insights valiosos, mas também constroi relações confiáveis, promove um ambiente aberto à comunicação e, assim, fortalece sua capacidade de guiar a empresa em direção aos resultados desejados.

POR QUE ESSA MUDANÇA É NECESSÁRIA

É essencial internalizar a imperativa necessidade dessa transformação, especialmente à luz do atual cenário do mercado de trabalho, onde as complexidades das realidades urbanas se destacam. Reconhecer que as pessoas que integram as nossas empresas são adultos com variadas responsabilidades familiares, níveis diversos de formação acadêmica e inúmeras outras responsabilidades pessoais é de extrema importância. É fundamental superar a perspectiva antiquada das fábricas do século 19, onde crianças de 9 a 13 anos eram empregadas, e o paradigma de comando e controle predominava para manter a ordem.

Nesse novo cenário, o papel do líder não pode se limitar ao mero controle e desinteresse pela compreensão das pessoas que lidera. Deve, ao contrário, incorporar a essência do acompanhamento e da orientação. É importante reconhecer que, caso os líderes não abracem essa transformação, correrão o risco de perder os talentos mais qualificados para empresas que já adotaram esse novo modelo de liderança consciente.

Autor:

Daniel Fünkler Borelli, conselheiro na Filial Rio Grande do Sul do Capitalismo Consciente Brasil, educador de líderes e gestores, fundador da PENSAR Educação Empresarial e do blog Valor da Felicidade.

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