O capitalismo, de uma forma geral, é um conceito que pode trazer uma conotação negativa e, muitas vezes, é associado à exploração de recursos econômicos, sociais e ambientais. Contudo, acreditar que podemos repensar o conceito de capitalismo requer uma elevação de consciência das lideranças organizacionais sobre o mundo e sobre a sociedade em geral. O que quero dizer é que é possível melhorar nossa gestão de negócios e ajustar as lacunas deste sistema, que ainda é o mais viável sistema econômico e que trouxe muitos progressos para o mundo de forma geral. Assim, acreditar que podemos transformar o jeito de fazer investimentos e negócios é jornada do Capitalismo Consciente.
Assim, após essa reflexão inicial, proponho que façamos uma distinção sobre o que é ter uma visão orientada ao shareholder e uma visão orientada ao stakeholder. Na primeira visão, as decisões são tomadas em função do lucro do acionista (shareholder). As estratégias da empresa vão levar em consideração os interesses dos acionistas. O segundo modelo amplia esta visão, sustentando seus processos na economia de mercado, colocando as empresas como instituições protagonistas também da responsabilidade social e do planeta. Além disso, essas organizações prezam pelo interesse genuíno de confiança entre seus stakeholders, além de acolher o paradigma de longo prazo com todas as partes interessadas, entendendo as necessidades de cada parte interessada, alinhando-as às necessidades da organização.
Uma empresa orientada aos stakeholders se preocupa em criar um ecossistema local e investir nele. Essas empresas têm uma ótima reputação e estão abertas a entrar em uma jornada de evolução contínua em busca das boas práticas em ESG. Empresas orientadas aos stakeholders possuem uma obrigação para com a sociedade e para com o planeta e também corroboram para um ambiente organizacional mais humanizado e produtivo.
Como declarou o professor Ed Freeman, autor da teoria dos stakeholders, os “negócios têm a ver com a criação de valor para as partes interessadas”. Essa é uma cultura organizacional que é permeada por um propósito consistente que vai além da pura geração do lucro. As empresas bem sucedidas no mercado e que adotam uma visão da orientação aos stakeholders, geram maior lucro a longo prazo e se tornam agentes de transformação na sociedade.
Caro(a) leitor(a), se você estiver se perguntando agora “como coloco essa visão orientada aos stakeholders em prática?”, listo algumas ideias para você começar a refletir:
- Propósito coerente com as práticas da empresa. Primeiramente, sinta que o propósito da sua organização já está pulsando dentro da empresa. Seus colaboradores e parceiros entendem e se conectam com este propósito comum.
- Cultura de longo prazo. Com um propósito alinhado às estratégias da empresa, é possível construir uma cultura fomentada nas relações de longo prazo. As tomadas de decisão devem levar em consideração a empresa e todos os stakeholders que impactamos. Além disso, não podemos esquecer que o impacto que geramos afeta também o nosso entorno, ou seja, a região que estamos situados.
- Inovação sustentável. Incentive a geração de ideias e novas formas de inovar, conectando o nosso propósito para gerar um legado positivo e não simplesmente receita financeira.
- Pessoas no centro. A visão orientada aos stakeholders coloca as pessoas no centro de toda a estratégia empresarial. Dê voz a todas elas para que possam expressar suas ideias e seus valores nas suas atividades diárias.
- Conexões e parcerias. A visão orientada aos stakeholders fortalece o ecossistema local. É preciso que as lideranças permitam a participação de todas as partes interessadas nas criações e cocriações que possam emergir desse processo de diálogo contínuo.
A jornada para a construção de uma visão orientada aos stakeholders é evolutiva e o Capitalismo Consciente pode pavimentar esse novo mindset empresarial. Um dos pilares do Capitalismo Consciente é a orientação aos stakeholders, assim como também estão a necessidade de um propósito inspirador, de uma liderança consciente que sabe o que deve fazer no intuito de gerar uma cultura coerente e que realmente impacte positivamente todas as partes interessadas.
Eliane Davila dos Santos
Colider da Filial Regional do Instituto Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul
Doutora em Processos e Manifestações Culturais