Por Augusto Junior*
No dia 9 de agosto de 2020, Eduardo Lyra, fundador do Gerando Falcões, foi o entrevistado do Canal Livre da Band. Logo no começo da sua entrevista, ele afirmou: “O Brasil precisa de lideranças estadistas, gente que se preocupe com o longo prazo, que enxergue as necessidades das pessoas, gente que se importa com a nossa nação e que inspire por sua capacidade de ter metas ousadas para o país”. Edu não estava se referindo somente aos líderes políticos, mas a qualquer pessoa em uma posição de liderança, seja no 1º, 2º ou 3º setor. E concordo com ele: precisamos, mesmo, de lideranças que pensem além da cotação da bolsa de valores e de gente que crie ações além do trimestre, que de fato pense na nação.
Líderes estadistas fizeram o mundo avançar e a humanidade evoluir. A história está cheia de bons exemplos: Melinda Gates, co-fundadora e co-presidente da Fundação Bill e Melinda Gates; Mandela, líder contra o apartheid na África do Sul; Luther King, líder dos movimentos civis no Alabama; Abraham Lincoln, 16º Presidente Norte Americano; Margareth Thatcher, primeira-ministra britânica; Ray Anderson, CEO da Interface; Indra nooyi, CEO global da Pepsico…a lista é gigante.
A definição de liderança deveria ser, “pessoas comuns, que lutam por causas, inspiram outras pessoas e usam suas influências para fazer do mundo um lugar melhor.”
Essa entrevista com Edu me lembrou os aprendizados inspiradores que tive em conversas com Betania Tanure e com Luiz Felipe D’Avila, e é sobre esses aprendizados que gostaria de compartilhar.
Betania Tanure é uma pessoa que tem uma visão privilegiada do mundo dos negócios. Ela é professora de algumas das principais escolas de negócios do mundo como Insead, London Business School e Fundação Dom Cabral. É uma mulher com uma paixão contagiante, cheia de brilho nos olhos e que, além de lecionar nos principais hubs de negócios, atua com transformação cultural nas maiores empresas do país, por meio da sua consultoria BTA, e ainda é membro do conselho da Magazine Luiza e da MRV. Betânia falou em uma das Masterclass para a comunidade do Young Leaders, aqui do Instituto Anga, e enfatizou bastante o mesmo aspecto que Eduardo Lyra trouxe em sua recente entrevista: “Precisamos urgentemente de líderes estadistas!”.
Ela fez uma pesquisa com as 500 maiores empresas do país para entender o perfil das lideranças brasileiras, e identificou que somente 7% dessas lideranças conseguem ter uma visão de estadistas. Para a professora, uma liderança estadista tem 3 características: capacidade de gerar resultado para o negócio, um olhar para cuidar do time, e uma visão sistêmica de como contribuir para os problemas da sociedade. Na sua pesquisa feita com mais de mil empresas brasileiras, Betânia ainda descobriu alguns outros dados interessantes: 10% dos entrevistados são capazes de gerar resultados nem para cuidar das pessoas; 15% tinham capacidade para o olhar os aspectos emocionais mas não olhavam os negócios e 68% tinham capacidade de olhar para os aspectos racionais, os números dos negócios sem conseguir cuidar das pessoas.
Na visão de Betania, esses dados revelam algumas coisas. Primeiro, nossos gestores estão aprendendo muito sobre o lado hard da gestão, das métricas e indicadores, mas estão deixando de fora o lado humano, o soft, que é tão importante quanto. Esse equilíbrio faz a diferença para que as lideranças sejam mais estadistas. O segundo grande aprendizado é que a liderança não pode ficar distante dos problemas sociais e se isolar do resto do mundo. Ela precisa se conectar com os problemas reais das pessoas e entender as demandas da sociedade.
O segundo momento que a entrevista do Edu para o Canal Livre me lembrou foi uma conversa que tive no escritório da CLP (Centro de Liderança Pública) com Luiz Felipe D’Avila, fundador da instituição e cientista político. Ele já escreveu um livro avaliando os estadistas brasileiros e, no CLP, trabalha com a formação de lideranças públicas do país inteiro, no âmbito municipal, estadual e federal. Tivemos uma conversa de mentoria que foi muito inspiradora. Falamos sobre Brasil, sobre o desenvolvimento das nações, sobre liderança e carreira e, ao final da conversa, Luiz Felipe me disse algo que me marcou: um bom político é um estadista e, para ser estadista, é preciso pensar no longo prazo. É preciso ter um olhar para o eco, e não para o ego e, principalmente, é preciso liderar para o povo pensando nos que mais sofrem.
Sempre que participo de um bate-papo de mentoria como esse, tomo notas de qual foi o principal aprendizado. Naquele dia, ficou muito claro quais as 3 competências de uma liderança estadista:
1º Um líder estadista deve ter integridade.
Isso é inegociável. O padrão ético da liderança precisa ser muito acima da média, não pode ter nenhum tipo de dúvida ou questionamento. A autoridade da sua liderança não tem relação com seu cargo, mas sim com o poder do seu caráter. As pessoas que te seguem precisam ter a convicção que você lidera com altos padrões de inteireza. Você lidera pelo exemplo, com muita integridade.
2º Um líder estadista deve ser competente
Retornando ao conceito da Betania Tanure, competente é quem consegue ter resultados e cuidar das pessoas; é quem possui competências hard e soft, racional e emocional. O “ser competente” da liderança é um estado gerúndio, pois a liderança não é estática, ela está sempre evoluindo e aprendendo. Uma liderança competente é aquela que constantemente está se desenvolvendo, crescendo e se tornando uma versão melhor de si mesmo, enquanto ajuda aqueles que o rodeiam a também trilhar esse caminho.
3º Um líder estadista deve ter uma intenção positiva
Intenção positiva diz respeito ao motivo que o líder quer liderar. Se, de fato, quer liderar para servir as outras pessoas ou se deseja liderar para se servir. Se vai liderar pensando no ego ou se vai liderar pensando no eco. Se vai liderar só para alguns poucos privilegiados ou se vai liderar pensando nos mais carentes, nos que mais sofrem. Intenção positiva está relacionada ao propósito, a causa um desejo de fazer algo que faça a diferença.
Lembro que Luiz Felipe falou que encontrar uma liderança com essas características é algo para se celebrar, pois essas pessoas é que fazem o mundo evoluir e a nação prosperar. Precisamos de estadistas. Pessoas que estão mais preocupado com a nação do que consigo mesmo, que se importa de verdade com os problemas do mundo e não somente em si. Acredito que esse conceito de liderança estadista, assim como Betânia Tanure também traz, se aplica não somente a política, mas a qualquer liderança. Vejo esses mesmos desafios em lideranças do mundo dos negócios, ou mesmo no terceiro setor. Meu desejo é que possamos buscar nos desenvolvermos para nos tornarmos essas lideranças que possuem integridade, competência e um bom propósito e, por meio disso, possamos inspirar pessoas, ajudar a potencializar os resultados das nossas organizações e construir um mundo melhor. Eduardo Lyra, CEO do Gerando Falcões é um bom exemplo para aprendermos e nos desenvolvermos como lideranças Estadistas esse é o caminho se o Brasil deseja continuar tendo ordem e progresso.
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*Augusto Junior é Diretor Executivo do Instituto Anga, Professor convidado da Fundação Dom Cabral e Membro do Conselho editorial da Revista HSM.