Li um artigo muito interessante no McKinsey Insights sobre o último livro de Marcus Buckingham, um consultor de negócios e palestrante motivacional, denominado “Love + Work: How to find what you love, love what you do, and do it for the rest of your life” – em tradução livre “Amor + Trabalho: Como achar o que você ama, amar o que você faz e fazer pelo resto da sua vida”. Motivado pelo conteúdo, trago aqui um resumo e interpretação de como isso é fundamental no trabalho do século XXI.
O autor traz como reflexão que: “as pessoas de maior sucesso não são aquelas que fazem o que amam, mas as que encontram amor naquilo que fazem”.
Nada mais importante, especialmente quando percebemos que estamos vivendo ainda a pandemia do Covid-19, cujo início foi em março de 2020 e já estamos em junho de 2022, ainda sem ver a luz no fim do túnel.
Muitas coisas aconteceram nestes dois anos e meio: pessoas perderam parentes e amigos, sofreram com as dificuldades da pandemia, com o confinamento, a falta dos parentes e amigos próximos, as restrições de acesso, as pressões pela doença desconhecida, o risco de perder o emprego (e várias pessoas perderam), a incerteza da volta à “vida normal”, do burnout e do estresse.
Tudo isso levou milhões de pessoas a um grau elevadíssimo de insegurança. Fomos obrigados, na grande maioria, a mudar e nos adaptar ao chamado trabalho “remote”, sem o contato físico com as pessoas. Nas vídeoconferências, a imagem que mais víamos era a nossa. Isso nunca havia acontecido em reuniões presenciais. Não ficávamos a maioria do tempo olhando para nós mesmos enquanto conversamos com outras pessoas.
Uma pesquisa da própria McKinsey de setembro de 2020, mostrou que 70% das pessoas encontram seu propósito por meio do trabalho. Olhe a responsabilidade dos executivos e das empresas com a vida das pessoas, principalmente as mais jovens! Tem quem está entrando no mercado de trabalho, quem foi contratado on-line, trabalhou on-line, quem pode ter sido demito on-line e nunca sentiu o calor humano de estar próximo a uma equipe em ambiente compartilhado fisicamente.
Mas o trabalho continua sendo o centro das atenções, dos esforços, das conquistas e dos fracassos na vida da maioria das pessoas. Passamos entre 40 e 60 horas por semana de nossa vida adulta no trabalho. Como podemos encontrar sentido no que fazemos por tantos dias e horas ao longo de anos de nossas vidas? Como se identificar com uma vida que pareça com a nossa, ao invés de jogarmos o jogo de dupla personalidade, vestindo uma fantasia “I hate Mondays” na segunda-feira e “Thank God is Friday” na sexta-feira, para nos despirmos e sermos quem somos? Isso não tem lógica e desgasta brutalmente nossa existência. Por isso, o mais inteligente e recomendável é encontrarmos sentido em cada pequena coisa que fazemos no dia a dia, para que toda a nossa vida faça sentido.
Aqui entra a questão do Amor + Trabalho. Parece incoerente falarmos de Amor e Trabalho no ambiente da empresa, mas é assim que deve ser. Durante anos, o local onde trabalhávamos era sofrimento, dor, provações, desafios e quem não o suportasse era fraco.
Isso não pode mais ser admitido. Na era do ESG devemos cuidar das pessoas que fazem a empresa.
Encontrar amor naquilo que você faz traz a mesma realização emocional que qualquer outra atividade que lhe dá prazer, como correr, andar de bicicleta, namorar, viajar, estar com os filhos. Quando você está apaixonado por alguém, você se sente seguro, essa emoção lhe faz mais curioso, elevado e realizado. Essa deve ser a sensação quando você faz algo que ama.
Não estudamos sobre autocontrole, mas estudamos sobre a teoria da tomada das decisões, sobre a teoria da construção de relacionamentos, e até mesmo sobre a teoria da criatividade, e mesmo assim não aprendemos o quão criativo você é ou como você constrói relacionamentos ou como você toma decisões.
Todo trabalho é feito em equipe. 65% das pessoas afirmam que trabalham em uma ou mais equipes e o desafio é trabalhar com tantas personalidades diferentes, em que cada uma traz sua definição e seu sentido de amor para a mesa de trabalho.
Somos únicos, nunca nos explicaram e nem conseguiriam explicar, porque somos diferentes de nossos irmãos por exemplo, mesmo quando gêmeos. E aí está o desafio para as empresas: como lidar com essas diferenças e treinar todos da mesma forma. Será que de uma única maneira funciona? Será que um único input é suficiente? Certamente terão um output também único. O problema é que seres humanos não agem de maneira unica e, sim, diversa.
O autor traz outro tema importante que devemos encarar: o medo. Todos nós deveríamos mudar nossa mentalidade sobre o medo. Temos uma relação estranha com ele, falando que deveríamos viver uma vida sem medo, quando a vida humana não existe sem ele.
Do ponto de vista evolutivo e biológico não conseguimos viver sem o medo. O medo é uma companhia para a vida toda e devemos tratá-lo como tratamos qualquer outra companhia ao longo da nossa trajetória: com uma boa conversa.
Ou seja, apaixone-se pelos seus medos. Ter uma conversa com seus medos vai levar você a entender aquilo que ama.
As pessoas dizem que trabalho é trabalho, que o trabalho é duro e não devemos esperar dele coisas que ele não pode nos dar. E ponto! Mas aqui voltamos à questão da individualidade do ser humano. Cada um de nós tem milhões de conexões sinápticas que são únicas, e isso é o que nos leva a amar algumas coisas e odiar outras. Desta forma, quando escolhemos o amor, escolhemos essa força incrível para nos fazer felizes, no entanto, como todas as forças da natureza, o amor precisa se expressar, fluir.
Por esta razão, expresse e coloque para fora seu amor, de tal forma que não seja algo que lhe corroa internamente. O amor não expresso deteriora a sua resiliência muito rapidamente.
Este é um dos motivos pelos quais as empresas e seus líderes devem criar ambientes seguros para errar: permitir que cada pessoa seja ela mesma. Devem seguir regras, mas com respeito mútuo, com autonomia para buscar sempre sentido naquilo que fazem. Enfim, as pessoas querem ser tratadas como adultas e com responsabilidade. Confie nelas!
Empresas que estão ainda no modelo de Shareholder Capitalism, em que apenas a maximização do lucro e retorno aos acionistas é o que interessa, muitas vezes às custas da dor, sofrimento e até miséria dos demais stakeholders, não vão gerar um ambiente seguro para as pessoas desenvolverem um equilíbrio entre medo e amor.
Muito se tem falado sobre ESG, principalmente na busca de cumprir os três pilares. Devemos começar por uma Governança que garanta inclusão, diversidade, respeito, dignidade, significado, que tenha um propósito e valores que as pessoas se identifiquem. Para isso, as empresas têm que adotar o modelo de Stakeholders Capitalism, onde o foco não é a maximização do lucro, mas a busca pelo propósito alinhado a todos stakeholders. Desta forma o lucro será maximizado gerando riqueza e inclusão a todas as partes envolvidas.
Precisamos garantir a busca do equilíbrio entre o gerar inclusão e respeito às pessoas, cuidar do meio ambiente e gerar lucros sustentáveis.
Sim, está mais do que na hora de abrir o “armário corporativo” e deixar o “Cuidar e Amar” circular, tomando conta do ambiente da empresa. Os resultados serão muito melhores, pois pessoas que são amadas e amam o que fazem, são mais produtivas, resilientes e engajadas.
Vamos experimentar?