Como chegar lá: 5 conselhos profissionais de executivas negras brasileiras

Atualmente, apenas 3% dos cargos de liderança em empresas nacionais são ocupados por esse grupo

Hoje (25), comemora-se o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. A data relembra o  1º Encontro de Mulheres Negras da América Latina e Caribe, na República Dominicana, em 1992. Na ocasião, foi criada uma rede contra as opressões de raça e gênero.

No Brasil, por sua vez, a celebração só foi instituída em 2014, em homenagem à líder quilombola Tereza de Benguela. Conhecida como “a escrava que virou rainha”, ela comandou o maior quilombo do Mato Grosso, o “Quilombo do Piolho”, na década de 1740. Sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.

Já nos dias de hoje, a resistência permanece com outras faces e modelos. É o caso de mulheres negras que ocupam posições de destaque no mercado profissional brasileiro. Atualmente, segundo pesquisa da consultoria Gestão Kairós, apenas 3% dos cargos de liderança em companhias nacionais são ocupados por esse grupo. 

Entre as executivas que chegaram lá, estão nomes como Jandaraci Araujo, ex-diretora executiva do Banco do Povo e atual CFO da 99Jobs, ou ainda Luciene Malta Rodrigues, gerente de projetos do Mover e membro do Comitê de Diversidade Racial da Coca-Cola. 

À pedido da Elas Que Lucrem, essas e outras três executivas compartilharam seus conselhos profissionais para outras mulheres negras que almejam alavancar a própria carreira. Veja:

Carina Sucupira, engenheira de dados no time de canais digitais da XP Inc.

(Foto: Bruno Azevedo)

Mulher negra e lésbica, Carina é graduada em ciência da computação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).  Com mais de 13 anos de experiência na área de tecnologia, ela acredita que sua trajetória só fará sentido se conseguir impactar positivamente outros profissionais negros.

Conselho: “Acredito que ascender profissionalmente é um processo que demanda muito autoconhecimento. Por isso, a primeira dica é buscar ferramentas que desenvolvam esse entendimento para, a partir daí, criar metas e objetivos que façam sentido com o caminho que você deseja percorrer. 

Estude, mas estude sempre e estude muito, já que conhecimento ninguém nos tira. Também busque uma rede de apoio com outras mulheres negras, seja dentro da sua empresa ou fora – isso faz muita diferença no processo. Foque ainda em trabalhar em companhias  que encarem a diversidade como algo imprescindível, pois as chances de você ter a carreira alavancada serão maiores!”, diz. 

Jandaraci Araujo, CFO da 99Jobs  e conselheira de administração independente

(Foto: Divulgação)

Considerada a primeira mulher negra a ocupar um cargo de destaque em uma instituição financeira do país, Jandaraci Araujo iniciou sua jornada profissional como vendedora de salgados no trem. Foi só depois de conseguir um emprego em uma rede de varejo que sua vida mudou, fazendo com que ela se dedicasse ao mundo corporativo. Atualmente,  a executiva é chief financial officer (CFO) da 99Jobs, além de conselheira emérita do Capitalismo Consciente Brasil, conselheira consultiva do Instituto Tomie Ohtake e conselheira independente na desenvolvedora de software KunumiI.

Conselho: “Em primeiro lugar, é muito importante se preparar para ocupar posições de poder, além de construir uma rede de apoio e networking. Ter pessoas que te apoiam e te deem suporte para aguentar os desafios do dia-a-dia é essencial no caso das mulheres. Minha segunda dica é: estejam sempre preparadas e abertas às oportunidades. Não tenham medo de pedir e de se propor a pleitear posições que, de acordo com o senso comum, não seriam o lugar que você estaria. Todo lugar é um lugar onde a gente pode estar, afinal, somos nós que definimos qual é o topo. Além disso, não abra mão dos seus valores e propósito para estar em qualquer lugar. Se inspire em quem veio antes, porque ninguém anda sozinho e assim conseguimos chegar mais longe”, destaca. 

Luciene Malta Rodrigues, gerente de projetos do Mover

(Foto: Divulgação)

Criada no subúrbio carioca, Luciene Rodrigues é um dos exemplos de mulher negra que não se deixou limitar pelas barreiras sociais.  Formada em marketing e com MBA em ciências do consumo pela ESPM, ela acumula  passagens por grandes  empresas como Coca-Cola, L’Oreal e Itaú. Atualmente, a executiva atua como gerente de projetos no Movimento pela Equidade Racial (Mover) e participa do Comitê de Diversidade Racial da Coca-Cola. 

Conselho: “Tem basicamente três conselhos que eu gosto de seguir. O primeiro é  sempre se comportar mirando o próximo cargo que você quer alcançar – e não com a posição que você tem atualmente. Em seguida, mostre do que você é capaz e não dê ouvidos a síndrome da impostora que pode persistir em tentar aparecer nos momentos mais difíceis. Por fim, se tiver alguma situação inédita, que te cause receio: vá com medo mesmo! Não permita que nada te paralise”, afirma. 

Marta Celestino, CEO da Ebony English School

(Foto: Divulgação)

Com mais de 25 anos de experiência em multinacionais, Marta Celestino é CEO da Ebony English School, uma das instituições pioneiras no ensino de inglês com cultura negra.  Com a proposta de promover o empoderamento a partir do idioma, a rede utiliza como base a história e herança afro-americana. Atualmente, a escola já atende alunos em mais de 16 cidades do Brasil, além de estudantes internacionais.

Conselho: “Crescer profissionalmente para qualquer pessoa requer muito esforço, dedicação e especialização. Para mulheres, podemos multiplicar essa conta por três e, no caso das mulheres negras, por cinco. Assim, minha recomendação para mulheres negras que querem ascender na carreira é acompanhar política, economia e tecnologia diariamente. Isso dá subsídio para que tenhamos um feeling apurado e possamos nos antecipar a movimentos de mercado, alavancando nossa estratégia de negócios. Junto com isso, falem outros idiomas relevantes  e não tenham medo de inovar, revisitar objetivos e estratégias”, destaca. 

Viviane Elias, CPIO da 99Jobs

(Foto: Paulo Barros)

Com mais de 12 anos de experiência em resiliência corporativa, controles externos, gestão de riscos e continuidade nos negócios,  Viviane Elias é chief process & innovation office (CPIO) na 99 Jobs.  Atualmente, a executiva também é associada à Women Corporate Directors (WDC), além de integrante do comitê de ética e integrante da secretaria de transporte de Minas Gerais. Ao longo da carreira, a profisional ainda participou do Conselheira 101, primeiro grupo de formação de executivas negras para posições de conselho, assim como do Pactuá, rede de conexão de profisionais negros que visa aumentar a diversidade nas lideranças de empresas brasileiras. 

Conselho: “Pense sempre no poder do coletivo como uma forma de transformação social e geração de oportunidades para mais de uma mulher negra. Foque em tendências, nichos de tecnologia, inovação, governança corporativa e outros espaços no qual não vemos tantas representatividade, mas que demandam da nossa expertise e vivência. Também é importante focar em capacidades estudantis, habilidades técnicas e soft skills”, afirma. 

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