Consumo e Capitalismo Consciente: Afinal, consumir traz felicidade?

por Thaisa Bogoni para o Instituto Capitalismo Consciente Brasil

O sentido da vida para muitas pessoas está relacionado à satisfação material, experiências de consumo, como somos reconhecidos pelos que temos e como externalizamos isso para o mundo, numa permanente busca por aceitação e, consequentemente, felicidade.

O consumo é uma atividade econômica que caracteriza a relação do ser humano com bens, que ocorre pela compra ou utilização de produtos ou serviços. Consumir é, então, mais do que um ato de satisfação das necessidades humanas básicas para sobrevivência, pois pode ser permeado por uma série de significados. É também considerado um modo de classificar o indivíduo dentro da sociedade em que vive e pode ser um meio para o reconhecimento de muitos traços da personalidade de cada pessoa.

Consumo, logo existo?

Nosso comportamento como consumidores diz muito sobre quem somos: da decoração da casa, carros, roupas e produtos eletrônicos em geral, até a escolha de serviços e experiências, como os restaurantes e bares, eventos artísticos e culturais, passando também pela escola, academia, clube, igreja que frequentamos e o lugar escolhido para passar férias, tudo comunica nosso estilo, o que nos importa e interessa na vida.

Quando o consumo passa dos limites do que pode ser considerado saudável, ele é chamado de consumismo. Reconhecido como um mal da era moderna, a capacidade de consumo e o crédito são vistos como facilitadores para o alcance dos sentimentos de prazer, pertencimento e realização. Contudo, as compras por impulso podem trazer prejuízos não só no quesito material, com o acúmulo de despesas e dívidas, mas também no psicológico, gerando ansiedade, angústia, insatisfação e em casos mais graves, depressão e outras doenças relacionadas. 

Em algumas situações, o consumismo cria um círculo vicioso onde a pessoa acredita que precisa trabalhar mais, para poder comprar mais e assim alcançar mais status, estima e a tão sonhada sensação de felicidade. Porém, muitas vezes o resultado torna-se mesmo é um pesadelo, uma grande ilusão, pois o exagero e o acúmulo de bens criam uma inversão de valores e sensações efêmeras que logo se esvaem com a próxima necessidade de consumir, num looping infinito que torna a existência humana escrava da condição de sempre ter algo novo para satisfazer as necessidades do ego. Como resultado, não apenas a saúde mental da pessoa fica prejudicada, mas também a sua saúde financeira, seus relacionamentos, seu trabalho, sua rotina e todos os aspectos da sua vida.

Expectativa x realidade: o que está por trás de cada compra

No fim das contas, destacar-se perante a multidão acaba tornando-se uma busca um tanto quanto contraditória, visto que ao mesmo tempo isso significa encaixar-se em padrões estipulados pela sociedade. O sujeito é representado como objeto em diversas campanhas publicitárias e ações de marketing, quando personagens aparecem em situações em que, usando um produto ou serviço, tornam-se mais bonitos, inteligentes, descolados, fortes, rápidos, queridos e amados, num vale-tudo para despertar o desejo e a ilusão dos consumidores. Atletas, modelos, artistas, personalidades em geral e mais recentemente os influencers, são vistos em diversas situações, muitas delas fictícias e quase sempre romantizadas, defendendo e enaltecendo os atributos da marca que estão apresentando, criando a falsa sensação de que todos que consumirem da mesma forma, serão semelhantes, terão as mesmas qualidades, estarão num patamar de igualdade, pertencerão às mesmas bolhas sociais.

A grande questão para esta representatividade imaginária, apresentada diretamente em propagandas nas mídias e redes sociais ou indiretamente em novelas, séries, filmes, eventos e tantas outras situações seria: qual é o ganho real de cada compra além das expectativas? Cada lançamento e oferta encontram-se numa atmosfera repleta de símbolos, signos e significados que se sobressaem aos atributos físicos e materiais, o valor esperado vai muito além da realidade, do que se pode ver, tocar ou sentir em cada decisão de compra. Deste modo, o consumidor é moldado para ser influenciado levando em conta uma série de fatores subjetivos nas suas escolhas, corroborando para a mitificação de diversos aspectos na constante busca por uma vida plenamente feliz.

As consequências e impactos para além da compra

Outro ponto crítico do consumismo relacionado à constante insatisfação causada pelo acúmulo de bens é o descarte. Na sociedade dos consumidores, a durabilidade é desvalorizada e há constantemente uma celeridade para tornar as coisas velhas, obsoletas e defasadas. Sentir-se fora de moda ou desatualizado perante as inúmeras novidades e lançamentos diários que o capitalismo proporciona são os propulsores para o aumento do desperdício, onde as pessoas não pensam nas consequências dos seus atos além do seu próprio ganho, muito aquém de pensar no bem coletivo e na felicidade comum a todos.

Deixo aqui então a provocação: qual seria a medida do equilíbrio, que permita que o ser humano que utiliza o seu poder de compra para ser feliz, pudesse ao mesmo tempo contribuir para a prosperidade dos outros? Adquirir menos, repensar a forma de consumir, compartilhar bens, tempo e habilidades são atitudes que podem também colaborar para um mundo em que todos possam ter igual felicidade? E mais, é possível implementar estas mudanças dentro de uma sociedade capitalista?

Algumas luzes no fim do túnel

O consumo vem permeado de emoções e expectativas existenciais na busca constante de autoconhecimento e de um propósito para se viver. A busca pela felicidade é um exercício com diversas fontes e caminhos a serem seguidos, pois as pessoas pensam e agem de formas diferentes, influenciados por uma série de fatores, sejam eles econômicos, sociais, políticos ou culturais. Os diversos momentos da história e a atualidade já apresentam alternativas mais plausíveis do que esta felicidade paradoxal baseada no hiperconsumo. Os indivíduos mudam ao longo da vida, se adaptam às novas realidades, pelas boas ou más experiências que colecionam, pelo que aprendem e constroem ou pelas novidades que os cercam. Também os mais diversos setores da indústria já estão entendendo que as marcas que irão permanecer e progredir são aquelas que possuem um propósito que vai além do lucro. Os líderes destas empresas têm se organizado em várias frentes de atuação focados em fortalecer e espalhar esta crença, como já citei aqui anteriormente, o Instituto Capitalismo Consciente e o Sistema B são excelentes exemplos de iniciativas neste sentido.

Com tudo isso, é possível concluir que sociedade ainda pode ser remodelada sob uma nova ótica de prioridades (com um árduo trabalho pela frente e provavelmente com resultados palpáveis para as próximas gerações) de modo a criar um espaço em que a multiplicidade de sentidos para a vida e caminhos para a felicidade correspondam à proporção da pluralidade e potencialidades dos seres humanos. O que não significa, por qualquer razão, que a permanente busca pelo sentido da vida deixará algum dia de ser um dilema e terá um prazo para acabar. A cada nova escolha, é possível ir além e contribuir inclusive para a prosperidade de todos e a regeneração do meio ambiente, criando também um sentido mais ético e nobre para a vida, deixando um legado com impactos positivos que irão além da sua própria existência. Cabe a cada um de nós refletir sobre nossas atitudes e comportamentos, sendo o consumo mais consciente e menos impulsivo um fator relevante, viável e satisfatório na construção de um sentimento mais real e duradouro que possa significar felicidade.

Thaisa Bogoni é mãe do Otto, esposa do Diogo, curitibana que recentemente mudou de João Pessoa para Belo Horizonte, feminista integrante do Projeto LIS e yogi na horas vagas. Publicitária, especialista em Marketing e Gestão de Projetos com mais de 15 anos de experiência no mercado, atuando em diversos segmentos como educação e tecnologia. Apaixonada pela área de comportamento do consumidor, dedico minhas pesquisas à pauta do consumo consciente e moda sustentável. Conselheira do Instituto Capitalismo Consciente Brasil na filial Nordeste, busco contribuir com a expansão, ações e parcerias da região.

Fonte original da publicação: https://www.paraibatotal.com.br/2022/09/15/thaisa-bogoni-afinal-consumir-traz-felicidade/

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