Consumo e Capitalismo Consciente, por Thaisa Bogoni: O lado B que gera impacto positivo

Conheça o Sistema B e a certificação que agrega na pauta do consumo consciente

Neste segundo artigo da coluna decidi trazer como tema mais um dos pilares do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB) e uma descoberta que fiz recentemente ao iniciar minha participação como conselheira na Filial Nordeste: o Movimento B.

Numa das nossas primeiras reuniões mensais, Marcos Queiroz, colíder da nossa filial, compartilhou conosco a novidade da Certificação do Sistema B para a Refazenda, empresa de comportamento que se comunica por meio de produtos sustentáveis e de alto valor agregado, na qual ele é diretor de soluções. Na ocasião todos lhe parabenizaram muito e logo entendi que se tratava de uma importante notícia, por isso decidi entender melhor do que se tratava e assim então conheci a B Lab, organização consolidada a nível global, que teve início em 2006 nos Estados Unidos e já está presente no nosso país e na América Latina desde 2012 com oSistema B Brasil

A virada para o lado B

Criado com o objetivo de incentivar empresas a fomentar em seus negócios o bem-estar da sociedade e do planeta, além do sucesso financeiro, o Movimento B reúne líderes de empresas que se envolvem em questões que visam o crescimento da economia de modo mais equitativo, inclusivo e regenerativo, promovendo também benefícios para as comunidades em que estão inseridas e o meio-ambiente.

Através de padrões e políticas estabelecidas dentro deste contexto, o Sistema B cria e oferece ferramentas e programas de apoio às empresas que entendem sua responsabilidade perante as mudanças necessárias para mitigar os graves problemas que assolam hoje a humanidade, como a crise climática, o desperdício e mau uso de recursos não renováveis e a desigualdade social. 

As contribuições dos protagonistas

O Movimento B apoia as empresas na criação dos processos, procedimentos e demais ações que permitam que esta atuação possa ser documentada e auditada para reconhecimento de todos os stakeholders, construindo assim a desejada prosperidade de forma compartilhada e durável para todos. 

E para apresentar mais detalhes de como se tornar uma empresa B Certificada e assim encarar este desafio de alinhar o discurso à prática da liderança consciente, convidei duas pessoas para compartilharem suas experiências como atores desta empreitada. A primeira é a Bruna Hirszman, Gerente de Relacionamento do Sistema B Brasil:

Thaisa: Quais são as iniciativas do Sistema B no Brasil para incentivar empresas a conhecerem o movimento e buscar a certificação? Como costumam divulgar suas ações, eventos e iniciativas?

Bruna: A educação do consumidor, do investidor, do acionista, do colaborador, enfim de todos os stakeholders da atividade empresarial sobre o rigor e a credibilidade da certificação B é uma agenda priorizada pelo Sistema B. Incentivamos que todas as empresas conheçam seu próprio impacto através do uso da ferramenta B Impact Assessment, que é on-line, gratuita e confidencial. Não faz parte da estratégia do movimento incentivar a certificação das empresas. Esta acaba sendo um processo natural quando a empresa se percebe madura suficiente em termos de sustentabilidade, priorizando o impacto positivo na sua cadeia de valor.  

Divulgamos as nossas causas de Justiça Climática e Social e Governança de Stakeholder com frequência e amplitude nos diversos meios de comunicação. 

Thaisa: Qual o 1º passo que uma empresa interessada em se tornar B certificada deve tomar? Quais são as etapas e quanto tempo leva o processo completo?

Bruna: O 1º passo é conhecer e preencher o B Impact Assessment. Recomendamos assistir a live mensal realizada pelo Sistema B Brasil “Como ser uma Empresa B.l, que pode ser a oportunidade para conhecer o processo de certificação e tirar dúvidas. A ferramenta é online, gratuita, confidencial e em todos os idiomas onde o Movimento B atua. O número de etapas depende do porte e estrutura jurídica da empresa.  O tempo médio é de mais ou menos 1 ano para conquistar a certificação, e existe uma sobrecarga de capacidade global para esta avaliação, devido ao aumento exponencial de empresas interessadas em se certificar. Existem programas de facilitação para auxiliar e apoiar as empresas a preencher a avaliação de impacto oferecidos pelo Sistema B Brasil.

A ferramenta de avaliação é gratuita para quem quiser utilizá-la somente como um sistema de gestão de impacto. A partir do momento que a empresa se certifica, ela passa a pagar uma anuidade de acordo com seu faturamento anual. 

Thaisa: Quando uma empresa tem conhecimento do processo completo para conquistar a certificação e compreende que não tem todos os pré-requisitos necessários para avançar, como o Sistema B pode apoiá-la para realizar as devidas adequações?

Bruna: Apoiamos com os programas de facilitação, como o Caminho +B. Sugerimos também olhar para outras empresas do seu setor, analisar os relatórios de impacto delas e identificar as lideranças e referências das empresas que já estão trilhando este caminho a mais tempo.

Thaisa: Como o Sistema B atua no dia a dia das empresas certificadas para apoiá-las no desenvolvimento e na evolução de lideranças mais conscientes? 

Bruna: As empresas B Certificadas são protagonistas da nova economia e o Sistema B apoia a amplitude de suas vozes como pioneiras na agenda de sustentabilidade fundamental a saúde ambiental e social do planeta. Apoiamos com:

Desenvolvimento de ações coletivas alinhadas às nossas causas (exemplo Net Zero, Movimento Antirracista), incentivando que as empresas B se prestigiem e se relacionem para fortalecer a rede e criar este lugar de protagonismo de impacto positivo;

Rodadas de negócios;

Fóruns de conexão;

Diversas ações coletivas setoriais como as Gôndolas B;

Thaisa: O que as empresas B possuem como benefícios ao serem certificadas e como sua atuação é acompanhada pelo Sistema B Brasil? O certificado é revisado periodicamente?

Bruna: Os benefícios de ser uma empresa B são:

Melhoria na gestão e governança – Avaliação de Impacto B, que apoia o plano de desenvolvimento contínuo de práticas; Vínculo da responsabilidade fiduciária com impacto positivo; Cláusulas B.

Atração de Talento – 77% da geração milênio busca propósito de impacto positivo em sua carreira – Deloitte Millennial Survey.

Ser parte de uma comunidade de líderes – Ao se tornar Empresa B, a empresa passa a compor uma comunidade que compartilha uma visão comum, de troca e fortalecimento mútuo. 

Diálogo com ESG – Métricas críveis, comparáveis e verificáveis de impacto social e ambiental.

Posicionamento – Sinalização para fornecedores, colaboradores, investidores e consumidores.

Construir Confiança, Credibilidade e Valor da Marca – Com funcionários, clientes e outras partes interessadas. 

As empresas se re-certificam de 3 em 3 anos e podemos citar como case a Reserva, que acabou de passar por este processo com excelente resultado.

Thaisa: Como o Sistema B se conecta com o Instituto Capitalismo Consciente Brasil?

Bruna: Entendemos que são organizações parceiras e complementares, pois buscam o mesmo propósito de uma nova economia.

Thaisa: Na prática, como as empresas do Sistema B podem usufruir da certificação para se diferenciar no mercado em que atuam?

Bruna: Para o público externo, as empresas que trabalham com produtos expõem a logo da certificação B em seus produtos, de modo que o mesmo seja visível para o consumidor final em seus marketplaces. Alguns pontos de vendas possuem inclusive Gôndolas B para destaque dos produtos certificados. Também divulgam o selo nos seus canais de comunicação (redes sociais, site, blog etc.). 

Para o público interno, as empresas promovem várias formas de sensibilizar stakeholders sobre a certificação e promover a conscientização da importância do mesmo, o que contribui para retenção de talentos, a valorização e manutenção de bons funcionários e fornecedores. Também apresentam relatórios com resultados para atuais e possíveis investidores, que valorizam e priorizam as empresas B certificadas. 

Thaisa: Como uma consumidora que busca ser mais consciente em suas decisões de compra, como eu faço para encontrar ou saber que uma empresa é B certificada?

Bruna: no site há uma relação com todas as empresas B certificadas e um campo de pesquisa onde é possível filtrar as informações por Setor de Atuação, País ou Região. Em breve divulgaremos um anuário bem completo. Nas redes sociais, os cases das empresas também são constantemente divulgados e frequentemente somos pauta em mídia espontânea com alguns dos veículos de comunicação mais relevantes do país.

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A segunda entrevista foi realizada com o próprio Marcos Queiroz, Diretor de Soluções na Refazenda, contando a experiência da recente conquista da certificação. Confira:

Thaisa: Como a Refazenda conheceu o Sistema B?

Marcos: Fiquei sabendo sobre o sistema B por meio da Patagônia, famosa marca de roupas americana. Em 2015 eu estava interessado em comprar um casaco desta marca, que já admirava muito, então entrei no site para saber mais a respeito e vi que a mesma era uma “Empresa B”. Aí fiquei curioso e fui pesquisar mais no Google sobre o que seria isso, assim descobriu que já existia o Movimento B no Brasil, ligado ao B Lab Internacional, e soube como seria possível se tornar uma empresa com o Selo B.

Thaisa: Quais foram os principais desafios para conquistar a certificação?

Marcos: Os principais desafios como empresa de pequeno porte, que nós somos, foi ter normas e procedimentos formais e registrados para tudo que a gente faz. Sabemos que normas e procedimentos são práticas de empresas de médio e grande porte, que vão se tornando robustas e precisam então registrar tudo que fazem e como fazem. Nós já tínhamos isso no nosso DNA, e achávamos que isso era o suficiente, então não tínhamos normas e procedimentos estruturados formalmente para tudo. Assim, este foi o nosso principal desafio, criar e colocar em prática estes processos na rotina da Refazenda.

Thaisa: O que a conquista da certificação do Sistema B significa para o presente e futuro da Refazenda?

Marcos:A certificação de cara chancela algo que nós já fazemos há 32 anos, abre portas porque a gente não precisa “contar tanta história”, pois quando as pessoas que se interessam pela nova economia olham o Selo B já entendem qual é a essência da empresa, o que ela realmente é e faz. Além disso, a conexão com outros negócios B no Brasil e no exterior. Por exemplo, no momento estamos nos organizando para realizar intercâmbio de vendas com empresas da Inglaterra, do Canadá e do Peru. E por último, mas não menos importante, a questão da atratividade para investidores, pois sabemos que existem empresas olhando atentamente para o ESG, mas que querem uma comprovação da atuação nestes pontos, e deste modo o Selo B está abrindo portas para que a Refazenda capte investimentos, que é uma necessidade da empresa atualmente, tanto para se manter quanto para olhar para o futuro.

Thaisa: Como um líder consciente, quais dicas/ sugestões você daria para outras empresas que têm interesse ou já estão se preparando para conquistar fazer parte do Sistema B?

Marcos: A primeira dica é conhecer a fundo o Movimento B e o que ele representa no mundo. Depois seria entrar no Be Assessment, que é a plataforma do Sistema B, onde você faz o raio X, e inicia a avaliação, que é gratuita. Neste momento, boa parte das empresas que iniciam a avaliação desistem no meio do caminho, porque percebem que é um processo bem trabalhoso, ou seja, é o momento que muitas percebem que não adianta apenas ter o discurso, mas quando chega a hora de mostrar sua atuação na prática, não consegue se dedicar o suficiente e evoluir. Já ouvi isso de muitos empreendedores, que o processo de avaliação que a ferramenta oferece é muito denso para chegar ao nível de se obter a certificação. Por último, minha dica é estar atento, olhar e entender o que seria esta nova economia. Antigamente a gente olhava para certificações como ISO, Great Place to Work e outras tantas, mas entendo que ser uma empresa B certificada é algo muito mais completo, porque avalia as esferas relacionadas a pessoas, normas e procedimentos, meio ambiente, trabalhadores, clientes e fornecedores. Então entendo que não é questão de lei, mas de mercado, pois já existem muitos investidores olhando para o Selo B como uma chancela, entendendo que vale a pena ter um olhar especial para as empresas que são certificadas.

Atuações complementares, não concorrentes

Após esta imersão para conhecer melhor o Sistema B, compreendi que a busca por gerar impacto positivo, com processos de produção e outras práticas sustentáveis, estava alinhada aos objetivos do Capitalismo Consciente, que também atua visando reformular as estruturas do nosso sistema econômico, com negócios mais conscientes, que possuam um propósito maior, além do lucro, como razão de existir, no momento do despertar das lideranças para este caminho em que as empresas devem estar focadas em gerar valor intelectual, físico, ecológico, social, emocional, ético e até mesmo espiritual a todas as partes interessadas do negócio.

Concluo este artigo com a certeza de que esta conexão entre organizações que encorajam a liderança consciente por meio de atitudes que gerem mudanças, pode não ser apenas fonte de inspiração, mas também quebrar paradigmas na nossa atual sociedade capitalista, pois promovem ações concretas com grande sinergia, que aproveitadas ao máximo, com troca de experiências, boas práticas e conhecimento, podem agregar diversos benefícios nas operações das empresas, e consequentemente incremento nos seus resultados.

E como conselheira do Instituto Capitalismo Consciente Brasil na Filial Nordeste, aproveito para explicar como funciona o nosso programa especial de associados. São oito categorias com benefícios exclusivos para pessoa física ou jurídica. Diferentemente do Sistema B Brasil, não é uma entidade certificadora, mas também acolhe empresas que desejam ampliar sua consciência para gerar um impacto positivo maior em nossa sociedade. Todos os associados contribuintes assinam uma declaração de apoio ao ICCB. Para acessá-la e conhecer todas as contrapartidas pertencentes a cada categoria de associação, clique aqui.

Sobre Thaisa Bogoni

Mãe do Otto, esposa do Diogo, curitibana que recentemente mudou de João Pessoa para Belo Horizonte, feminista integrante do Projeto LIS e yogi na horas vagas. Publicitária, especialista em Marketing e Gestão de Projetos com mais de 15 anos de experiência no mercado, atuando em diversos segmentos como educação e tecnologia. Apaixonada pela área de comportamento do consumidor, dedico minhas pesquisas à pauta do consumo consciente e moda sustentável. Conselheira do Instituto Capitalismo Consciente Brasil na filial Nordeste, busco contribuir com a expansão, ações e parcerias da região.

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