A maioria dos negócios nascem conscientes (mesmo sem ter consciência disso). Geralmente, há a intenção de gerar algo melhor para si e que impacte positivamente suas relações. O propósito e a visão refletem o desejo de fazer algo bom e significativo para o mundo e é isso que atrai os sócios, colaboradores e investidores.
No entanto, quando a empresa cresce, os fundadores que têm o DNA da marca contratam outros executivos para expansão. É nesse momento que a cultura se desconecta da sua essência. Atraem profissionais focados em resultados de curto prazo. A velha economia ganha-perde corrói a cultura.
Como é uma cultura consciente?
Quando os negócios são liderados por pessoas impulsionadas pelo propósito evolutivo da empresa, criam um ambiente corporativo mais humanizado e seguro psicologicamente. Assim, o time cria valor para todos os stakeholders. Confiança, paz, felicidade, respeito e solidariedade são vivenciadas e alavancam feitos de impacto para sociedade.
Assim é uma Cultura Consciente. A empresa torna-se um agente transformador na sociedade através de pessoas que agem orientadas pelos valores organizacionais para além da própria empresa. É possível perceber que as relações são mais prósperas a partir do olhar dos diversos stakeholders:
Colaboradores: Engajados, motivados, inspirados e saudáveis;
Clientes: Altamente leais e confiantes;
Fornecedores: Comprometidos e parceiros;
Comunidades: Prósperas e acolhedoras;
Meio Ambiente: Regenerativo no presente e para as gerações vindouras;
Investidores: Desempenho financeiro mais rentável a longo prazo
Cultura: Responsável, com valores norteadores de decisões estratégicas e vivenciados no cotidiano corporativo e seus rituais.
Como integrar esta variedade de perspectivas e validá-las à luz de nossos esforços individuais e coletivos para a construção de soluções?
A abordagem da Teoria Integral é oportuna e pode nos apoiar neste desafio. Tem como objetivo integrar os insights importantes de todas as principais disciplinas do conhecimento humano, para sermos pessoas mais plenas nesse mundo de pluralidades. Um mapa composto de cinco elementos simples e profundos, que nos norteiam e apoiam para a ampliar a percepção daquilo que se manifesta.
Um dos elementos que compõem este mapa são os Níveis de Consciência aos quais evoluímos ao longo da vida. Segundo a Teoria do Espiral da Consciência, nós todos nascemos num primeiro nível que é bem preso na centralidade de nosso ser – no “Eu” e na nossa subsistência, e vamos evoluindo ao longo da vida no caminho de uma abertura em relação ao “Todo” – das relações e em conexão com o universo. Em outras palavras, o desenvolvimento moral tende a passar de “eu” (egocêntrico), ao “nós” (etnocêntrico), até “todos nós” (globocêntrico) – para incluir um cuidado e preocupação para com todas as pessoas, independentemente de raça, sexo, cor ou credo, da interdependência de todos os seres e também com o planeta.
Uma organização que caminha no desenvolvimento de sua consciência integrará e não excluirá as multi-perspectivas de seus stakeholders.
Como reconhecer se o caminho é certo? Para onde as tendências estão apontando?
De acordo com o Edelman Trust Barometer 2020, uma pesquisa conduzida pela empresa Edelman, 64% dos entrevistados acreditam que as empresas devem fazer mais do que simplesmente obter lucro. Além disso, 71% dos entrevistados defendem que as empresas devem ser uma força para o bem na sociedade. Já a pesquisa de 2021, apontou que 86% esperavam que os CEOs abordassem publicamente desafios sociais, tais como impactos da pandemia, automação dos postos de trabalho e problemas de comunidades locais.
Um artigo da Forbes de 2020 sobre consumo consciente apontava que existiam naquela data 3.200 empresas certificadas B em todo o mundo, empresas que se alinharam legalmente para equilibrar propósito e lucro (atualmente 5.837). O mesmo artigo citava um dado da Nielsen de um aumento de 20% nas vendas de produtos sustentáveis nos EUA desde 2014, e os boicotes às marcas não sustentáveis se espalhando regularmente de forma viral pelas redes sociais em todo o mundo.
Essas tendências sugerem que o capitalismo consciente está se tornando cada vez mais importante para os consumidores e provavelmente continuará ganhando força no futuro. As empresas estão, paulatinamente, reconhecendo os benefícios de se criar uma cultura consciente, e seu foco crescente na responsabilidade social corporativa provavelmente as levará a adotarem os pilares do capitalismo consciente.
Como promover uma cultura mais consciente na sua empresa?
Tudo aquilo que se manifesta tanto nos campos subjetivo e objetivo, que podemos elencar como valores, relacionamentos, emoções coletivas, moral, assim como artefatos, processos, sistemas, regras, políticas e estruturas fazem parte da cultura de uma organização. Uma cultura se expressa de forma consciente quando se pode:
- Ter consciência de que este novo modelo requer uma mudança de mentalidade, bem como o compromisso de se alinhar a cultura e as operações da empresa com um propósito maior.
- Uma mudança de foco de lucros de curto prazo para sustentabilidade e impacto de longo prazo.
- Ter uma declaração de missão orientada por propósitos que reflita os valores e objetivos da empresa.
- Se concentrar em criar um ambiente de confiança e colaboração, bem como promover uma cultura de respeito e valorização para todas as partes interessadas.
- Investir cada vez mais no treinamento e desenvolvimento dos colaboradores, criar canais de comunicação abertos e honestos, cultura de feedback e oferecer opções de trabalho flexíveis.
- Criar um senso de propósito e significado no trabalho dos colaboradores.
- Avaliar regularmente o impacto das iniciativas implementadas e se esforçar continuamente para melhorá-las.
Uma jornada desafiadora, mas possível…
Não existem regras rígidas e rápidas para criar uma cultura consciente, e cabe à empresa determinar o que funciona melhor para ela e seus stakeholders. Pesquisas já comprovam que as empresas que adotam o capitalismo consciente são mais preparadas para criar valor de longo prazo para todas as partes interessadas e construir uma marca forte e resiliente.
Fazer benchmarkings e afiliar-se a estruturas como do ICC Brasil, Sistema B e ter coragem de ouvir os stakeholders como na Pesquisa Humanizadas, propiciam uma visão mais profunda e mais sistêmica do contexto empresarial e possibilidade do amadurecimento individual e coletivo.
Criar uma cultura consciente dentro da organização é uma tarefa desafiadora, demanda comprometimento, tempo, investimento, reinvestimento, dedicação e muita resiliência na construção de alinhamentos e parcerias com todas as partes envolvidas no negócio para fazer acontecer.
Como diz o final do Manifesto B “…se não agora, quando? Se não nós, quem?”
Referências:
Capitalismo consciente: como libertar o espírito heroico dos negócios – John Mackey e Raj Sisodia
https://www.edelman.com/trust/2020-trust-barometer
https://www.gcu.edu/blog/business-management/case-studies-conscious-capitalism-companies
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