Desmistificando Propósito, Missão, Visão e Valores

O processo de amadurecimento do ecossistema empresarial e do País como um todo depende do despertar da consciência para nossa interdependência e nossa importância (e responsabilidade) neste sistema. Entender, com clareza, nosso Propósito, Missões, Visão e Valores é premissa para entender nossos pontos de contato com outras pessoas e organizações. Neste texto, que não é curto mas é lúdico, utilizo uma estrada como metáfora para colocar de forma prática, cada um destes elementos.

O início da jornada

Desde nossa primeira inspiração, seguida por um profundo choro de sofrimento, por deixar o útero que nos protegia, damos nossos primeiros passos na Estrada da Vida. A únicas certezas que podemos ter são: (i) que um dia encerraremos nossa caminhada e (ii) que a estrada continuará lá para que outras pessoas a sigam percorrendo. Neste meio tempo, para honrar a vida com a qual fomos brindados, devemos ser importantes. Importantes em nossas famílias, em nossos relacionamentos, em nossa profissão e também no mundo.

O despertar para o propósito

Meu despertar para o propósito aconteceu em 2018, um ano após o falecimento de meu pai, quando comecei sentir necessidade de entender qual era o fio condutor que ligava tudo aquilo que me energiza a alma e me fazia verdadeiramente feliz.

A principal ferramenta que usei nesta busca foi o livro IKIGAI. Durante quase seis meses de intensa construção e desconstrução de ideias e pensamentos, consegui entender meu propósito de vida: Tocar o coração das pessoas para que elas evoluam e sejam mais felizes.

A pergunta que não queria calar era: será que é isso mesmo? Será que este é meu propósito? A confirmação veio através de uma ponderação simples sobre tudo aquilo que me deixava verdadeiramente feliz. Amo cozinhar para outras pessoas e isso é um ato de amor. Adoro fotografar e faço isso por mim, mas também para sensibilizar outras pessoas. Enveredei profissionalmente pela área de comunicação, que envolve estabelecer uma relação com uma determinada audiência. Por fim, adoro contar e ouvir histórias, que é a forma mais ancestral que temos de nos conectar com outro ser humano. Todas essas atividades envolvem tocar o coração de outra pessoa e, verdadeiramente, me energizam a alma. O caminho é este mesmo, estou no rumo certo.

Na Estrada da Vida, o propósito é um ponto no horizonte. É o norte da bússola. Nós nunca chegaremos no horizonte, tampouco no famoso “norte”. Propósito é orientação de ação, de escolhas. Deve ser praticado todo santo dia. Descobrir o propósito nos permite entender nossa motivação para levantar da cama todos os dias. Passamos a fazer nossas escolhas com mais consciência e, na Estrada da Vida, sabemos para onde estamos indo.

Nossas missões e nossos papéis

Acredito que tudo no mundo funcione com base em ciclos. Ciclos biológicos, sociais, fisiológicos, emocionais, dentre outros. O que define um ciclo? É algo que inicia-se, desenvolve-se e encerra-se para dar vez ao início de um novo ciclo.

O avançar pela Estrada da Vida, ao meu ver, também acontece por ciclos. Imagine que a missão é um trecho da estrada que devemos percorrer. A cada missão, uma determinada etapa desta estrada é vencida. Com base nessa premissa podemos dizer que não temos apenas uma missão na vida, temos várias. Entendo que as missões estejam conectadas aos papéis que desempenhamos na vida. Por exemplo: como estudantes, devemos passar pela educação básica. Como profissionais, devemos nos desenvolver e desenvolver as organizações para as quais contribuímos. Como pais, devemos zelar e educar nossos filhos.

O avançar pela estrada, através das muitas missões e papéis que escolhemos ter, deveria acontecer sempre em direção ao propósito. Nesta via, cabe a nós escolher em qual direção seguir sempre que uma bifurcação se colocar à nossa frente. Quem vai nos ajudar a decidir o melhor caminho é o propósito. 

Visão o planejamento a curto, médio e longo prazo

Imaginemos uma expedição pelas Américas começando no extremo sul chileno e terminando no gélido norte canadense. Não basta estipular uma data para chegar ao Canadá, temos que pensar em todo o trajeto até lá. Não queremos estar no sul da Argentina quando estiver no pico invernal assim como seria melhor evitar a época de chuvas para cruzar a região amazônica. Isso é visão! É ter clareza de onde queremos estar em cada etapa da jornada.

Neste racional, estamos falando de várias escalas temporais. Exemplificando: saber onde queremos chegar a longo prazo, nos orientará a quais caminhos escolher. A médio prazo, nos ajudará a decidir nossas paradas e pernoites. A visão de curto prazo também é importante na expedição, pois ela é quem vai nos dizer qual é nossa autonomia de combustível e em qual ponto devemos reabastecer. Entender a complementaridade dessas escalas de tempo, quando falamos em Visão, é essencial para que possamos fazer planejamentos e escolhas mais conscientes na Estrada da Vida. Negligenciar a visão, em qualquer escala de tempo, pode comprometer toda a jornada.

Valores para evitar acidentes

Construímos nossos valores ao longo da vida e, em especial, durante nossa infância e adolescência. É claro que eles podem ser refinados ao longo da vida ao estabelecermos relações com outras pessoas. São nossos valores que nos influenciarão no modo de agir e comportar mediante a uma situação. Geralmente o que fazemos, quando não há ninguém nos observando, é o que realmente está ligado aos nossos valores.

Na Estrada da Vida, os valores são aquelas defensas metálicas que ficam nas laterais da estrada (guardrail). Temos liberdade, nesta estrada, de mudar de faixa e escolher nossa velocidade. Mas se ultrapassarmos nossos valores (a proteção da estrada) nos colocamos em situação de perigo podendo sofrer um acidente. Nossos valores balizam o progresso de nossa missão. De certa forma, esse limites também nos ajudam a escolher quais caminhos percorrer. A ponderação do risco dos caminhos que escolhemos é mediada por nossos valores.

Imagine um dia de neblina em que você está na estrada e não consegue ver os limites laterais dela. Fica muito fácil sair da via. É isso que acontece quando não entendemos ou quando desconhecemos nossos valores. Nunca sabemos nossos limites morais em relação às ações que executamos e às escolhas que fazemos ao longo da jornada.

Integridade para ser quem verdadeiramente somos

Há um aspecto no sentimento de alegria que é muito singular e conversa, também, com outros sentimentos como paz e plenitude: a alegria de poder SER quem você realmente É. A reflexão colocada é: Como posso ser eu, se não sei exatamente quem sou? É aí que entra em cena a sinergia criada a partir do Propósito, Missão, Visão e Valores: somos o resultado de todos estes elementos juntos.

Então, para sermos mais felizes, termos mais clareza sobre quem somos, o que queremos e para onde estamos indo, é imperativo que façamos um mergulho nestes quatro aspectos. Existem muitos caminhos para que isso aconteça: terapia, leitura, rede de apoio, mentores, ferramentas de autoconhecimento, dentre outros.

Desvios acontecem e rotas podem ser corrigidas

É muita ingenuidade esperar que a Estrada da Vida não sofra desvios ou que não façamos algumas curvas erradas. Somos humanos, imperfeitos por natureza. Quem nasce pronto é geladeira e fogão. Nascemos imperfeitos e vamos nos fazendo ao longo da jornada. Aprendemos (ao menos deveríamos aprender) todos os dias de nossas vidas. Geralmente, alguns sentimentos ou questionamentos podem nos indicar se precisamos olhar com mais carinho para o Propósito, Missão, Visão ou Valores. Listo alguns deles:

“Está faltando sentido para a vida”

“Sei para onde quero ir, mas não sei o que fazer”

“Sinto que o timming da minha vida está errado”

“Sinto que estou na direção correta e fazendo o que é necessário. Me incomoda o jeito como tenho feito essas coisas”

No fim, basta sermos importantes

Todo processo que envolve olhar para si é delicado e deve ser encarado com muita atenção, carinho e cuidado. Tudo que está dentro de nós foi colocado alí por uma razão, mesmo que esta razão não seja mais válida hoje em dia. Somos uma mesma pessoa com muitos papéis. No entanto, nunca somos a mesma pessoa um dia após o outro. Estamos evoluindo, aprimorando e mudando o sistema onde estamos inseridos num sistema de retroalimentação. A interdependência vem exatamente neste ponto: a cada contato com uma pessoa ou uma experiência, nos tornamos um novo ser e modificamos nosso entorno.

Retomo o ponto inicial do texto ao reforçar que devemos ser importantes. Importantes para nós mesmos e importantes para todo o ecossistema. Este valor compartilhado não se cria na chegada da jornada, ele se cria ao longo do caminho que percorremos. Cuide de você, cuide dos outros e cuide do planeta.

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Gabriel Monteiro é Coordenador de Expansão Nacional no Instituto Capitalismo Consciente Brasil, Biólogo Mestre em Oceanografia Biológica, especializado em Jornalismo Científico e Empreendedorismo de Impacto Social. Também é amante do mar, da gastronomia e da enologia.

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