É necessário conversar com a nossa consciência

Estamos vivendo um dos períodos mais complexos da humanidade e, mesmo não tendo vivido tanto assim, creio que, infelizmente, não estou errado na minha afirmação. Minha impressão é a de que alguém, em alguma parte do Universo, resolveu colocar uma equação de grau infinito para ser resolvida por nós, habitantes de um grão de areia no Universo.

Essa equação apresenta efeitos que podemos ver, sentir e presenciar com os nossos olhos e sentimentos, e nos obriga a tomar decisões contra um tempo cada vez mais escasso. Presos e convivendo numa gigantesca estrutura chamada de Planeta Terra, já pensamos em sair para outros planetas, uma vez que não estamos dando conta de resolver essa equação por aqui. Mas, mesmo que seja possível, não será para muitos e, para os possíveis felizardos, vai levar tempo. Tempo esse que talvez não seja suficiente para a mais moderna medicina ser capaz de prolongar a vida dos primeiros candidatos a fugitivos da Terra para participarem de tal feito.

O cardápio de variáveis que compõem a equação complexa a resolver e que nos brinda o Universo inclui, entre outros: mudança climática, falta de comida para todos, perda contínua da biodiversidade, extinção de animais, mudança no uso do solo, consumo exacerbado e inconsequente dos recursos, falta de água potável e saneamento para todos, distribuição de riqueza desigual e injusta, transformação química do planeta, detritos e lixo por todas as partes, ar irrespirável em várias partes do mundo, racismo, intolerância a controvérsia etc. A lista de variáveis da equação tende ao infinito.

Aparentemente, a faixa de tempo em que estamos vivendo – que não representa nada frente à idade da nossa casa chamada de Planeta Terra, com seus 4.54 bilhões de anos de idade – está concentrando e potencializando os efeitos nocivos. Nossa inteligência para criar e transformar, que deveria ser uma virtude, está jogando contra a nossa capacidade de resolver os problemas que nós mesmos criamos.

Com uma inteligência sem limites para produzir novidades, criamos um descompasso com o que o Planeta está preparado para regenerar ou assimilar. De seres minúsculos – quando comparados com a magnitude da casa onde vivemos – passamos a ter o poder de modificá-lo, talvez, para sempre.

Nossas ações, tomadas a uma velocidade incontrolável e sem limites, está rompendo o equilíbrio que um dia existiu e que a cada dia fica mais insustentável. Vivemos e consumimos os recursos de nossa morada de uma forma infinita quando, na verdade, os recursos são finitos.

Desde que nascemos, somos incentivados e motivados a consumir para alcançar uma sensação de felicidade. Passamos a associar um sentimento que é abstrato e não necessita de apoio material, a algo físico. Quando consideramos que já somos 8 bilhões de habitantes no Planeta e seremos 11 bilhões até 2100, a conta do consumo que já não fecha se tornará ainda mais dramática.

Se compararmos a situação do Planeta a “equações com uma variável”, ou seja, uma única solução, e incluirmos nessa equação a questão da mudança climática a resolver, a equação assume um grau de complexidade muito alto, porque se manifesta de diferentes formas ao redor do mundo e, claramente, não temos uma solução que seja de consenso global.

Os distintos estágios de desenvolvimento que encontramos ao redor do mundo, fazem de qualquer variável a resolver um exercício gigantesco de discussões e alternativas que possam contemplar as enormes diferenças que criamos ao longo do tempo, e que temos potencializado pela nossa incapacidade de entender que somos todos habitantes do mesmo Planeta.

Interligados minimamente pelo ar e mar, seguimos pensando e agindo como se não fizéssemos parte de um mesmo ecossistema. Mas, refletindo sobre a complexidade das variáveis a resolver, observo que talvez a mais importante seja o próprio ser humano. Grande parte ou quase a totalidade das complexas variáveis da equação a resolver estão direta ou indiretamente relacionadas ao ser humano.

Importante notar que faço clara alusão ao ser humano na primeira pessoa. Não estou citando países, as Nações Unidas, empresas, governos ou qualquer outra forma de associação de seres humanos. Considero que, claramente, a responsabilidade indelegável da solução dos complexos problemas que enfrentamos deve ser atribuída, sem nenhuma dúvida, a cada um de nós, na pessoa física e individual. Sem que possamos olhar para os lados e buscar outros responsáveis, necessitamos assumir nossa parte na solução dos problemas.

Estamos acostumados a delegar a terceiros, sejam eles quem forem, a solução dos problemas mais complexos de nossas vidas e, por vezes, até mesmo os problemas individuais. Como num passe de mágica, resolver problemas como a fome, miséria, falta de água e mudança climática deve ser atribuída a outro ser, desde que não seja eu, na primeira pessoa.

A meu ver, os efeitos a que me referi no início do artigo estão nublando e confundindo nossa capacidade de ver que seremos nós, seres humanos, em fração individual, a chave da solução.

De forma alguma creio que, individualmente, teremos condições de resolver a equação, mas se não estiver claro para nós mesmos que somos parte da solução, ou ela não se dará ou tardará até que não teremos mais chances de reverter as alterações que já estamos observando no planeta e em nossas vidas.

Estamos buscando delegar, de todas as formas, o que precisamos fazer, utilizando robôs, inteligência artificial e outros subterfúgios. Seguimos fugindo da conversa com a nossa consciência, pelo medo dos resultados. Esse diálogo profundo com o nosso ser interior, dirá que está em nossas mãos resolver as equações mega complexas que o Universo nos apresenta. Mas, antes, teremos que tomar decisões individuais muito importantes.

Ao mesmo tempo em que somos convidados a resolver a grande equação, precisamos definir que tipo de ser humano queremos ser. Paira no ar, em todo o Planeta, um convite para que saquemos o que há de pior em nós mesmos: raiva, rancor, discórdia, intolerância e outros sentimentos que classificamos como ruins porque separam, destroem, desunem. Caso tenhamos outros seres nesse mesmo Universo em que moramos, possivelmente estão se questionando sobre como pudemos ser tão entupidos.

Diria que, em sentido figurado, todos temos dentro de nós uma caixa de sentimentos, de onde podemos sacar o nosso melhor ou nosso pior. Dia após dia, recebemos um convite para nos posicionarmos e estamos reagindo com o nosso pior. Esse é o grande problema a resolver. A nossa conduta frente à vida e frente à grande equação é que resultará na solução.

Claramente não estamos percebendo que a grande equação e o grande desafio do Universo para nós é a nossa posição como seres humanos. Que seres humanos pretendemos ser? Aquele que levará o ecossistema atual à sua falência total ou aquele que deixará o seu lado positivo sobressair? Do bem e da harmonia? Do amor e da fraternidade? O desafio global é individual e intransferível.

Conversar com nossa consciência fará com que tomemos, espero, novas posições.

Fará com que vejamos que somos passageiros do tempo e que temos o poder de alterar o futuro. Esse poder, que pensamos estar somente nos outros, está em nós desde o nascimento, mas precisamos ter a coragem de usá-lo para o bem. Já somos 8 bilhões nessa jornada e todos nascemos com essa responsabilidade.

Nunca foi tão importante respondermos à pergunta: que planeta quero visitar no futuro?

O tempo nos levará até lá, mas o que encontraremos será fruto das decisões individuais que tomaremos hoje e de nossas conversas com nossa consciência.

Que ser humano você pretende ser na busca para resolver a equação global?


Leonardo Lima é conselheiro do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, founder e CEO da Dreams and Purpose Consulting.


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