“Firmeza no posicionamento demonstra o quanto o tema ESG está enraizado na cultura da organização”, diz diretor do Capitalismo Consciente Brasil

No podcast Entre no Clima, Dario Neto defende a necessidade de transformar o jeito de se fazer investimentos e negócios no Brasil, a partir de uma gestão mais humana, sustentável e coerente

Por Nicole Wey Gasparini, do Um Só Planeta

Segundo pesquisa recente desenvolvida pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), embora 85% das gestoras de recursos e 90% dos bancos brasileiros considerem que a sustentabilidade é importante, apenas 26% dos primeiros e 43% dos últimos incluem esse tema em seus códigos de conduta.

Nesse contexto, apesar de 2021 ter sido marcado pelo início do que a ONU chamou de Década da Ação (até 2030), que pede para sairmos do discurso e irmos para a prática, as lideranças mundiais ainda deixam a desejar no comprometimento com o combate contra a crise climática.

Mais ações são necessárias para a construção de um sistema mais justo e sustentável. Como o setor privado, governos e sociedade civil podem trabalhar juntos para construir um futuro carbono neutro e menos desigual? O Um Só Planeta entrevistou Dario Neto, diretor-geral do Instituto Capitalismo Consciente Brasil para este episódio do Entre no Clima.



O Capitalismo Consciente é um movimento global que busca promover negócios com propósito, pautados em cultura e liderança conscientes. A meta é gerar valor para todas as partes interessadas. Neto diz que é preciso transformar o jeito de se fazer investimentos e negócios no Brasil, a partir de uma gestão mais humana e sustentável, com lideranças verdadeiramente engajadas e parâmetros ESG consolidados e coesos.

“No dia a dia, nós criamos jornadas educacionais próprias de certificação e outras idealizadas com parceiros com foco em públicos específicos, como os líderes. Essas jornadas garantem as ferramentas necessárias para que esses atores comecem a agir e revejam suas ações e crenças de negócio”, afirma o diretor-geral.

Neto, que também é conselheiro global do Capitalismo Consciente e colunista da iniciativa educacional HSM e da Época Negócios, reforça a importância de grupos diferentes de pessoas trabalharem com o mesmo propósito.

“O Sistema B foi fundado no Brasil em um período próximo ao do Capitalismo Consciente e com propostas complementares, por exemplo. E a importância disso é de que agora, após 8 anos dessas iniciativas, sinto cada vez menos a necessidade de explicar o motivo pelo qual isso é importante. Cada vez menos falamos sobre o que é, mas em como levar essa transformação para a prática”, diz. O Sistema B apoia e certifica empresas que criam produtos e serviços com boas práticas socioambientais.

Contudo, para levar adiante esta pauta, com mais conscientização das partes interessadas, principalmente das lideranças de grandes empresas e instituições, é essencial que diminua o abismo entre o discurso e a prática no que diz respeito à ESG.

“Ainda temos um longo percurso pela frente se quisermos de fato sair desse capitalismo autocentrado. A desigualdade no Brasil não para de crescer, embora isso possa parecer contraditório em relação à alta exposição desta agenda nos últimos anos. O fato é que ainda temos muito espaço para as empresas serem protagonistas nessa pauta. Por isso, ao abordarmos a transformação cultural ressignificamos o que significa sucesso dentro das empresas e a educação é uma parte chave dessa mudança”, ressalta.

Olhando para este abismo entre o discurso e a prática das empresas e bancos que, muitas vezes, caem no marketing verde (greenwashing) justamente por não conseguirem sustentar aquilo que comunicam com o que é praticado, o Brasil se encontra em um momento ainda frágil.

Entre exemplos dessa disparidade, podemos citar o caso do Touro de Ouro que foi colocado na frente da Bolsa de Valores de São Paulo em um momento em que o país se depara com altas taxas de desemprego, de fome, e do preço dos alimentos. A polêmica — e indignação pública — foi tamanha que dias depois o touro foi retirado do local.

Outro caso foi o do banco Bradesco que publicou o vídeo de uma campanha em que influenciadoras recomendaram um dia sem carne associando a prática a um aplicativo do banco que calcula a pegada de carbono dos usuários. Por meio da campanha, o banco deixava claro o seu posicionamento em relação a uma economia de baixo carbono pelo consumo consciente de carne vermelha. Ainda assim, o Bradesco enfrentou uma repercussão negativa por parte do agronegócio e optou por se retrair e apagar o vídeo.

Nesse sentido, Neto reforça a importância das empresas se manterem fieis ao seu posicionamento apesar de se depararem com um possível jogo de pressão entre diferentes setores. “A firmeza no posicionamento demonstra o quanto o tema está enraizado na transformação cultural da organização. Quando é de fato cultura, é difícil você ver uma organização dando um passo para trás em um posicionamento público. Isso é o que difere cultura de estratégia de comunicação”, conclui.

 

REPRODUÇÃO

 

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