Esta série de três artigos é um convite para uma reflexão e, de certa forma, uma provocação sobre o entendimento e direcionamento da inovação para todos os níveis da empresa. Neste primeiro artigo vamos alinhar a visão sobre duas direções que podemos tomar daqui para o futuro, considerando a inovação como paradigma do século XX ou do século XXI. O objetivo é que ao final desta série consigamos despertar a consciência e, principalmente, encorajar as empresas a engajarem seus líderes e equipes para realizarem inovações, conscientes de que as soluções e valores gerados hoje impactarão a nossa realidade no futuro.
Podemos considerar a inovação consciente como uma abordagem que busca direcionar a criatividade e o desenvolvimento de novas soluções em direção a um propósito maior: a construção de um mundo mais sustentável, alinhada ao conceito da Sociedade 5.0. Isso significa que as empresas orientam suas práticas de inovação considerando as macroforças e tecnologias emergentes, utilizando, por exemplo, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) como referência. Dessa forma, a inovação não se limita a buscar lucros de curto prazo, mas possui um sentido de benefício maior para a sociedade e/ou meio ambiente, o que, por sua vez, permitirá obter lucro ao longo do tempo.
Por exemplo, as macroforças, como as mudanças climáticas, a escassez de recursos naturais, a crescente desigualdade e a busca por uma economia circular, estão sendo consideradas dentro do contexto no qual a sua empresa opera? A inovação consciente leva em consideração essas macroforças, reconhecendo que o desenvolvimento de soluções inovadoras pode (ou deve) ser direcionado para enfrentar esses desafios globais. As empresas Yamaha e Kawasaki, por exemplo, estão unindo forças com outras empresas automotivas japonesas para desenvolver um projeto de motores a hidrogênio, uma fonte de energia limpa que não prejudica o meio ambiente.
Um ponto talvez mais desafiador e de fundamental importância, é de que a inovação consciente se afasta do paradigma de focar exclusivamente no lucro pelo lucro. Muitas startups iniciam movidas por um propósito maior e a busca de soluções reais para problemas urgentes, mas podem ser (ou são) desviadas para a escala a todo custo com foco em se tornar um “unicórnio” (empresa avaliada em mais de US$ 1 bilhão). Empresas como a Patagonia são exemplos conhecidos sobre inovação consciente. A Patagonia prioriza a sustentabilidade em todas as etapas de sua cadeia de suprimentos, utilizando materiais orgânicos e reciclados, promovendo reparos de produtos e doando uma porcentagem de suas vendas para causas ambientais. Essa abordagem consciente cria um alinhamento entre o propósito da empresa e a inovação, permitindo que ela crie soluções reais que atendam aos desafios ambientais e sociais, sem deixar de ser economicamente rentável.
A pesquisa da Humanizadas (2022), evidencia que práticas orientadas aos Stakeholders geram 190% maior capacidade de inovação, 220% melhor índice de bem-estar, 150% melhor satisfação dos clientes e, o mais interessante, 480% maior retorno financeiro. Isso significa que a inovação pode ser uma das principais formas de vantagem competitiva e longevidade quando direcionada para além do lucro.
E, conforme já citado acima, podemos tomar como referência para inovação os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os ODS oferecem um conjunto de metas globais para enfrentar os desafios sociais, econômicos e ambientais do mundo. As empresas podem adotar os ODS como uma estrutura para orientar sua inovação, garantindo que suas soluções possam ser lucrativas ao mesmo tempo em que geram impactos positivos para a sociedade e/ ou meio ambiente. A Danone é um exemplo de empresa que integra os ODS em sua abordagem de inovação, buscando alinhar seus produtos e práticas comerciais com os objetivos de fome zero, saúde e bem-estar, igualdade de gênero, entre outros.
Você concorda que a inovação consciente não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para criar um futuro sustentável? À medida que as empresas abraçam essa abordagem, elas se tornam agentes de mudança positiva, impulsionando a transformação rumo a um mundo mais equilibrado, inclusivo e regenerativo. A inovação consciente nos lembra que a criatividade e a inovação devem ser orientadas por um propósito maior, levando em consideração as macroforças e tecnologias emergentes capazes de promover soluções reais e, ainda, contribuindo para os ODS.
Faz sentido dizer que, através dessa abordagem, poderemos enfrentar os desafios globais e construir um futuro sustentável para as próximas gerações e a perenidade ou longevidade das organizações?
Se sim, continue acompanhando esta série, onde daremos continuidade com dois temas fundamentais de reflexão e provocação: “As “chaves” que precisamos “virar” em nossa mente” e “Os paradoxos da Inovação.”
Autor:
Fábio Ban, Educador em Mentor de Inovabilidade e Ambidestria, Conselheiro TrendsInnovation, Líder da Filial Regional do Capitalismo Consciente no Paraná.