Juntos podemos ir mais rápido?

Em algum momento de nossas vidas ouvimos o provérbio africano: “Se você quer ir rápido, vá sozinho. Se quiser ir longe, vá acompanhado”. Será mesmo que acompanhados perdemos velocidade? Será que para irmos juntos precisamos pagar um preço, e este seria a perda da agilidade?

E se nos permitimos um olhar mais amplo sobre este tema, será que realmente sozinhos somos mais velozes? Vamos analisar um fato real.

Todos conhecemos o jamaicano Usain Bolt que, em agosto de 2009 na Alemanha, bateu o recorde mundial dos 100 metros rasos, que aliás era dele mesmo, atingindo a marca de 9,58’. Com isto se tornou o humano mais veloz do planeta. Vejam a grandeza desta marca: ela se mantém há 13 anos. Este é um fato incontestável, conhecido e reconhecido por todos.

E você sabe qual é o recorde mundial dos 4 x 100 metros, conhecida também como revezamento 4 x 100?

Esta marca é da equipe jamaicana atingida em agosto de 2012, durante as Olimpíadas de Londres. Aliás, este país já era o detentor deste recorde. Lá se vão 10 anos deste triunfo. Usain Bolt forma o time jamaicano. Completam a equipe Yohan Blake, Michael Frater, Nesta Carter. E vocês sabem ou lembram qual foi este tempo que há uma década não é quebrado? 36,84’. 

Olhando este número isoladamente, para nós leigos no esporte, ele não nos diz muita coisa pois não temos muitos parâmetros, só sabemos que resiste anos como a melhor marca da modalidade. Mas se pegarmos o tempo de 36,84’ e dividirmos pelos 4 competidores, teremos o tempo de 9,21’ para cada corredor. Sim! O tempo médio individual torna estes homens, isoladamente, mais velozes que o Usain Bolt sozinho.

Esta constatação matemática é assombrosa, e quebra a crença de quem é o humano mais veloz do planeta. Importante ver que Usain Bolt, a grande estrela da companhia, foi o último dos 4 corredores no revezamento, e quando recebeu o bastão do Blake, que era 3º corredor, este já estava em 2º lugar.

E voltando para o início deste texto. Se desmente a crença que se quiser ir mais rápido vá sozinho. A equipe jamaicana nos prova que juntos podemos ir mais rápido também.

E isto é relativamente simples de se entender. O primeiro corredor parte do tempo zero, estático, tarefa que coube ao Carter. Porém, ao passar o bastão para o segundo corredor, este já está lançado, correndo, e não parte do tempo zero. O mesmo acontece na passagem de bastão do segundo para o terceiro e deste para o quarto corredor. Afora o primeiro, todos os demais atletas recebem o bastão correndo em pé, já em alta velocidade, o que faz com que na soma final dos tempos – 36,84’ – na média, o tempo de cada um é de 9,21’, menor que o recorde mundial do Usain Bolt, que é de 9,58’. Alguns chamam isto de sinergia. Indo um pouco mais além, não seria essa a essência dos círculos virtuosos? Não seria o princípio do poder das cadeias e dos clusters?

No livro Grande Potencial, o autor Schawn Achor, também explora o quão poderosa é a força do coletivo. E usa uma analogia perfeita com a biologia, onde no seu primeiro capítulo ele apresenta uma pesquisa científica que aconteceu numa floresta asiática. Cientistas intrigados com o fato de que vagalumes piscavam todos juntos e não aleatoriamente, descobriram fatos instigantes. O primeiro é que os vagalumes que piscavam eram os machos, cumprindo seu papel de atrair fêmeas para acasalar e sim preservar a espécie. Mas o mais impactante é que nos experimentos realizados descobriram que a chance de um vagalume atrair uma fêmea sozinho era de 7%, e quando juntos em enxame, a taxa de sucesso subia para impressionantes 84%. Ou seja, novamente o poder do coletivo, desta vez a serviço da biologia garantindo a perpetuação de uma espécie. Exemplos da força coletiva na natureza são muitos como as abelhas, formigas, colônias de corais no fundo do mar, e outros.

Vejam que o Usain Bolt é considerado o humano mais veloz do planeta por seu desempenho individual, mas na prática ele é o humano mais veloz do planeta correndo junto com o Yohan, Michael e Nesta, ou seja, junto com seu time. Mas porque a ênfase é somente no desempenho individual? Boa parte disto é reflexo do mundo excessivamente competitivo que vivemos, baseado em meritocracia individual, que teima em nos separar entre vencedores e perdedores. Que não consegue perceber o poder da sinergia. Que insiste em competir e não em colaborar. Onde as empresas ainda fazem rankings individuais estimulando a competição e não a cocriação e a colaboração. Onde as escolas de negócios ainda privilegiam a cultura do sucesso individual e a busca frenética por somente lucro. 

Felizmente o mundo parece que começa a acordar para o poder da sinergia, dos ecossistemas, das construções coletivas. O movimento empolgante de inovação nada mais é que ganhar competitividade colaborando em ambientes de inovação e investimentos de risco em novas ideias e empreendedores inovadores. 

Em paralelo, movimentos como o Capitalismo Consciente, sustentado pelo Propósito Maior, Liderança Consciente, Cultura Consciente e Orientação para Stakeholders, já começam a mostrar que um futuro sustentável para pessoas e planeta passa, necessariamente, pela colaboração e pelo alinhamento de lucro e propósito, construindo modelos de negócios mais inclusivos, gerando mais valor para todos os parceiros do ecossistema. Trocando a riqueza para poucos pela prosperidade para todos.

Esta construção coletiva, geradora de sinergia e prosperidade é muito facilitada nas empresas e outras organizações quando se tem um Propósito guiando as decisões e nos lembrando que podemos curar dores de pessoas e planetas ganhando dinheiro, uma liderança com consciência elevada sobre sua importância e de sua organização na geração de impacto positivo no ecossistema, o amadurecimento de uma cultura consciente que garante através de políticas, processos e estratégia a adoção de práticas conscientes que respeitem pessoas e planeta, e por fim, na parte externa e visível de uma empresa consciente, a orientação para stakeholders demonstrada no cuidado da empresa em avaliar cada decisão que toma para que não se impacte negativamente nenhuma parte ligada ao negócio. Muito pelo contrário, sempre que possível, que as decisões gerem impacto positivo no ecossistema, agregando valor para todos.

Um ambiente de negócios mais consciente e inovadores é viável, não é uma utopia. A construção, lenta e silenciosa deste movimento será muito acelerada se entendida como um papel de todas as organizações, orquestradas por entidades que advogam neste sentido. O Capitalismo Consciente é um destes movimentos, que se destaca por agir preponderantemente na consciência das lideranças empresariais, que é quem tem poder e recursos para gerar influência e mudar o rumo da história, antes que seja tarde. Não é mais possível depender e esperar somente pelos governos. Como dizia Gandhi, sejamos a mudança que queremos ver no mundo.

Afinal, juntos podemos ir mais longe e mais rápido também. E, principalmente, podemos ir melhor.


Solon Stapassola Stahl é Colider na Filial Regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul.


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