Por Gustavo Boog
A aposentadoria é uma realidade que muitos não querem enfrentar. O nome aposentadoria é horrível, pois ser aposentado significa ficar no aposento e isso é o que as pessoas idosas menos querem. O aumento da longevidade proporciona algumas décadas adicionais de vida saudável, e a questão o que vou fazer em todos esses anos é muito crítica. Para explorar essa pergunta e trazer respostas viáveis, o coaching é um apoio extremamente positivo.
Ao longo da vida passamos por muitas crises, e a aposentadoria, em especial, é um momento de transição muito difícil, principalmente se a pessoa não estiver preparada para essa nova etapa. A aposentadoria não só marca o fim de uma carreira profissional, mas o ingresso na idade idosa. Mas, essa crise não é só negativa, pois pode trazer inúmeras oportunidades.
No mundo atual, as pessoas são conhecidas pessoal e profissionalmente pelo seu nome e pelo seu trabalho. Sou o Gustavo, Executivo da Empresa XYZ. Se a empresa tem prestígio, eu também tenho parte desse prestígio. Se eu sou aquilo que faço, se não faço mais, eu não sou! Após longos anos de dedicação, chega o momento de encerrar essa fase profissional, e ingressar em nova etapa. Chegou a hora em que não sou mais o Gustavo da Empresa XYZ. Sou o Gustavo. Para muitas pessoas, é uma perda de identidade, que as deixa confusas e perplexas.
Após os primeiros dias de aposentadoria, depois de receber seus direitos trabalhistas e talvez até alguma homenagem pela sua dedicação de tantos anos, a pessoa começa a enfrentar a realidade de que não precisa mais acordar tão cedo, não precisa colocar seu traje profissional, não precisa deslocar-se ao trabalho, não terá que lidar com um chefe autoritário, não terá mais a companhia de colegas de muitos anos, não participará mais das happy hours, não terá mais de enfrentar e resolver situações de trabalho. Para alguns isso pode ser uma libertação, para outros pode ser uma enorme perda. A pessoa está livre para fazer o que quer. Mas não sabe o que fazer!
Cuidar da casa, visitar os netos, caminhar no parque, ir fazer compras no supermercado, ler, ir ao cinema, e talvez até ir pescar, bater longos papos com os amigos e fazer a tão sonhada viagem, são formas de preencher o tempo, mas isso não atende aos desejos da alma. A pessoa muitas vezes se sente inútil, obsoleta e descartável, e pode facilmente entrar num quadro de depressão e problemas físicos.
São relativamente poucas as empresas que dão apoio às pessoas nessa fase, e, quando dão, em geral se resume a aspectos financeiros de aposentadoria, Fundo de Pensão e Plano de Saúde. A crise pessoal que a aposentadoria traz não é sequer mencionada.
Mas as crises trazem dentro de si riscos e oportunidades.
Nosso papel profissional, exercido por décadas, define quem somos: engenheiro, eletricista, executivo, encanador, médico, contabilista, técnico e tantas outras possibilidades. Mas, cada um de nós é muito mais que seu papel profissional. Quando se está aposentado, o sobrenome organizacional foi embora. O crachá se foi, o cartão de visitas se foi, o uniforme de trabalho se foi. Você agora é você mesmo. Ao se aposentar, é você quem define as regras, o que vai fazer com as muitas décadas de vida que ganhou com o aumento da longevidade. Essa liberdade é muito estimulante, mas também é muito assustadora. Fica uma sensação de vazio.
Cada um de nós tem muitos potenciais, muitas competências e muitas paixões, coisas que fazem os olhos brilharem. E neste momento da aposentadoria, em que tudo parece novo, em que entramos num território desconhecido, é a hora de fazer um profundo balanço de vida. É a hora de resgatar nossa história, de deixar o passado ser passado, e também a hora de resgatar velhos sonhos e criar muitos novos. É a hora de definir, muito mais o “eu quero”, o prazer, que o “tem que”, o dever. Não dá para se livrar de todos os “tem que” da vida, mas muitos podem e devem ser abandonados. Quais são meus potenciais, quais são as coisas que adoro fazer, que coisas mais eu quero aprender, que competências quero desenvolver, são algumas das questões a serem encaradas nessa fase da vida. Nessa hora o processo de coaching é um precioso apoio que ajuda na definição de um novo “projeto de vida”.
As empresas, em geral, não estão preparadas para o trabalho de idosos, e em especial as lideranças têm um papel fundamental nesse processo. Nada impede que a pessoa idosa esteja aposentada e continue a trabalhar em tempo parcial. Muitas outras possibilidades são possíveis, como transformar hobbies em atividades produtivas, realizar trabalhos em projetos voluntários, abrir um negócio próprio, associar-se a uma empresa já estabelecida, ser consultor, trabalhar numa associação profissional. Isso atende à necessidade de se sentir útil.
Perguntas do tipo “o que vou fazer com as décadas de vida que tenho pela frente” podem parecer simples, mas muitas vezes precisam de um diálogo, do apoio profissional de um coach. Especialmente para quem está aposentado ou na pré-aposentadoria, o coaching explora o momento atual, as influências e experiências dos anos de vida, os potenciais, os pontos a melhorar, constituindo-se num claro e preciso quadro do momento atual. A polaridade seguinte é a definição da visão de futuro, as intenções para os próximos meses ou até anos. Para que a visão de futuro não seja uma miragem, é preciso um plano de ação realista, ajustado à realidade de cada pessoa. Com isso há uma boa chance de a pessoa alcançar o futuro desejado.
A aposentadoria pode ser um desastre, ou a abertura para novas e estimulantes possibilidades. Estando preparada, a pessoa pode escolher o seu melhor caminho.
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Gustavo G. Boog
Coach, consultor, palestrante e escritor, diretor da Boog Consultoria
É bom envelhecer de bem com a vida!
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