O Capitalismo de Stakeholders: a passagem do EGO para o ECO de boas práticas empresariais

| Por Pedro Paro

Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), publicado no início deste ano, correlaciona a confiança dos cidadãos com questões econômicas como baixa produtividade, menor capacidade de inovação e ambiente menos favorável aos negócios. Países com baixos índices de confiança têm menor renda per capita. Na América Latina, a questão é crucial para a retomada do desenvolvimento, sobretudo em um cenário pós-pandêmico. O Fórum Econômico Mundial acrescenta um elemento a essa reflexão ao alertar lideranças empresariais e governamentais globais para a urgência em colocarmos em prática o Capitalismo de Stakeholders – voltado às partes interessadas – como forma de avançar nas pautas ESG, sigla em inglês referente a questões ambientais, sociais e de governança das empresas.

Estamos falando de uma proposta que não se limita a gerar lucro para os acionistas, mas que é capaz de enxergar e incluir colaboradores, comunidades locais, elos da cadeia produtiva, investidores, consumidores e todas as pessoas interessadas no sucesso da organização. E o que isso tem a ver com o desenvolvimento de confiança e com a pesquisa Melhores para o Brasil, conduzida pela Humanizadas? Tudo! No país, segundo dados do Instituto Eldeman, nove em cada 10 cidadãos esperam que as lideranças – e suas respectivas organizações – tenham uma atitude mais consciente, ética, transparente e sustentável.

Hoje, enfrentamos a desconfiança de cidadãos em relação às instituições brasileiras –  do primeiro, segundo e terceiro setor –, algo que tem gerado um círculo vicioso nos negócios sendo responsável por perda de produtividade, potencial humano e capacidade de inovação. Essa crise de confiança é reflexo de uma lentidão e inércia para a solução de uma série de problemas econômicos, sociais e ambientais que o brasileiro convive há décadas. Do ponto de vista econômico, o Brasil acumula anos de baixo crescimento econômico, sendo considerado um dos piores países para se fazer negócios no mundo.

Dados da Humanizadas, compilados em 2022, comprovam que essa crise de confiança gera uma série de prejuízos para as organizações: há redução de 47% na avaliação das lideranças, segundo a perspectiva de conselheiros, executivo e colaboradores; as organizações obtêm resultados 29% piores em termos de cultura e ambiente de diversidade; registra-se uma redução de 40% na capacidade de desenvolvimento humano, de 51% na percepção de liberdade de expressão, de 33% na segurança psicológica e de 49% na autonomia para tomada de decisão. Consequentemente, há uma redução de 48% na capacidade de inovação e melhoria.

Em contrapartida, é amplamente conhecido que as pessoas desejam investir, trabalhar e comprar produtos e serviços de instituições nas quais elas confiam. Nesse contexto, é racional dizer que uma Nova Economia está ascendendo, na qual já não basta apenas produzir bons produtos e serviços; é necessário ser uma boa instituição para todas as partes interessadas no sucesso do negócio. Para dar suporte às empresas é fundamental gerar dados confiáveis e isentos que norteiem os gestores na tomada de decisões mais conscientes. Enxergar essas evidências é essencialmente estratégico a todos os negócios – não importa o tamanho, a região na qual atua ou o segmento. Todas as organizações, de maneira consciente ou não, são impactadas por seus stakeholders. Eles é quem decidem em qual organização desejam investir, trabalhar ou comprar.

Neste cenário, a pesquisa Melhores para o Brasil avalia e reconhece as organizações que se destacam na percepção dos respectivos stakeholders – clientes, lideranças, conselheiros, colaboradores, investidores, parceiros, meio ambiente, comunidades, familiares e sociedade em geral. E, cabe ressaltar, que uma das grandes forças e os diferenciais da pesquisa residem na sua metodologia com fundamentação científica. A trilha de avaliação tem início com a inscrição ativa das organizações de diferentes portes (micro, pequeno, médio ou grande), tipos (empresas, startups, ONGs, mídias órgãos públicos) e segmentos, e prossegue com o suporte do time da Humanizadas para que a organização envolva todos os stakeholders – as partes interessadas no sucesso do negócio, formadas por lideranças, colaboradores, clientes, parceiros, comunidades e sociedade – no processo; o apoio é dado, ainda, para garantir a amostragem estatística adequada para cada porte organizacional.

A terceira etapa é a aplicação da pesquisa, na qual a instituição convida seus stakeholders para responderem um questionário on-line na plataforma de avaliações multi-stakeholders da própria Humanizadas. Dessa maneira, a Humanizadas garante aos respondentes a segurança e o sigilo das informações. Após a tabulação dos resultados, as organizações participantes recebem uma devolutiva para que possam visualizar as próprias forças, fraquezas, os riscos e as oportunidades para o negócio – um modelo muito similar ao SWOT. Além disso, elas também conseguem identificar em qual estágio da jornada evolutiva estão e ter uma análise comparativa com o benchmark de mercado.

A partir das informações, conduzimos um cruzamento de dados da organização para que tenhamos insumos destinados a gerar o Rating Humanizadas, que sintetiza a jornada completa da companhia na pesquisa. O resultado da avaliação é entregue por meio de um Rating calculado a partir de algoritmos complexos que sintetizam a percepção de múltiplos stakeholders; eles expressam a qualidade das relações que a organização nutre com seus diferentes públicos. A evolução do Rating, portanto, expressa o desenvolvimento humano e organizacional em múltiplos aspectos, refletindo sobre conceitos como transparência, ética, diversidade, inovação e sustentabilidade.

Essas evidências indicam que a elevação dos Ratings tem correlação com um círculo virtuoso gerando resultados positivos em diferentes indicadores organizacionais.  Significa obter confiança nas relações (105% superior); Performance ESG – Environmental, Social and Governance – (76% superior); experiência dos clientes (48% superior); bem-estar dos colaboradores (116% superior); ambiente com inclusão e diversidade (40% maior); reputação da marca (44% superior); e performance financeira 4,5 vezes superior no médio e longo prazos. Organizações como ClearSale, Magalu, Banco Inter, Reserva, Grupo Jacto, Elo7, Creditas e diversas outras já estão liderando esta Nova Economia! Nos últimos dois anos, a Humanizadas trabalhou com mais de 400 organizações no Brasil, e a sua organização também pode fazer parte disso!

A metodologia dos Ratings Humanizadas integra um projeto de doutorado que desenvolvo no Grupo de Gestão de Mudanças e Inovação da Universidade de São Paulo (EESC/USP), com uma equipe altamente preparada; um dos pilares da pesquisa é a análise dos Princípios de Gestão conectados com a metodologia do professor Raj Sisodia, fundador do movimento global Capitalismo Consciente. O ineditismo da avaliação de múltiplos stakeholders tem por base o uso do instrumento Conscious Business Assessment (CBA®) – que mede o estágio de maturidade e a qualidade das relações que a organização nutre com seus públicos. No Brasil, a pesquisa conta com o apoio do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB).

É importante ressaltar que a pesquisa reforça seu caráter isento ao optar por não trabalhar com dados autodeclarados, uma prática comum nas avaliações ESG presentes no mercado. Todo o processo ocorre de maneira totalmente eletrônica, e consultando a real percepção e experiência dos stakeholders de uma organização. Em um período de 15 a 20 dias são consultadas taxas amostrais de respostas referentes aos diferentes públicos da organização (lideranças, colaboradores, clientes, parceiros e sociedade em geral), buscando-se atingir 5% de margem de erro e 95% de grau de confiança nas análises. A avaliação considera a percepção que esses públicos possuem sobre a organização, analisando não apenas indicadores quantitativos, mas também a experiência e as histórias que são construídas. Além da percepção dos stakeholders, levamos em consideração, também, as práticas e as ações geradas pelas organizações nos últimos dez anos, com a intenção de identificar impactos positivos ou negativos gerados nessas relações.

A pesquisa se propõe a avaliar, cientificamente, e reconhecer não somente as melhores organizações do país, mas as melhores PARA o Brasil.  Como resultado, não faltam à edição 2021/2022 exemplos de organizações que estão comprometidas com uma Nova Economia; elas têm por característica o fato de estarem abertas a ouvir o feedback, solucionar problemas reais e gerar valor superior para todas as partes interessadas no sucesso do negócio – clientes, lideranças, colaboradores, investidores, parceiros, meio ambiente e sociedade em geral. Elas buscam transformar os problemas sociais, ambientais e culturais em grandes oportunidades de negócio, transformando os problemas em inovação de produtos, modelo de negócio e gestão.

Costumo dizer que essa Nova Economia é uma jornada do EGO para o ECO, migrando para uma lógica na qual as necessidades de sobrevivência mais básicas da organização evoluem ao longo do tempo para um olhar que reconhece, compreende e busca gerar impacto positivo na vida das pessoas no planeta, equilibrando lucro e propósito. Não tenho dúvida de que lideranças mais conscientes podem levar o Brasil a um outro patamar social, econômico e ambiental. E é justamente isso que acredito que precisamos como indivíduos, organizações e sociedade! Espero que você esteja conosco em breve!

| Pedro Paro, pesquisador do Grupo de Gestão de Mudanças e Inovação da Universidade de São Paulo (EESC/USP), fundador da Humanizadas e coordenador da pesquisa Melhores para o Brasil.

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