O lado Luz e o lado Sombra do Capitalismo
Nos últimos 200 anos, a Humanidade experimentou uma grande evolução no seu modo de vida, inclusive, no seu tempo de vida, saindo de uma expectativa de vida de 33 para 75 anos, atualmente. Também viu o analfabetismo cair de 90% para 12% da população e a pobreza extrema reduzir igualmente de 90% para 12%.
Qual foi a invenção da Humanidade que permitiu esta revolução? O Capitalismo.
Por outro lado, o capitalismo também produziu níveis grandes de desigualdade de renda, com forte concentração nos mais ricos em toda história da Humanidade, a ponto de que 1% dos mais ricos detém mais riqueza que todo os outros 99% da população mundial.
Além deste perverso aspecto de concentração de renda, também há a questão ambiental. Atualmente, consumimos muito mais recursos naturais que o planeta consegue produzir. Em julho de 2020 a Humanidade já tinha consumido todos recursos que o Planeta poderia produzir naquele ano, e então, a partir dali, o Planeta já passou a consumir o “cheque especial dos recursos naturais”.
Quer seja pelo aspecto econômico, que insiste em medir somente crescimento e não prosperidade do ecossistema, ou quer seja pelo aspecto ambiental, que não considera a finitude dos recursos naturais, o fato é que esta versão atual do capitalismo não é sustentável.
O caminho das pedras começa por um “Por Quê?”
Estes já são argumentos suficientes para demonstrar que é preciso ressignificar o modo que fazemos negócio, se queremos deixar um legado para as gerações futuras.
E é possível? Sim. Uma das propostas de se fazer negócios de uma nova forma foi fundada pelo movimento Capitalismo Consciente, liderado pelo professor Raj Sisodia e o empresário John Mackey, fundador da Whole Foods.
Este movimento prega que, além do lucro, as organizações podem e devem gerar impacto positivo a todos stakeholders de seu ecossistema, adotando práticas justas e sustentáveis de negociação, substituindo a troca utilitária pela troca justa, gerando um movimento de ganha-ganha-ganha, onde a minha empresa ganha, os stakeholdes ganham, mas o ecossistema todo também ganha.
Propósito é bom e gera mais lucro
O melhor desta proposta é que dá mais lucro. Pesquisa feita por Raj e Mackey, publicadas no livro Capitalismo Consciente – Como libertar o espírito heróico dos negócios, demonstram que empresas conscientes americanas tiveram 1.600% mais retorno do que as listadas na S&P 500, num intervalo de 15 anos. Ou seja, é possível ser sustentável, justo, distribuir poder, gerar prosperidade e ainda ganhar mais dinheiro. Exemplo de algumas organizações gigantes mundiais que já adotam negócios conscientes: Amazon, 3M, IBM, Colgate, Starbucks, Google, Walt Disney.
Este movimento está fundado em quatro princípios: Propósito Maior, Liderança Consciente, Cultura Consciente e Orientação para Stakeholders. Sem o objetivo de dizer qual é o mais importante, mas tendo a clareza de que tudo começa por um “Por quê?”, muito bem explicado por Simon Sinek no livro Tudo começa pelo Por que.
E por quê? Propósito define rumo, permite sonhos, inspira ideias, influencia líderes, movimenta times, estabelece estratégias. Propósito é combustível para movimentar, é oxigênio para respirar, é motivo pra acordar. E, principalmente, é o motor que impulsiona uma organização para além do lucro, pois Henry Ford já nos ensinou que uma empresa que só vive pelo lucro é uma empresa pobre. Não tem alma, não tem espírito, só tem corpo. Não deixa legado.
O movimento Capitalismo Consciente acredita que podemos fazer negócios mais sustentáveis e que gerem impacto positivo. Acreditamos que os negócios são bons quando criam valor pras pessoas, são éticos quando são baseados em trocas justas, são nobres quando podem elevar a existência humana, e heroicos quando tiram as pessoas da pobreza e geram prosperidade para todos.
*Solon Stapassola Stahl é Colíder na Filial Regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul e Diretor Executivo na Sicredi Pioneira RS.