Os 8 princípios de uma Liderança Consciente

Esses dias ouvimos num almoço de família, daqueles conselhos carregados de sabedoria, “coloquem o filho de vocês no tênis e ele terá uma escola para vida”.

Essa frase ecoou dentro de mim, pois hoje um de meus grandes objetivos de vida é querer deixar um legado na educação do Frederico para que possa, a partir de suas escolhas, ser um homem de valores e virtudes, contribuindo com o meio que decidir atuar.

O esporte é uma escola de liderança. Seja em atividades de grupo ou individuais. O esporte desenvolve a resiliência, a coragem, a disciplina, a humildade e a necessidade de aprimoramento contínuo e de querer sempre vencer o maior adversário: as crenças e sabotadores internos. Aprimorar-se continuamente e enfrentar os próprios medos deveria ser missão de todos nós, seres humanos, antes de querer uma carreira de sucesso.

Rafael Nadal, um dos maiores tenistas de todos os tempos, mencionou que títulos e vitória passam e o mais importante é ser lembrado como uma pessoa boa.

Liderando para construir um legado

No esporte, assim como nas empresas e na vida, não é apenas sobre o resultado financeiro que geramos, mas sobre o legado humano que construímos. Seremos lembrados pelas futuras gerações não pela nossa conta corrente, mas pela nossa índole e o bem (ou mal) que disseminamos.

Ou seja, o que mais precisamos difundir como conteúdos para as lideranças vai muito além de ferramentas de gestão. Claro que são importantes pois sem elas os negócios não sobrevivem no longo prazo. Mas precisamos mergulhar no âmago da liderança perene: o legado espiritual.

O capitalismo que nos trouxe até aqui não é o que irá nos levar adiante. O paradigma que ainda está presente e no qual todos nós fomos forjados está dando espaço a uma nova forma de gerar riqueza: o Capitalismo Consciente.

Pensamentos evoluem, empresas também

A carta de Larry Fink (CEO da BlackRock  – líder mundial em gestão de investimentos) aos CEOS das empresas de capital aberto, evidencia para onde as empresas precisam olhar e onde o dinheiro do mundo está sendo investido. 

A responsabilidade exclusiva das empresas com o retorno ao shareholder, que sustentou a tese de Milton Friedman no século passado, dá lugar à necessidade de olhar para os stakeholders. O foco no lucro dá lugar ao ESG. A preocupação com a sustentabilidade, em especial à redução de emissão de CO2, está na pauta das startups que mais receberão investimento nos próximos anos. A diversidade precisa ser tema das empresas para gerar inovação. Inclusive, a União Europeia fechou, recentemente, um acordo para que 40% dos cargos dos Conselhos de Administração sejam ocupados por mulheres até 2026.

Inspirar pelo exemplo

Não é mais moda. Não é mais um tema cool. Uma nova ordem mundial de fazer negócios e construir riqueza está posta. É só uma questão de tempo para a transformação efetiva. Os que antes construírem uma cultura do Capitalismo Consciente, servirão de guias e inspiração para aqueles que precisam entender como fazê-lo.

Nessa nova cultura, uma nova consciência é imperativa: a das lideranças. Sem uma formação efetiva e transformação do mindset de gestão teremos uma semente infértil pois é impossível criar raízes em solo arenoso. O húmus da nova forma de prosperidade, que sustenta a cultura empresarial, reside na tríade mente-emoção-ação dos líderes.

Então como desenvolver este novo mindset, para que possa contribuir com a construção de um novo capitalismo?

Princípios para uma Liderança Consciente

Baseada em duas décadas de experiência executiva, empreendedora, pesquisa internacional e como educadora de centenas de lideranças em diversos países, elenco oito princípios que podem nortear a formação desta nova consciência de lideranças.

  1. Autoconhecimento: a empresa é o espelho de quem é e como está a liderança. O impacto da identidade do líder é direto na cultura do negócio. Muitos dos problemas na empresa são manifestações do inconsciente e do mindset da liderança. Para tanto, humildade é fundamental para olhar as próprias sombras e dar luz ao potencial que precisa emergir. 
  1. Sentido existencial de fazer negócios: a filosofia de gestão precisa ir além do paradigma científico e das planilhas financeiras. O propósito, o sentido de um negócio, o impacto na vida de milhares de pessoas, o legado, estão entre os temas centrais de formação das lideranças.
  1. Relação ambiente e humano: educar líderes fora da sala de aula, levando-os a experiências na natureza é uma forma extraordinária de aprender a lógica da prosperidade de vida. A natureza é uma grande mestra e precisamos aprender com ela sobre nós mesmos e sobre os sistemas vivos que são as organizações.
  1. Filosofia e cultura clássica: tudo já foi escrito, em especial na sabedoria de nossos ancestrais. Beber de fontes milenares de filosofia oriental, hinduísta, greco-romana nos auxilia a acessar o conhecimento perene da humanidade, nutrindo intelecto e emoção para os desafios que líderes afrontam diariamente. 
  1. Arte: a alma se nutre de beleza. Líderes que aprendem a apreciar a arte encontram neste um recurso inesgotável de inspiração, que auxilia na inteligência emocional e na antifragilidade. 
  1. Ética, como o alinhamento entre pensamento, emoção e ação, norteada pelas nobres virtudes humanas. Coerência com quem se é e fidelidade aos próprios valores são necessários para construir o novo. De que adianta uma conta corrente cheia, ter EBITDA positivo, ser aplaudido fora, se dentro de si não há paz?
  1. Legado:  a imortalidade humana passa pelos rastros que deixamos neste plano. Nosso corpo pertence às dimensões de tempo e espaço e, portanto, um dia não estará mais aqui. Já nossa alma e inteligência podem permanecer para sempre através de nossas ações, inspirando as gerações futuras. Lideranças precisam reconhecer a impermanência da vida e refletir sobre como querem ser lembradas.
  1. Inteligência feminina: “Os líderes precisam ser mais femininos” de Raj Sisodia não diz respeito ao gênero, mas à energia feminina que faz parte da vida e é intrínseca em todo ser humano. Na filosofia oriental temos o yin-yang, na psicologia analítica de Jung temos a anima e o animus, que demonstram a necessidade de equilíbrio entre feminino e masculino. O mundo em que vivemos e o sistema capitalista foi construído pela lógica masculina. É hora de emergir a lógica do feminino para que possamos ter um mundo mais equilibrado e saudável. Empatia, cooperação, adaptação, intuição, nutrição, cuidado, respeito à vida, criatividade, escuta, acolhimento estão entre as características femininas que o mundo precisa e que cada ser humano pode resgatar dentro de si.

Evoluir para liderar

Desenvolver a humanidade dos que nortearão a mudança de paradigma é fundamental para acelerarmos o processo. Todos buscamos por uma vida com mais equilíbrio, saúde, propósito e sentido. Não podemos evoluir tanto em tecnologia, ciência, expectativa de vida se ao mesmo tempo os índices de depressão e suicídio aumentam, bem como o desrespeito à grande mãe Terra. 

Uma amplitude de consciência é o único caminho para preservarmos a vida humana neste planeta, que é definitivamente nosso maior bem. Só assim poderemos fazer emergir um novo capitalismo, mais justo, próspero, digno e sustentável.

Soraia Schutel é Conselheira Regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul, PhD e Cofounder Sonata Brasil e especialista em desenvolvimento de lideranças.

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