O papel do propósito na longevidade de uma empresa familiar
Uma empresa familiar nasce de um projeto pessoal de quem a inicia e confere a ela uma identidade. Sonhos, princípios e a expressão da cultura são personificados na figura dos fundadores, referências maiores e suficientes nas primeiras fases de evolução do negócio. Com o passar do tempo, as identidades da família e da organização se influenciam entre si, porém se desenvolvem de maneira mais autônoma. Mais pessoas vão se unindo à família e ao empreendimento e a clareza de um propósito compartilhado passa a ser fundamental para engajar a todos e nortear caminhos em uma perspectiva transgeracional e despersonificada.
Razão de existir
Na Rudolph, o mergulho na essência para revelar nossa razão de existir se iniciou em 2014, período em que quem havia liderado e personificado nossa identidade por décadas buscava um passo de afastamento da gestão. Descortinar esse propósito foi um processo riquíssimo de descoberta e aprendizado, que se estendeu por cinco anos até que estivéssemos preparados para revelá-lo em 2019, com a declaração de que existimos para “inspirar e desenvolver pessoas para a excelência”.
Acreditamos ser essa a nossa contribuição para a sociedade, para o mundo, que justifica nossa existência. Intenção mais elevada que a simples geração de retorno financeiro aos acionistas. Tangível pelos produtos e serviços que oferecemos nas unidades de negócio que compõem nosso grupo. Nosso propósito beneficia a todos os stakeholders, pelos frutos da excelência diretamente colhidos em nossa entrega de valor e, complementarmente, porque queremos também inspirar e contribuir com o desenvolvimento de quem está à nossa volta.
Unidos para avançar
Uma frase do escritor norte-americano do século XIV, Ralph Waldo Emerson, revela a potência desse propósito: “Nosso maior desejo é alguém que nos inspire a ser aquilo que podemos ser”. É assim que o praticamos com nossos colaboradores, com a clareza de que nos reunimos para avançar, cada um em seu projeto pessoal e, coletivamente, a serviço da jornada comum que nos conduz à excelência.
Quando a faísca da inspiração traz significado e conecta alguém com a sua essência, dá-se o passo para fora da zona de conforto, iluminando o caminho do desenvolvimento que trilhamos juntos. Criamos, dessa forma, o espaço no qual pessoas estejam dispostas para compartilhar seus talentos e paixões.
O resultado é a excelência, que enxergamos não como um destino que se assemelhasse à perfeição, mas como uma jornada na direção de ser quem pudermos e escolhermos ser, individual e coletivamente, com a genialidade e a potência que emergem quando nos percebemos suportados e a serviço de algo maior que nós mesmos.
Propósito para quê?
O propósito maior é um dos pilares do modelo proposto pelo Capitalismo Consciente para organizações conectadas a uma maneira de pensar os negócios que reflete de uma melhor forma onde estamos na jornada humana e o estado do mundo hoje.
Sua importância vai muito além da existência de um slogan, de atender de forma oportunista a um checklist que estabeleceria a necessidade de uma frase de efeito no site da empresa. Guiar-se por um propósito maior que a orientação direta à maximização dos lucros reflete uma mudança de paradigma, por onde se desenvolve a clareza da razão de existir da organização, o benefício que ela traz para a sociedade, para seus stakeholders.
É a síntese do que está vivo para a empresa neste momento, neste contexto. O benefício proporcionado ao mundo que dá sentido à sua existência e por meio do qual ela gera valor e captura sua justa paga na forma de lucros – para quem investe no avanço daquela causa.
A relevância e a prosperidade de uma empresa dependem, portanto, do mérito de seu propósito, do valor que ele gera para cada parte interessada no negócio.
A declaração de um propósito
Mergulhando na essência de uma organização, podemos declarar um propósito, que define o mundo que queremos juntos construir. Entre os atos linguísticos, a declaração é uma frase que gera um mundo possível (diferentemente de uma afirmação, que explica o mundo como o percebemos, como ele já é). Com uma declaração, eu construo realidade, falo de um mundo que pode vir a ser a partir da força dessa declaração.
Faz muito sentido a noção que aprendi: nosso poder tem a ver com fazer acontecer as coisas que a gente declara. Quando alguém ou alguma organização declara coisas com as quais não se compromete, seu poder diminui. Seguir o caminho das nossas declarações, por outro lado, nos empodera! Desenvolve relações de confiança, o que consideramos, na Rudolph, um importante ativo, uma vantagem competitiva.
Propósito generativo
Nosso propósito não se limita, não está orientado de forma direta àquilo que especificamente hoje fazemos, aos produtos e serviços que oferecemos. Uso o termo “propósito generativo” para me referir a esta característica, à medida que ele não cria a coisa, mas sim um sistema capaz de criar várias coisas.
Assumimos como norte um horizonte sem linha de chegada. Nossa busca pela excelência não terá fim, assim como a evolução da humanidade. As necessidades do mundo são múltiplas, assim como a capacidade e o potencial do ser humano.
Inspirar e desenvolver pessoas para a excelência. Esse é o sonho que sonhamos juntos – e nos comprometemos a colocar no mundo.
*Alex Marson é CEO da Rudolph Investimentos e Participações, e colíder da Filial Regional do Capitalismo Consciente em Santa Catarina.