Ciência, tecnologia e AgTechs tornam o agro brasileiro mais sustentável

O caminho para um agro regenerativo passa por tecnologias digitais e biotecnologia 

O caminho para uma economia regenerativa e de baixo carbono no Brasil passa necessariamente pelo agronegócio, responsável por 27,4% do PIB brasileiro em 2021 (segundo dados do CEPEA). Pelo contato que o agroRESET tem com atores de toda a cadeia produtiva do agro, identificamos o papel fundamental que a ciência e a tecnologia exercem para impulsionar o setor a um padrão sustentável, regenerativo e ESG.

Nesse sentido, as AgTechs, as startups do agro, têm o importante papel de aliar o que há de mais moderno em ciência e tecnologia para aliar a sustentabilidade no campo a resultados econômicos.

Como diz Francisco Jardim, sócio-fundador da SP Ventures, a tese ESG sempre esteve no AgTech. Se olharmos o que é o ganho de produtividade e eficiência no agro, a gente pode ver que é uma intersecção quase perfeita com a tese de ESG”.

Entre outras vantagens, as soluções tecnológicas das AgTechs permitem produzir mais em áreas menores com menor emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE). Reduzem a necessidade de insumos químicos por meio de tecnologias como a agricultura de precisão e produtos biológicos. E otimizam o uso de recursos hídricos com tecnologias de irrigação.

Não se pode deixar de mencionar também os programas de melhoramento vegetal que desenvolvem cultivares: sementes com maior capacidade de germinação, absorção de nutrientes, menos vulneráveis a doenças e pragas e mais resistentes ao estresse hídrico. 

Nesse campo, se destaca uma empresa pública, a Embrapa, que, segundo Jardim, “conseguiu não só tropicalizar a soja, mas disseminar esse conhecimento. Isso foi muito intenso em biotech, interação com mercado, e [geração de] cases, tem uns espetaculares”.

Na área de insumos biológicos, um exemplo de AgTech com solução tecnológica de ponta é a SoluBio. Seus produtos proporcionam uma redução de custo de até 70% no cultivo de culturas como soja, milho, trigo, algodão, cana, café e hortifruti.

A adoção dos biológicos tem aumentado no Brasil e reduzido a necessidade de defensivos e fertilizantes químicos. Além da redução de custo para o produtor, isso se deve também a resultados positivos que vêm sendo divulgados por empresas do agro e instituições de pesquisa em relação à sua eficácia e aumento de produtividade e lucratividade.

Outra tecnologia crescente no agro é a rastreabilidade, definida como a capacidade de conhecer a trajetória de um produto desde a sua produção até a entrega ao cliente.

Os dados gerados por soluções de rastreabilidade tornam a cadeia produtiva mais eficiente e transparente e contribuem para reduzir perdas em todos os seus elos. Também facilitam ao produtor comprovar que está adequado à legislação ambiental e obter acesso a crédito rural que exige, como contrapartida, boas práticas socioambientais.

Como disse Andre Maltz Turkienicz, co-fundador & CEO da startup AgTrace: “não basta fazer certo, tem que fazer e mostrar. (…) [Temos] um dos agros mais sustentáveis, senão o mais sustentável do mundo, e a gente tem que mostrar isso”.

Por fim, outra prática sustentável que é preciso destacar são os sistemas integrados, como o ILPF (Integração Lavoura Pecuária Floresta). Eles têm a capacidade de reduzir ou até mesmo neutralizar as emissões de carbono da produção agropecuária e de recuperar pastagens degradadas, transformando-as em áreas produtivas e sustentáveis.

Um exemplo muito claro é o da Fazenda Modelo II, localizada em Ribas do Rio Pardo (MS) e gerida pela agrônoma Yula Cristina Gomes Cadette. Originalmente, seu solo era composto por areia quartzosa e considerado impróprio para a agricultura. Após a implantação do ILPF em toda a propriedade, ela se tornou produtiva.

“A gente tem muito orgulho mesmo de ter uma fazenda que produz várias culturas. Aveia, trigo, feijão, milho, soja, sorgo. Temos o confinamento, temos a serraria. Temos várias opções e possibilidades de gerar renda. (…) Esse sistema silvipastoril serve tanto para grandes produtores, como para pequenos produtores”, afirma Yula.

Outro case de destaque é o da Fazenda Corumbiara, localizada em Rondônia, que cria 16 mil cabeças de gado nelore. Há seis anos, a fazenda apresentava baixa produtividade, poucas práticas sustentáveis e a área de pasto estava degradada. Após a implementação do sistema Integração Lavoura Pasto (ILP), a lavoura e os pastos bem manejados passaram a sequestrar carbono da atmosfera e compensar as emissões do gado.

Atualmente, cada tonelada de carne produzida na propriedade gera 11,5 toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), volume 40% inferior à média mundial (dados divulgados pela ONG Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola – Imaflora).

Essa evolução do agro para um padrão mais sustentável e ESG é fundamental para combater as mudanças climáticas e o aquecimento global. Assim como para aumentar a produção de modo a atender o crescimento populacional em equilíbrio com o limite de uso dos recursos naturais do planeta, garantindo segurança alimentar para as futuras gerações.

É também uma maneira de atender às pressões do mercado exterior, que cada vez mais exige comprovações de sustentabilidade na produção agropecuária como critério de compra. Investir em sustentabilidade é abrir portas no comércio globalizado.

A evolução do agro tradicional para um agro sustentável e regenerativo, alinhado aos princípios ESG, é um caminho inevitável e sem volta. E o investimento em ciência e tecnologia aplicados a esse mercado é a melhor maneira de gerar impacto ambiental positivo em toda a sua cadeia produtiva.

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