*Por Patricia Nader
Desde quando surgiu, o capitalismo enfrenta prós e contras. No entanto, a partir de uma leitura mais atual, busca-se conviver com essa relação socioeconômica do século XV de maneira mais consciente – e moderna, a fim de reduzir a degradação ambiental e a disseminação da miséria, além de ampliar a ideia de que a solução desses problemas está intimamente ligada à participação ativa das grandes empresas na questão.
Em suma, essa releitura ainda é uma visão particularizada do mundo em desenvolvimento, que busca dar luz à ideia de que os negócios não precisam se restringir apenas à geração de lucro, mas também a valores de bem-estar sociais. E é nesse ponto que os investimentos de impacto podem ajudar nessa evolução, além de dar espaço para uma discussão mais aprofundada de um novo ponto de vista acerca do tema.
Isso porque, na raiz daquilo que chamamos de capitalismo consciente, o que se deseja é gerar valor e melhorar a qualidade de vida, com transações comerciais gerando efeitos socioambientais positivos. A grosso modo, o mesmo que está no core business dos negócios de impacto e que os diferem de filantropia: a conciliação de soluções para problemas sociais ou ambientais, com retorno financeiro.
Com o advento da tríade ESG, as empresas com foco em soluções socioambientais foram se multiplicando. Nos últimos quatro anos, por exemplo, elas saíram de 579 para 1272 (2017 a 2021), registrando um crescimento de 120% só no Brasil, segundo a Pipe Social, em relatório apresentado em 2021. Mais um dos tantos resultados que refletem o país como um laboratório para os negócios de impacto, uma vez que mantém uma concentração exponencial de problemas crônicos e urgentes, oferecendo um cenário cada vez mais favorável para essa modalidade de operação socioeconômica.
A partir desse panorama, acredito que empreendedores carregam consigo a força ideal para resolver grandes problemas do mundo atual. Com o foco direcionado para o cerne de um entrave, busca-se construir teses de investimentos que resultarão em negócios que visam não só lucro, mas ampliam o impacto ambiental, financeiro e social de cada empresa, reverberando para a sociedade.
No check-list de construção desse argumento, é interessante considerar projetos baseados na melhoria de desafios, com possibilidades para que sejam facilmente replicáveis e ganhem escala rapidamente, aumentando seu alcance e relevância, além de propor medidas para questões urgentes. Sem esquecer, é claro, de que tudo isso deve trazer retorno financeiro aos investidores ao longo do tempo.
E para reforçar que encontrar esse modelo é possível, eu chamaria a atenção para a importância de se fazer a mensuração e monetização de impacto. O cálculo, que chamo de Múltiplo de Impacto, revela o retorno socioambiental e financeiro de um projeto após um investimento e é uma ação que serve como ferramenta valiosa para operacionalizar dentro desse conceito, uma vez que oferece parâmetros para justificar os investimentos e provar o retorno do negócio.
Considerando, então, uma leitura histórica de fatos, observando as transformações da sociedade e as necessidades da população mundial para se viver com qualidade e em harmonia com o planeta, eu diria que os investimentos de impacto serviriam como um ajuste atualizado de rota para aquilo que foi instituído entre séculos e permeou a Idade Contemporânea. Esta seria uma revisão essencial para avançarmos na agenda proposta pela ONU e pactualizada entre os principais representantes globais dos motores da economia moderna.
Patricia Nader é head de ESG e investimentos de impacto da Good Karma Ventures, uma gestora de investimentos de impact growth, que tem o objetivo de impulsionar projetos e negócios capazes de promover impacto e fazer a diferença na sociedade.
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