Uma Reflexão sobre Propósito e os Reflexos da Enchente

Os eventos climáticos, assim como os ciclos econômicos, apresentam uma natureza cíclica. A cada ciclo, tanto os eventos climáticos quanto os econômicos retornam, variando em intensidade. No curto prazo, os ciclos econômicos são caracterizados por grandes flutuações, alternando entre períodos de recuperação e prosperidade, e fases de estagnação ou recessão. Estabelecer um comparativo entre esses fenômenos pode parecer redundante, mas ao analisar os preceitos do Capitalismo Consciente, torna-se possível traçar um paralelo significativo.

Ao iniciar a leitura do livro Capitalismo Consciente: Como Libertar o Espírito Heroico dos Negócios, deparei-me com uma narrativa sobre o mercado de alimentos em 1981, que enfrentou uma severa enchente na cidade de Austin, impactando de forma profunda a empresa Whole Foods. Esse episódio apresenta uma ressonância com as recentes inundações que atingiram o estado, cujos efeitos econômicos ainda se fazem sentir de maneira substancial.

Os prejuízos financeiros enfrentados por uma única empresa naquele contexto são alarmantes, assim como os sofridos por inúmeras empresas em nossa região. Contudo, o que permitiu à Whole Foods superar tal adversidade?

O autor relata um momento crucial: “Enquanto tentávamos desoladamente salvar o que fosse possível, algo inesperado aconteceu: dezenas de clientes e vizinhos apareceram na loja. Como era feriado, muitos estavam de folga e vieram com roupas de trabalho, trazendo baldes, esfregões e tudo mais que julgassem útil. Eles chegavam animados: ‘Vamos lá, pessoal. Mãos à obra. Vamos arrumar tudo e deixar isso aqui perfeito. Não vamos deixar a loja morrer. Chega de lamentação, vamos trabalhar!'”.

A mobilização observada foi resultado de um diferencial claro: o poder do amor e o envolvimento de todos os stakeholders. Este evento ilustra um dos princípios fundamentais do Capitalismo Consciente: quando uma empresa opera com um propósito maior, a reciprocidade surge como uma consequência natural. O que é oferecido aos clientes é retribuído na mesma medida. O conceito de amor, ainda que intangível e aparentemente distante da lógica de lucro imediato, pode ser reinterpretado no contexto empresarial como propósito.

Incorporar o amor, ou propósito, nas estratégias empresariais pode parecer desafiador. No entanto, quando traduzido em termos práticos, torna-se um elemento essencial na construção de um valor sustentável a longo prazo. As lideranças empresariais têm a responsabilidade de reconhecer que ações movidas por propósito, embora possam não gerar retornos imediatos, são fundamentais para a criação de valor duradouro.

Portanto, a questão que se coloca para os empresários é direta: suas empresas estão preparadas para mobilizar clientes, fornecedores e voluntários em momentos de crise? Se a resposta for negativa, é crucial repensar as estratégias adotadas. Um propósito claro, aliado a uma atuação consciente, pode ser o fator decisivo não apenas para a sobrevivência, mas para a prosperidade em tempos desafiadores. Não espere pela próxima crise ou pela próxima enchente para agir – o momento de iniciar essa transformação é agora.

Para aqueles interessados em se aprofundar nos conceitos do Capitalismo Consciente e explorar como o propósito pode revolucionar a gestão empresarial, a leitura de Capitalismo Consciente: Como Libertar o Espírito Heroico dos Negócios, de John Mackey e Raj Sisodia, é altamente recomendada. Mais informações podem ser encontradas aqui.


Autora

Perla Cesar, conselheira na Filial Regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul

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