Gustavo Loiola
O senso comum nos diz que vivemos em uma sociedade em constante mudança e cada vez mais cercada de impactos sociais e ambientais que mudam a forma com que nos relacionamos com o planeta. Nesse contexto, diversas discussões avançaram nos últimos tempos, a respeito das responsabilidades que cada agente tem em executar a transformação necessária para a construção de uma sociedade mais justa, próspera e inclusiva.
Devido ao nosso modelo econômico atual, a extensão do impacto e a capilaridade, as empresas passaram a ser cobradas pela sociedade para liderar essas mudanças. Questionamentos sobre práticas organizacionais, escolha de investimento, relacionamento com fornecedores, dentre outros tópicos, foram palco de discussões e de agendas globais de desenvolvimento.
No entanto, precisamos trazer esta discussão para um nível diferente. Apesar das empresas serem demandadas e reguladas dentro desses temas, é necessário entender a máxima de que ” qualquer CNPJ é um conjunto de CPFs”, ou seja, as mudanças realizadas pelas organizações são lideradas por pessoas. A grande pergunta é: de que forma essas pessoas estão vendo o mundo? Como elas entendem suas responsabilidades em nível individual? Qual é a visão necessária para construir um mindset alinhado a esses novos tempos?
Tendo acompanhado o ambiente empresarial nacional e internacional nos últimos anos, tenho percebido uma mudança na forma com que os líderes se entendem como agentes de transformação. O hype da liderança responsável sendo discutida em diferentes espaços fez com que a necessidade de mudança fosse ressaltada e um senso de ação se instaurou dentro dos espaços organizacionais. No entanto, a mudança de mindset é ainda algo difícil. Mudar a forma com que enxergamos o mundo é algo transformador, porém exige um esforço de autoconhecimento e responsabilidade. Compartilho abaixo quatro dicas que podem ajudar nesse processo:
- Construa um bom relacionamento com seus stakeholders
Os stakeholders são as partes interessadas de uma organização, ou seja, qualquer grupo ou indivíduo que impacta ou é impactado pelas suas ações. É importante conhecer quem são esses agentes e se relacionar com eles da melhor forma possível. Essa relação é a base para a confiança e a confiança é base para a cooperação e parceria. Afinal de contas, é melhor ter uma relação de parceria do que uma relação estritamente comercial, correto?
- Estimule a sua visão sistêmica
Os nossos desafios atuais como sociedade são complexos e sistêmicos e precisamos entender de que forma isso influencia o dia a dia e as nossas decisões. A colaboração (gerada pela confiança) é uma grande aliada para reconhecer a interdependência entre os agentes do ecossistema onde sua organização opera, além de contribuir para a construção de uma visão a longo prazo.
- Crie uma cultura inovadora com visão a longo prazo
Construa uma ponte para o futuro. As mudanças são inevitáveis e vão chegar cada vez mais rápido – e quanto antes os líderes tiverem consciência disso melhor. Pensar a longo prazo é uma forma de aproveitar as oportunidades de inovar, desenvolver o seu capital humano e construir uma cultura voltada para a inovação. Olhando para os riscos sociais e ambientais futuros, também estimulam a mudança nos processos produtivos e uma gestão mais eficiente.
- Coloque as pessoas no centro
Dentro de qualquer processo de tomada de decisão dentro da organização, as pessoas devem estar no centro. Apesar das discussões da área de administração colocarem as empresas no centro de uma rede e que influencia os diferentes stakeholders, um líder responsável coloca as pessoas no centro. Isso não exclui que a empresa possa crescer, se desenvolver e gerar lucros, porém traz a reflexão sobre os impactos que são gerados para atingir esse objetivo. Qual o legado deixado para a sociedade?
Como toda transformação, exige uma saída da inércia, e acima de tudo, uma jornada. Aliadas a um processo de autoconhecimento, as mudanças que temos que nos submeter como líder acontecem em um processo de crescimento, cada dia de uma forma diferente. O melhor primeiro passo são, na verdade, dois: entender que precisamos mudar e querer mudar, de resto, aproveite a jornada!
Gustavo Loiola é conselheiro regional do Capitalismo Consciente em Curitiba , Gerente de Programas no UN PRME, iniciativa da ONU para educação executiva e Professor no ISAE/FGV.