Série Inovação Consciente – Parte 2
Inovação é um termo em alta em todas as áreas de negócios. Mas será que todos entendem inovação da mesma forma? Será que a inovação que se fazia no século XX é a mesma que se faz no século XXI?
Especialistas consideram que não vivemos uma “Era de Mudanças”, mas uma “Mudança de Era” e que o século XXI não é a continuidade do século XX, mas seu rompimento. Sendo assim, você concorda que ao se falar em inovação é preciso “virar algumas chaves” na nossa forma de pensar e gerar soluções de valor e impacto?
Quais “chaves” as lideranças e as equipes da sua empresa precisam “virar”, para efetivamente transformar e até exponencializar os resultados de sua empresa?
1. Melhoria vs Disrupção
A primeira chave para uma mente inovadora é entender a diferença entre buscar melhorias incrementais e promover mudanças disruptivas. Muitas empresas concentram seus esforços em melhorar produtos ou serviços existentes, mas a inovação pode ir além, ao desafiar o status quo. Um exemplo bastante conhecido é a Netflix, que revolucionou a indústria do entretenimento ao substituir o modelo de aluguel de DVDs, através da tecnologia do streaming online. Vale reforçar que, se sua empresa não buscar pela disrupção, um concorrente (provavelmente desconhecido) o fará.
2. Concorrência Simétrica vs Concorrência Assimétrica:
A concorrência simétrica ocorre quando várias empresas competem em um mercado com produtos ou serviços semelhantes, em condições relativamente iguais. Atualmente nos deparamos com a concorrência assimétrica, envolvendo uma empresa inovadora – uma bigtech ou uma pequena startup – que cria uma vantagem competitiva significativa sobre seus concorrentes. Para este caso, um exemplo conhecido é a Uber, que introduziu um modelo de negócio disruptivo no setor de transporte, desafiando as empresas de táxi tradicionais.
3. Concorrência Síncrona vs Concorrência Assíncrona:
Na concorrência síncrona, as empresas competem diretamente no mesmo espaço e tempo. Por outro lado, a concorrência assíncrona ocorre quando as empresas não competem diretamente no mesmo momento ou lugar. Um exemplo de concorrência assíncrona é a rivalidade entre a Netflix e a HBO. Embora ambas sejam empresas de streaming de conteúdo, elas competem de forma assíncrona, já que os usuários podem escolher assistir a conteúdos de uma ou de outra em momentos diferentes.
4. Mundo físico OU digital vs Mundo físico E digital:
Ainda existem empresas que definem suas estratégias optando por atuar exclusivamente no mundo físico OU digital. Empresas inovadoras buscam explorar as oportunidades oferecidas pela combinação desses dois mundos, conhecidos como “fisital” ou “figital”. Empresas como a Amazon exemplificam isso, começando como uma loja online e, posteriormente, expandindo-se para o varejo físico com a aquisição da Whole Foods.
5. Linearidade vs Exponencialidade
Diversos são os casos conhecidos a respeito da exponencialidade. Já é sabido que a linearidade é caracterizada por mudanças incrementais e previsíveis, enquanto a exponencialidade envolve mudanças rápidas e aceleradas. A Amazon é um exemplo de empresa que busca realizar a exponencialidade ao revolucionar o comércio eletrônico e estabelecer novos padrões de entrega rápida e conveniente para consumidores em todo o mundo.
Ao abordar a concorrência assimétrica (item 2), a concorrência assíncrona (item 3) e a exponencialidade, deve-se estar preparado para identificar oportunidades disruptivas (item 1), o que permitirá criar vantagens competitivas significativas. Já é bem evidente que o cenário competitivo está em constante evolução e que é necessário pensar além dos modelos tradicionais para se destacar e prosperar em um mundo que se reinventa 100% ao ano.
6. Confiança no tangível vs Confiança no intangível:
A confiança tradicionalmente é depositada em pessoas e coisas tangíveis. No entanto, é importante reconhecer o valor dos dados e algoritmos na tomada de decisões. A empresa de tecnologia Google é um exemplo que confia em algoritmos para fornecer resultados de busca relevantes e personalizados.
7. Tomada de decisão humana vs Tomada de decisão humana com IA e Sistemas:
A inteligência artificial (IA) e os sistemas automatizados estão se tornando cada vez mais poderosos na tomada de decisões. Se conectar a essas tecnologias pode ser decisivo para auxiliar na tomada de decisões complexas. A Tesla, por exemplo, utiliza IA em seus veículos autônomos para melhorar a segurança e a eficiência das viagens.
8. Ambiente estável vs Ambiente mutante:
Tradicionalmente, as empresas operam em ambientes estáveis, onde as mudanças são graduais. No entanto, a inovação muitas vezes surge em ambientes mutantes, onde as condições são altamente voláteis. A empresa Airbnb aproveitou a mudança no comportamento dos consumidores e transformou o setor de hospedagem ao permitir que as pessoas alugassem seus próprios espaços.
9. Previsibilidade vs Imprevisibilidade:
Uma mente inovadora aceita que o futuro é incerto e que a previsibilidade absoluta é uma ilusão. Ao invés de buscar certezas, empresas como a SpaceX ousam realizar avanços na exploração espacial, mesmo em um campo imprevisível e desafiador.
10. Posse vs Compartilhamento:
O paradigma da posse está sendo desafiado pela economia do compartilhamento. Deve-se reconhecer a importância de compartilhar recursos e conhecimentos para criar valor. Para facilitar, podemos considerar mais uma vez o Uber como exemplo, permitindo que as pessoas compartilhem seus carros e criem uma rede de transporte acessível e conveniente.
11. Shareholder vs Stakeholder:
Tradicionalmente, entende-se que o foco da empresa é maximizar o valor para os acionistas (shareholders), mas uma mente inovadora considera um conjunto mais amplo de stakeholders, incluindo funcionários, clientes, comunidades e o meio ambiente. Uma outra forma de me referir a este item é EGOssistema vs ECOssistema. A Patagonia, uma empresa de roupas e equipamentos outdoor, prioriza a sustentabilidade e a responsabilidade social, demonstrando uma abordagem de negócios voltada para os stakeholders. Vale ressaltar que pesquisas evidenciam que empresas orientadas aos stakeholders têm retornos financeiros 4,8 vezes superiores, além de outros vários resultados. (Humanizadas, 2022).
Como é a cultura organizacional e as decisões estratégicas da sua empresa? São Ego ou Ecológicas?
12. Centralização vs Descentralização:
A descentralização é um tema que vem ganhando cada vez mais evidência com a era digital. A tomada de decisões descentralizada pode permitir maior agilidade e capacidade de resposta. O blockchain é um exemplo de tecnologia que permite a descentralização, permitindo transações consideradas seguras e confiáveis sem a necessidade de uma autoridade central.
13. Curto prazo vs Longo prazo (ambidestria):
Considere equilibrar ações de curto prazo com uma visão de longo prazo. Empresas como a Tesla e a SpaceX investem em inovação de longo prazo, mesmo enfrentando desafios e pressões de curto prazo. Essa abordagem ambidestra permite o crescimento sustentável e a criação de valor ao longo do tempo. Com certeza, é de fundamental importância atender aos desafios presentes, implementando melhorias contínuas no negócio, mas na mesma medida, conforme já apresentado nos itens anteriores, dedicar tempo, energia e recursos com olhar para o futuro são decisivos para a sobrevivência da organização. De uma forma mais “agressiva”, é preciso identificar o que pode matar o seu negócio no futuro, antes que um possível concorrente o faça (lembra do item 1?).
14. Lucro vs Sustentabilidade:
Enquanto o lucro é essencial para a sobrevivência das empresas, vale reconhecer a importância da sustentabilidade ambiental e social. A empresa Patagonia incentiva seus colaboradores a se envolverem em ações de voluntariado e projetos comunitários relacionados à sustentabilidade. Eles oferecem programas de licença remunerada para que os funcionários possam dedicar tempo a causas ambientais e sociais. Na verdade, segundo pesquisas, atuar com práticas sustentáveis pode dar lucro maior e por mais tempo.
15. Local OU Global vs Local E Global:
Uma mente inovadora busca expandir sua atuação além das fronteiras, mas não deixa de considerar e se conectar com as comunidades locais. A Coca-Cola, apesar de ser uma empresa com atuação global, adapta seus produtos e estratégias para atender às necessidades locais de cada mercado.
Considerando estas 15 chaves, podemos concluir que uma mente inovadora abraça a mudança, desafia paradigmas tradicionais e busca oportunidades em ambientes incertos. Que o tema inovação em sua empresa possa ser desmistificado ao “virar as chaves” na mente, tornando-a mais ágil e adaptativa para impulsionar o sucesso e a sustentabilidade a longo prazo.
Qual outra “chave” você considera que é importante “virar” na mente coletiva da empresa para desbravar o século XXI?
Fábio Ban é Educador em Mentor de Inovabilidade e Ambidestria, Conselheiro TrendsInnovation e Líder da Filial Regional do Capitalismo Consciente no Paraná
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