Capitalismo Consciente: Uma resposta ao descredito do ESG

Nos últimos anos, o ESG (Environmental, Social and Governance) tornou-se uma diretriz essencial para empresas comprometidas com a sustentabilidade e a responsabilidade corporativa. No entanto, mudanças políticas e institucionais ao redor do mundo colocaram sua credibilidade em xeque, tornando-o alvo de ceticismo e questionamentos — não apenas por dúvidas sobre a efetividade das
políticas de diversidade e práticas ambientais, mas também devido à superficialidade e à falta de transparência e real transformação estrutural nas organizações e impacto nos próprios elementos do ESG.

Diante dessa incerteza sobre qual o melhor caminho a ser trilhado pelas organizações a abordagem mais abrangente e transformadora: o Capitalismo Consciente seja a jornada a ser seguida. Enquanto o ESG foca em diretrizes e métricas específicas, o Capitalismo Consciente propõe uma mudança estrutural na forma como os negócios são conduzidos, indo além do cumprimento de normas para criar impacto positivo genuíno e duradouro.

1.ESG: Um Marco Importante, Mas Insuficiente

O ESG nasceu como uma tentativa de trazer responsabilidade ambiental, social e de governança para o centro da estratégia empresarial. Sua proposta trouxe avanços significativos, como a transparência nas relações corporativas, a gestão sustentável de recursos e o compromisso com a diversidade e inclusão.

No entanto, ao longo do tempo, o ESG começou a ser percebido como:

• Uma obrigação regulatória mais do que uma transformação real dos negócios.

• Um conjunto de métricas que podem ser manipuladas sem necessariamente gerar impacto
positivo.

• Uma abordagem fragmentada, que trata cada perspectiva (E, S e G) de forma isolada, sem
integrar a visão de longo prazo e estratégica das empresas.

• Vulnerável a pressões políticas, resultando em perda de credibilidade e inconsistências na
sua aplicação global.

Com isso, muitas empresas adotaram o ESG de forma superficial, transformando-o mais em uma estratégia de marketing do que em uma verdadeira filosofia de negócios. Fazendo surgir o fenômeno do greenwashing, quando empresas simulam responsabilidade ambiental sem ações concretas.

Além disso, a ênfase excessiva em métricas pode levar a um foco estreito e curto-prazo, no qual o objetivo se torna apenas atender requisitos de investidores e reguladores, em vez de promover uma mudança genuína no modelo de negócios.

2. O Capitalismo Consciente: Um Novo Paradigma para os Negócios

O Capitalismo Consciente não se opõe ao ESG – pelo contrário, ele o incorpora e o expande. Criado por Raj Sisodia e John Mackey, essa abordagem propõe um modelo de negócios baseado em quatro pilares fundamentais: Propósito Maior, Integração de Stakeholders, Cultura Conscientes e Liderança Consciente. Esse conjunto de pilares vai muito além do ESG porque:

• Vai além das métricas: enquanto o ESG se preocupa em reportar indicadores, o Capitalismo Consciente foca na transformação cultural.

• Tem um pilar adicional: o ESG cobre os aspectos ambientais, sociais e de governança, mas não aborda a liderança consciente, essencial para mudanças reais e sustentáveis.

• Não depende de regulações externas: enquanto o ESG pode ser afetado por mudanças políticas, o Capitalismo Consciente se baseia em valores intrínsecos das empresas.

3. Por Que o Capitalismo Consciente é a Resposta Para Empresas
Lucrativas e Sustentáveis?


A transformação do mundo corporativo exige mais do que conformidade com regras – exige um compromisso genuíno com a sociedade. O Capitalismo Consciente se apresenta como uma alternativa mais sólida e duradoura porque:

• Cria organizações resilientes – Empresas conscientes constroem relações mais fortes com seus stakeholders, tornando-se mais resistentes a crises.

• Gera valor real e sustentável – Ao invés de focar apenas em curto prazo e em atender a reguladores, foca no impacto positivo de longo prazo.

• Atrai e retém talentos – Pessoas buscam propósito no trabalho, e empresas alinhadas com valores autênticos se tornam mais atrativas para os melhores profissionais.

• Constrói marcas mais fortes e confiáveis – Empresas que agem de forma consciente conquistam a confiança do mercado e da sociedade.

4. A Liderança Consciente Como Diferencial

O fator que realmente diferencia o Capitalismo Consciente do ESG é a liderança consciente. Sem uma liderança voltada para o bem comum, qualquer métrica ESG corre o risco de ser apenas um número em um relatório. Líderes conscientes não apenas implementam práticas ESG, mas moldam a cultura organizacional para que essas práticas se tornem parte essencial da identidade da empresa.

Além disso, a liderança consciente atua como guardião dos valores e da estratégia da empresa, assegurando que decisões sejam tomadas com base em princípios sólidos e alinhadas a um propósito maior. Diferente do ESG, que muitas vezes é tratado como um requisito externo a ser cumprido, a liderança consciente promove uma transformação de dentro para fora, gerando um impacto genuíno e sustentável. Isso significa que decisões estratégicas, realizadas por uma liderança consciente, garantem que os interesses dos stakeholders estejam alinhados à agregação de valor, à perpetuação de longo prazo da organização.

Empresas como Barry-Wehmiller têm demonstrado como a liderança consciente pode transformar negócios e comunidades. A empresa eliminou práticas que demonstram desconfiança (como detectores de metal, controles de acesso e relógio-ponto) e colocou a cultura baseada em confiança e cuidado das pessoas no centro da sua estratégia. Como resultado, tornou-se altamente lucrativa, sustentável e admirada pelos seus stakeholders.

A liderança consciente, portanto, não apenas fortalece o ESG, mas redefine sua aplicação, transformando-o de um checklist regulatório em um verdadeiro motor de mudanças estruturais dentro das empresas.

O Futuro dos Negócios Está na Consciência, Não Apenas no Compliance

O ESG teve um papel importante ao trazer a sustentabilidade para a pauta corporativa, mas ele não é suficiente para garantir negócios mais humanos, lucrativos e sustentáveis, muito menos regenerativo impactando positivamente a sociedade.

O Capitalismo Consciente se posiciona como o próximo passo na evolução das empresas, trazendo uma visão que integra propósito, stakeholders e cultura organizacional — e que, acima de tudo, forma líderes conscientes, capazes de guiar organizações para um impacto positivo genuíno e duradouro.

Se o ESG está em crise, talvez seja hora de repensar o modelo de negócios e adotar uma abordagem mais profunda e transformadora. O caminho para empresas verdadeiramente sustentáveis, lucrativas e respeitadas passa pela ampliação da consciência, e não apenas pelo cumprimento de regras.


Autor

Daniel Fünkler Borelli, A.Gente do Capitalismo Consciente Brasil

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