Chegou o dia dela, cuja importância em nossas vidas é inegável. Precisamos de água para as tarefas mais cotidianas, como preparar alimentos, cuidar da nossa higiene pessoal, lavar roupas e matar a sede, e para a produção de todo e qualquer item necessário ao nosso bem-estar.
A água usada em nosso dia a dia não “brota” da torneira, mas, sim, de rios, lagos e nascentes. E ela não é ilimitada como muita gente pensa: apesar de mais de 70% da superfície da Terra ser coberta por água, apenas 2,5% dela é doce e só pouco mais de 1/3 desse volume está disponível para o nosso consumo imediato — o restante encontra-se em estado sólido em geleiras, nas coberturas de gelo e neve ou em subsolos congelados.
Quer entender o que isso significa? Se toda a água do planeta coubesse em uma garrafa PET de 2 litros, somente 3 das mais de 40 mil gotas estariam disponíveis de forma imediata para o consumo.
Não bastasse ser um recurso finito, a humanidade tem extraído água em um ritmo mais rápido do que as fontes naturais conseguem repor e poluído as águas em uma velocidade maior do que a capacidade de despoluir, o que é bastante preocupante. Por isso, neste 22 de março, Dia da Água, ressaltamos a importância de repensar o nosso consumo, para evitar desperdícios e proteger as nascentes.
Água na minha torneira — e na de todas as pessoas
Em 2010, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o acesso à água limpa e segura e o saneamento básico como direito humano essencial para se gozar plenamente a vida e todos os demais direitos. Ainda assim, cerca de 2 bilhões de pessoas no mundo (quase dez vezes a população do Brasil) e 35 milhões de brasileiros (16% dos habitantes do país) não têm acesso à água potável e de qualidade.
Apesar dessa lacuna no acesso, a demanda global por água tem aumentado significativamente: 600% nos últimos 50 anos, um crescimento anual médio de 1,8%, muito maior que o índice de
crescimento da população (1,2% por ano, desde 2011).
Se voltarmos o olhar para o Brasil, notamos que o consumo diário de água é de 152,1 litros por pessoa, muito mais do que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, de 50 a 100 litros. Outro grande problema são as perdas na distribuição para o consumo, que na média nacional alcançam quase 40% — o que equivale a 7,5 mil piscinas olímpicas cheias por dia.
É claro que esse problema complexo exige políticas públicas e ações de empresas para melhorar a gestão da água. Mas nós, sociedade civil, também podemos contribuir. Além de cobrar medidas eficazes dos outros atores sociais, podemos reduzir desperdícios e adotar hábitos de consumo consciente em nosso cotidiano para diminuir a nossa demanda diária e, consequentemente, as perdas na distribuição.
Economizar água em tarefas do dia a dia é mais simples do que parece. E resulta em conservar este recurso natural e, direta ou indiretamente, colaborar no cumprimento das metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6, como, por exemplo, alcançar o acesso universal e equitativo à água potável e segura para todos, o acesso a saneamento e higiene adequados e equitativos para todos e melhorar a qualidade da água até 2030.
CONFIRA MANEIRAS SIMPLES DE AGIR EM RELAÇÃO À ÁGUA, QUE EXIGEM POUCO ESFORÇO DA SUA PARTE, E CONTRIBUEM BASTANTE PARA SUA ECONOMIA:
Ao deixar de comprar uma calça jeans que você não precisa, poupa 5.196 litros d’água. Isso é suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas ao longo de 70 dias (beber, fazer a higiene pessoal, cozinhar e para fins sanitários).
Ao deixar de comprar uma camiseta de algodão que você não precisa, poupa 2.700 litros d’água. Isso é suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas ao longo de 36 dias (beber, fazer a higiene pessoal, cozinhar e para fins sanitários).
Ao deixar de consumir carne vermelha um dia (dois bifes), você poupa 2.700 litros d’água. Isso é suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas ao longo de 36 dias (beber, fazer a higiene pessoal, cozinhar e para fins sanitários). Se convidar 3 familiares a adotarem o dia sem carne junto com você, será economizada água suficiente para uma pessoa suprir suas necessidades por 144 dias — quase 5 meses!
Ao deixar de consumir uma só barrinha de chocolate de 20 gramas, você poupa 344 litros. Isso é suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas ao longo de quase 5 dias (beber, fazer a higiene pessoal, cozinhar e para fins sanitários). Se você convidar 3 familiares a fazerem o mesmo, será economizada água suficiente para uma pessoa suprir suas necessidades por quase 20 dias.
Tem, mas tá secando
Cadê a água que estava aqui? Esta foi uma pergunta recorrente que os cientistas do MapBiomas se fizeram após análise de imagens de satélite do território do Brasil entre 1985 e 2020. Eles perceberam que houve uma redução de 15,7% da superfície de água no país desde 1991, caindo de quase 20 milhões de hectares para 16,6 milhões de hectares. E os dados mostram que essa redução é uma tendência, ou seja, corremos o risco de perder mais água de todos os biomas se mantivermos os nossos padrões de produção e de consumo.
Mas o que nossos padrões de produção e de consumo têm a ver com isso? Segundo Carlos Souza Jr., coordenador do Projeto MapBiomas – Mapeamento da superfície de água no Brasil, os fatores que podem explicar a redução da superfície de água no Brasil nos últimos 36 anos estão diretamente relacionados a esses padrões: “A dinâmica de uso da terra baseada na conversão da floresta para pecuária e agricultura interfere no aumento da temperatura local e muitas vezes altera cabeceiras de rios e de nascentes, podendo também levar ao assoreamento de rios e lagos. A construção de represas em fazendas para irrigação, bebedouro ao longo de rios diminui o fluxo hídrico; e, em maior escala, as grandes represas para produção de energia, com extensas superfícies de água sujeitas a processos de evapotranspiração que leva à perda de água para a atmosfera”, explica.
O estado com a maior perda absoluta e proporcional de superfície de água foi o Mato Grosso do Sul, com redução de 57%. Isso se deu basicamente no Pantanal, mas toda a bacia do Paraguai é afetada. Em segundo lugar está o Mato Grosso, seguido por Minas Gerais.
De acordo com as análises, vários pontos de maior redução da superfície da água encontram-se próximos a fronteiras agrícolas, sugerindo que o aumento do consumo e a construção de pequenas represas em fazendas, que provoca assoreamento e fragmentação da rede de drenagem e vem junto com o desmatamento, são fatores que podem explicar essas diminuições. Soma-se a isso a crise climática e o aumento de temperatura global, que também já estão contribuindo para a redução da superfície de água no Brasil.
Para reverter este processo, Carlos Souza Jr. ressalta a necessidade de políticas e gestão de recursos hídricos que considerem o combate à crise climática: “O primeiro passo é ter um diagnóstico do problema na escala de bacias hidrográficas para identificar quais fatores estão comprometendo a disponibilidade de recursos hídricos. Segundo, é possível desenvolver um plano de ação multissetorial para mitigar e até mesmo reverter o problema. Mas não podemos nos esquecer que boa parte da solução vai depender de reduzir as emissões de gases estufa para controlar o aumento da temperatura global”.
Um plano de ação multissetorial, como o especialista indica, também passa pela sociedade civil. Cada um de nós pode contribuir para a preservação dos recursos hídricos não apenas reduzindo o desperdício de água, mas também fazendo escolhas que contribuam para o combate à crise climática.
CONFIRA 4 HÁBITOS SIMPLES DE CONSUMO CONSCIENTE QUE
VÃO NA DIREÇÃO DO COMBATE DO AQUECIMENTO GLOBAL:
- Diminua o consumo de carne bovina: de toda a poluição climática gerada pelo Brasil desde 1990, a atividade agropecuária foi responsável por 80% das emissões.
- Reduza o desperdício de alimentos: Cerca de 8% das emissões mundiais originam-se do desperdício de alimentos. A América Latina e o Caribe são responsáveis por 6% das perdas e desperdícios globais.
- Economize energia elétrica: No Brasil, o setor de energia como um todo é responsável por 19% das emissões anuais e, deste total, cerca de 13% correspondem às emissões associadas à geração de eletricidade.
- Faça trechos curtos a pé ou de bike: o transporte individual (carros e motos) emite três vezes mais gás de efeito estufa do que o principal transporte coletivo à nossa disposição, o ônibus, e seis vezes mais que o metrô.
Conheça outros caminhos para adotar no seu dia a dia no guia Primeiros Passos:
o consumo consciente é pra você também: passos.akatu.org.br/