Durante a realização do III Fórum Brasileiro de Capitalismo Consciente, o painel “Governanças aliadas co Capitalismo Consciente: Caminhos e Estratégias” reuniu especialistas de renome para discutir temas cruciais nos cenários empresarial e social. Gabriela Baumgart, empresária paulista e presidente do conselho do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC); Márcia Rocha, mulher trans, advogada, conselheira da OAB/SP e criadora do Projeto TransEmpregos; e Elizabete Scheibmayr, cofundadora da Uzoma Diversidade e Cultura, compartilharam suas experiências e visões sobre governança corporativa e diversidade nos negócios.
Gabriela, membro da terceira geração de uma família empresarial e conselheira de empresas, destacou a importância da Governança Corporativa, especialmente em um contexto tumultuado e imprevisível como o atual. Ela definiu Governança Corporativa como “um sistema pelo qual as empresas são monitoradas, orientadas e à luz de vários princípios.” Gabriela apontou os princípios fundamentais da governança, incluindo ética nos negócios, propósito organizacional, transparência, equidade, integridade e sustentabilidade.
Em relação aos desafios, Gabriela citou a necessidade de adaptar a governança a diferentes formatos e tamanhos de organizações, inclusive para empresas familiares. E indicou o Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa pelo IBGC para os participantes explorarem os princípios que regem esse sistema.
Elizabete, mulher preta, advogada e sócia de uma consultoria de diversidade, abordou a importância da diversidade como elemento crucial para a longevidade das empresas. Ela enfatizou a necessidade de uma liderança diversa, indicando que “diversidade é crucial para qualquer organização.” Elizabete desafiou as empresas a superarem obstáculos tradicionais e a adotarem práticas criativas para atraírem diversidade, indo além de suas bolhas habituais.
A conselheira ainda mencionou a relevância da comunicação transparente, apoiada na cultura organizacional e nos valores organizacionais, defendendo a criação de metas e a necessidade de abordar a diversidade não apenas internamente, mas também em relação aos fornecedores e parceiros de negócios.
Márcia, empresária trans e criadora do Projeto TransEmpregos, compartilhou sua visão sobre a diversidade como vantagem competitiva nos negócios. Ela destacou a necessidade de reconhecer a diversidade em todos os níveis da sociedade e nas lideranças das organizações e ressaltou que a diversidade não é apenas uma questão de oportunidade, mas uma responsabilidade fundamental.
Ao abordar a falta de representatividade nos órgãos legislativos, executivos e judiciários, Márcia disse que é necessário lapidar os “diamantes brutos” na sociedade, utilizando todo o potencial diversificado que está sendo negligenciado. Ela argumentou que a diversidade não só é boa para os negócios, mas também é essencial para o desenvolvimento sustentável da sociedade.
O painel destacou a importância de integrar a educação corporativa como parte fundamental das estratégias de governança e diversidade. Vitor, moderador do painel e CEO de uma empresa de educação corporativa, a Profissas, ressaltou como a educação é essencial para reprogramar práticas e processos obsoletos, promovendo uma visão mais inclusiva e plural.
Governança corporativa como pilar estratégico
No universo dinâmico das start-ups e scale-ups, onde a agilidade e a inovação são palavras de ordem, a incorporação de práticas de governança corporativa e ESG (Environmental, Social and Governance) pode parecer desafiadora. Contudo, Gabriela, especialista com mais de 15 anos de experiência em conselhos, compartilhou insights valiosos sobre como essa adaptação pode ser não apenas possível, mas também uma alavanca para o sucesso dos negócios.
Ela destacou a importância de uma governança ágil, leve e orientada para resultados. E afirmou que a governança não se limita a conselhos formais, mas pode incluir conselhos consultivos e outras ferramentas que proporcionem decisões estratégicas eficientes: “A governança tem que te ajudar nessa jornada e gerar valor com agilidade.”
Um ponto fundamental citado por Gabriela é a necessidade de entender que a governança não é um conceito estático, mas sim uma prática adaptável a diferentes estágios de maturidade dos negócios. Gabriela mencionou a existência de um grupo dedicado ao estudo de “governança do futuro” no IBGC, incorporando até mesmo inteligência artificial e ética nas decisões empresariais.
A questão do ESG foi trazida à tona por Gabriela como um elemento interdependente. Ela destacou a importância de não separar as letras, enfatizando que a Governança (o “G” do ESG) cria um ambiente organizado para a atuação nas áreas ambiental e social: “A interdependência desses elementos é crucial e não deve ser negligenciada.”
Para empresas em estágios iniciais, Gabriela sugere um olhar atento ao momento atual, avaliando se há um planejamento estratégico, se as competências necessárias estão presentes e como atrair e desenvolver talentos alinhados aos valores da organização. Ela enfatizou a necessidade de trazer todos os stakeholders para a mesma página, promovendo a troca de informações e o aprendizado contínuo.
A perspectiva de Elizabete sobre diversidade e inclusão, ressaltou a importância de compreender as diferentes jornadas das empresas e a necessidade de alinhar a cultura desde o início. Ela enfatizou que a cultura é a espinha dorsal de uma empresa e falou sobre a importância de valores pessoais e corporativos alinhados.
A temática da diversidade foi ampliada por Márcia, que compartilhou experiências reais sobre a inclusão de pessoas trans no ambiente corporativo. Ela falou sobre a importância da educação, do preparo dos stakeholders e da desconstrução de viéses inconscientes para promover um ambiente mais inclusivo.
A palestra chegou ao fim com reflexões sobre a necessidade de trazer oportunidades para grupos historicamente invisibilizados pela sociedade, como uma responsabilidade social e uma forma de reparação histórica. O diálogo evidenciou que a diversidade e inclusão não são apenas valores éticos, mas também impulsionadores de inteligência de negócio, produtividade e pertencimento.
Em um contexto empresarial moderno, a governança corporativa e o ESG se revelam não como obstáculos, mas como catalisadores para o sucesso. O aprendizado constante, a adaptação ágil e a valorização da diversidade emergem como pilares fundamentais para orientar as organizações rumo a um futuro mais sustentável e equitativo.