por Eder Campos*
O mundo dos negócios é cheio de moda e de jargões. ESG é o termo da vez, ganhou capa de revista, e todo mundo agora se depara com essa sigla que envolve a preocupação com Ambiental, Social e Governança.
Mas não podemos nos iludir. O valor não está no discurso, mas no coração. Digo coração para ir além da prática. Praticar sem acreditar é viver na moda, daqui a pouco descarta suas vestes em busca da nova coleção.
Gosto e defendo o movimento do capitalismo consciente (imperioso que já defendi antes – clique aqui e confira). Recentemente até conheci um instituto brasileiro com essa bandeira e deixo convite a todos (clique aqui).
A prática do ESG está no cerne do capitalismo consciente, ou como os fundadores do movimento cunharam, das “Empresas Humanizadas”.
Todo negócio sempre criou e sempre vai criar valor para os clientes, empregados, comunidades, fornecedores e os financistas que fazem o investimento. As empresas humanizadas são as companhias que percebem esse princípio de criação de valor para os stakeholders e se orientam em torno dele. (Livro Empresas humanizadas – pag. ix)
Para estar no coração, a empresa precisa de ter alma
Cada vez mais os conceitos racionais de geração de valor em torno de posturas responsáveis com todos os stakeholders (clientes, fornecedores, colaboradores, acionistas e comunidade) são conhecidos e reconhecidos. Não à toa, ESG virou moda.
Reconhecer e colocar em prática é o primeiro passo. Mas precisa de ter autenticidade, ir além de investir, de criar uma área, declarar na estratégia, é necessário estar na alma.
“Defendemos que para as melhores perspectivas de sucesso no futuro, as empresas terão de combinar uma dimensão emotiva com eficácia operacional. Alguns têm chamado a dimensão emotiva de a “alma de uma empresa”. Empresas sem alma encaram um futuro duvidoso.” (Livro Empresas Humanizadas – p.4)
Daqui encaramos o real desafio de cultura, de entender que os conceitos em vivência estão nas atitudes e escolhas diárias. Nas crenças e comportamentos das lideranças, dos executivos.
“A Cultura de uma empresa é uma janela na alma executiva” (Livro Empresas Humanizadas – p.31)
Empresas Humanizadas se preocupam com as pessoas, seus colaboradores, seus clientes. Encaram fornecedores como parceiros. A comunidade como ativo intangível de sua atuação.
Uma nova escola de negócios se faz necessária
O discurso é lindo, a realidade complexa. Como diria Murilo Gun, complexo é tecido junto. Não podemos desprezar os fatores e suas relações. Soluções simplistas ou obstinações dogmáticas colocam em risco todo o discurso ao se deparar com a realidade.
Gestor, executivo, imperioso que seja um ser pensante. Refletir, discordar… parece simples, mas envolve sair do lugar confortável na vida das corporações.
Dois aspectos simples: plano e meta. Lugar comumente de valor é a tal da meta. Perseguir a meta, alcançar o resultado. Confortável é ter um plano a seguir.
Contudo, a complexidade do mundo real, no qual as coisas estão todas juntas e misturadas, exige cada vez mais uma postura diferente. Como aliar curto e longo prazo nas decisões? Como definir que é melhor não alcançar determinada meta, pensando com o coração?
Desafio você a entender o valor desse tipo de postura na sua organização. Quantas vezes já deixou de alcançar “a meta” ou seguir “o plano” por propósito? Aqui estará o verdadeiro valor das Empresas Humanizadas, o ESG real.
“(…) atingir sucesso nos negócios é menos uma questão de obsessão sobre finanças do que se concentrar em como uma empresa pode criar valor para todos os stakeholders.” (Livro Empresas Humanizadas – p.124)“(…) o ganho do acionista continua a ser um fator extremamente importante no negócio, mas ele não é mais o fator supremo na gestão das empresas” (Livro Empresas Humanizadas – p.239) […] “cuidar dos stakeholders o novo darwinismo social no mundo dos negócios” (Livro Empresas Humanizadas – p.232)
Uma dica simples: concentre nas pessoas, seja humano.
A construção de uma empresa humanizada, de uma cultura de coração para com o ESG é uma jornada. Acho, acredito e pratico, que o passo inicial é ser preocupado com pessoas.
Quando você fala de demissão, de afastamento de algum colaborador ou a notícia de uma gravidez na sua equipe, qual sua reação?
Pensa nos impactos operacionais e nos custos envolvidos ou nas pessoas primeiro?
Quando pensa em negociar com fornecedores, quantas vezes já propôs pagar mais por entender o momento e necessidade de ajudar o outro lado? Ou somente tem o mantra de “cortar custos”?
Não se culpe por já ter pensado primeiro nos negócios… reconheça e pratique a mudança!
“(…) é tudo sobre as pessoas. Se você puder se concentrar na criação de um grande ambiente para os empregados se sentirem engajados, conectados, respeitados, desafiados e recompensados, eles farão coisas extraordinárias para os clientes; que por sua vez, levarão ao sucesso do negócio sustentado.” (Livro Empresas Humanizadas – p.188)“A confiança é sempre mais forte em relacionamentos onde ela acontece em ambas as direções. Incontáveis empresas querem que os clientes confiem nelas, mas não retribuem essa confiança. Empresas Humanizadas entendem a recompensa em cuidar e confiar dos clientes. Sim, de vez em quando um cliente vai abusar do sistema, mas Empresas Humanizadas não comprometerão os benefícios que fluem para muitos por causa das transgressões de alguns.” (Livro Empresas Humanizadas – p. 115)
Você pode ler tudo isso e culpar seus líderes por não terem tais crenças. No limite a escolha de ficar nessa organização é sua. Contudo, mesmo que fique, desafio a praticar e dar esses primeiros passos com sua equipe. Comece simples como deve ser: pessoas cuidando de pessoas. Seja o exemplo para lidar com a complexidade que se segue naturalmente.
*Eder Campos é Embaixador do Capitalismo Consciente.