Nos últimos 6 meses estive em um ritmo diferente de vida devido a um período sabático que, embora não exatamente planejado, veio no momento certo, momento em que eu estava com a mente e o coração totalmente abertos para conhecer projetos, pessoas, iniciativas, ideias, histórias e formas diferentes de pensar os negócios e conduzir empresas.
Sempre gostei muito de trabalhar no mundo corporativo, que me deu a oportunidade de realizar muitas coisas, de liderar equipes sensacionais, de me sentir útil, produtiva e de aprender todo dia algo novo. Mas sentia um certo incomodo, um desconforto em algumas situações, como se eu estivesse fora do tom, às vezes até um pouco deslocada dos meus pares. Como gestora sempre procurei agir com firmeza e segurança em minhas decisões e convicções e de forma bem objetiva e direta em diversas situações, mas sempre achava perfeitamente possível combinar isto com uma postura mais humanizada, menos agressiva, mais cooperativa e mais alegre.
Então, ao ler e estudar sobre Capitalismo Consciente, movimento fundado por Raj Sisodia e John Mackey nos Estados Unidos, e conhecer detalhes das empresas e das lideranças que vem colocando em prática esta filosofia de negócios no mundo inteiro e aqui no Brasil tive aquela sensação incrível de ter me encontrado, de ter encontrado a minha turma, de ter encontrado uma forma de pensar os negócios totalmente alinhada com meus valores e princípios. E vi também que o movimento tem tomado força aqui no Brasil, por meio do Instituto Capitalismo Consciente Brasil, liderado por empresários e lideranças que querem ajudar a transformar o Brasil por meio da inspiração de negócios conscientes, sustentáveis e inovadores.
Sinto-me totalmente pronta para atuar em uma empresa que deseja seguir este caminho, em um negócio que tenha ou queira desenvolver as características mencionadas no que eu chamo de “Manifesto do Capitalismo Consciente”, o qual extraí do livro “Capitalismo Consciente: como libertar o espírito heroico dos negócios”, de Sisodia e Mackey:
“Imagine um negócio construído sobre o amor e o cuidado (e não sobre o stress e o medo), tocado por uma equipe cujos membros são apaixonados e comprometidos com o trabalho e cuja rotina transcorra em clima de intensidade focada, colaboração e camaradagem. Em vez de esgotados e tensos, esses trabalhadores se encontram ao final do dia reenergizados com a inspiração e o compromisso que os atraíam para o negócio desde o início – a oportunidade de se sentirem como parte de algo maior do que eles mesmos, de fazer a diferença, de agregar um propósito à forma como se ganha a vida.”
“Pense em uma empresa que se preocupa profundamente com o bem-estar dos seus clientes, encarando-os não como consumidores, mas como seres humanos de carne e osso a quem tem o privilégio de servir. Isso significa não mais enganar, maltratar ou ignorar seus clientes, mas dedicar a eles o cuidado que qualquer pessoa daria a seus entes queridos. A equipe da empresa, assim, experimentaria a alegria de servir, de enriquecer a vida dos outros.”
“Visualize um negócio que envolva também as pessoas de fora da empresa, inserindo-as de verdade no círculo íntimo de relacionamentos e tratando-as com o mesmo amor e o mesmo cuidado dispensados aos clientes e à equipe. Imagine uma empresa comprometida com os valores da cidadania em todas as comunidades em que atua, elevando e contribuindo de várias maneiras para o aperfeiçoamento da vida cívica. Imagine uma empresa que vê seus concorrentes não como inimigos a serem derrotados, mas como professores com quem se pode aprender muito e companheiros de viagem na jornada rumo à excelência. Projete um negócio realmente preocupado com o planeta e com todos os seres sencientes que nele habitam – uma empresa que celebre as glórias da natureza, que vá além do carbono neutro para tornar-se uma força de cura capaz de devolver a vitalidade sustentada à ecosfera.”
“Imagine uma empresa extremamente cuidadosa com as pessoas que contrata, uma companhia na qual todos desejam entrar e da qual ninguém quer sair. Imagine um negócio com pouquíssimos gerentes, que não precisam olhar por cima dos ombros das pessoas para se certificar de que estão trabalhando ou sabem o que fazer. Um negócio autogerido, automotivado, auto-organizado e autocurável, como qualquer ser senciente e evoluído.”
“Enxergue em sua mente um negócio que escolha e promova líderes pela sabedoria, pela capacidade de amar e cuidar de seus comandados, por orientar e inspirar as pessoas e não por iludi-las ou puni-las. Esses líderes tem um vivo entusiasmo pela equipe e pelo propósito do negócio, importando-se menos com poder ou enriquecimento pessoal.”
“Imagine uma empresa na qual exista um ciclo virtuoso de criação multifacetada de valor, gerando impacto social, intelectual, emocional, espiritual, cultural e físico, além de riqueza ecológica e bem-estar para todos, ao mesmo tempo que obtém resultados superiores ano após ano, década após década. Pense em uma empresa que, embora reconheça a limitação dos recursos do planeta, saiba que a criatividade humana é ilimitada, promovendo continuamente condições para as pessoas explorarem seu extraordinário, quase milagroso, potencial.”
“Tais empresas – impregnadas com propósitos elevados, fermentadas em autêntica solidariedade, influentes e inspiradoras, igualitárias e comprometidas com a excelência, confiáveis e transparentes, admiradas e imitadas, amadas e respeitadas – não são entidades imaginárias nem vem de alguma utopia ficcional. Elas existem no mundo real. Hoje, há algumas dezenas delas, mas em breve serão centenas, talvez milhares. Nas próximas décadas, companhias como essas vão transformar o mundo e elevar a humanidade a novos patamares de bem-estar espiritual e emocional, vitalidade física e abundância material.”
Bem vindo ao novo mundo heroico do capitalismo consciente 🙂
Autora:
Francine Pena Póvoa
Executiva – Gestão Estratégica de Produtos – Educação Corporativa – Impacto Social
