Liderança Consciente na Década da Ação: Integrando Valores Pessoais aos Objetivos Globais

Será que minhas ações diárias inspiram as pessoas ao meu redor? Como trago essa consciência para o exercício do meu papel? Como eu ajo em favor das transformações que o mundo precisa?

Já sabemos que estamos na Década da Ação da ONU e temos uma Agenda com 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para serem atingidos até o ano de 2030. No entanto, se não nos esforçarmos, o único objetivo que nós brasileiros atingiremos é o ODS 7, energia limpa que, para nós, não significa muita coisa, sendo que nossa matriz energética é predominantemente renovável, com destaque para a energia hidrelétrica.

Pensando nisso, a Rede Brasil Pacto Global lançou, em abril de 2022, o Ambição 2030, com sete movimentos para acelerar alguns ODS, e a convocação das empresas para agirem ou, caso contrário, se mudarem para Marte. Em 2023, a Rede Brasil ampliou a aposta e ainda fez o IPO da Terr4, o IPO mais urgente da história, reforçando a importância do investimento no futuro do planeta, bem como acrescentou mais um movimento. Atualmente, os oito movimentos são: Elas Lideram 2030; + Água; Salário Digno; Raça é Prioridade; Ambição Net Zero; 100% Transparência; Mente em Foco; Conexão Circular.

Contudo, para que haja o devido engajamento com esses movimentos e as mudanças que se fazem necessárias, no Instituto Capitalismo Consciente Brasil fala-se do ODS Zero, que é o da Consciência. Não existem empresas conscientes, sem líderes conscientes. Na formação de líderes e conselheiros promovida pelo ICCB, a correlação vem ainda mais forte: “O líder que você é, é a pessoa que você é!”

Então, para promover uma cultura consciente dentro de sua organização, é feito o convite às pessoas para refletirem sobre seus valores pessoais, para só depois adentrar na Cultura Organizacional. Nela, para além dos valores que compõem sua fundação, a cultura pode e deve ser revisitada em momentos de crescimento acelerado, fusões, aquisições, mudanças de estratégia, produto, liderança, internacionalização, além das novas demandas das sociedade.

O “business as usual” não é mais uma opção. Logo, a agenda ESG, a pandemia do Covid-19 e a emergência climática são eventos que nos levam a rever conceitos, paradigmas e modos de agir. Afinal, estamos todos conectados e nossas ações possuem consequências que reverberam no planeta, na sociedade e são amplamente difundidas pelas mídias sociais, agravando o problema. Afinal, que empresa não tem medo da “política do cancelamento”?

Acresce-se, ainda, que os Millennials e a Geração Z estão muito mais preocupados com o propósito, bem-estar social, do que antigas métricas de carreira e sucesso. Logo, são grandes os desafios da nova liderança com problemas ambientais (aquecimento global, crise hídrica, poluição), demandas sociais (diversidade, equidade, inclusão, etarismo e demais grupos vulnerabilizados), governança (lei geral de proteção de dados, diversidade nos conselhos, propósito das organizações, direito dos acionistas minoritários). Enfim, para se evitar o “vale tudo” em nome do direito dos acionistas (capitalismo de shareholder), um negócio agora deve gerar valor compartilhado, ou seja, diferentes valores para todas as partes interessadas (os chamados stakeholders).

Para além da ética nas relações, do propósito pessoal ser coerente com o propósito da empresa, as organizações precisam trabalhar com alguns princípios basilares, inclusive recomendados no Código de Boas Práticas de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, 6.ª edição, de 2023), como: a integridade entre o discurso e ação prática (“Walk the talk”); a transparência, com informações verdadeiras, sejam elas positivas ou negativas, para promoção de um ambiente de confiança nas negociações; a equidade nas relações, visando a justiça, o respeito, direitos e deveres, bem como as necessidades e anseios das partes interessadas; a responsabilização por seus atos e omissões na prestação de contas, além da clareza e, por fim, a sustentabilidade, pensando na perenidade das organizações e dos serviços ecossistêmicos. Afinal, nem nós e nem nossas organizações existimos em um vácuo e está claro que as empresas estão inseridas em um ambiente com diversos atores.

E onde fica o lucro nisso tudo? Ele continua válido e importante. Contudo, espera-se que ele venha acompanhado de boas práticas. Nem a sociedade e nem o planeta aguentam mais o capitalismo tóxico, ganancioso e predatório.

Na Década da Ação, estamos sendo convocados a ocuparmos o nosso espaço e assumirmos responsabilidades perante o planeta, a sociedade, as empresas, reconhecendo nosso propósito pessoal, para evoluirmos para o organizacional em um processo evolutivo contínuo.

Não à toa, a emergência de outro movimento igualmente importante, os IDGs, Inner Development Goals, que são a busca pelo desenvolvimento dos objetivos internos, que envolvem uma compreensão mais profunda de si, aprimorando habilidades de reflexão, desenvolvimento de uma mentalidade positiva e o cultivo de valores para uma vida mais significativa e equilibrada, baseada em cinco dimensões (ser, pensar, relacionar, colaborar e agir).

Em um mundo VUCA (do inglês, volátil, incerto, complexo e ambíguo) ou BANI (também do inglês, frágil, ansioso, não linear e incompreensível), o quanto precisamos cultivar a resiliência emocional e a capacidade de gerenciar o estresse? O quanto precisamos controlar o impulso e tomar decisões conscientes, alinhando precisão, tempestividade e maturidade institucional? O quanto precisamos desenvolver relacionamentos saudáveis e significativos, bem como praticar a empatia e a comunicação eficaz, para o pertencimento, maior produtividade e engajamento de colaboradores? O quanto precisamos aprimorar a capacidade de nos expressar de maneira clara e assertiva, para promoção do engajamento, além do desenvolvimento de uma escuta ativa?

Só com muito autoconhecimento e autodesenvolvimento, em um processo de lifelong learning, para aprender a lidar com tantas mudanças e toda essa incerteza de maneira adaptável e mais resiliente. Para isso, deve-se evitar apegos excessivos em resultados a curto prazo, focando mais nas mudanças que se fazem necessárias – pequenas ou grandes -, para o alcance dos objetivos pessoais, em consonância com os objetivos da sociedade e do planeta. E que venham os resultados a médio e longo prazo, com sustentabilidade, para a perenidade dos negócios e da qualidade de vida.


Patrícia Almeida é mãe, bióloga de formação, mestre em Saneamento, doutora em Ciências da Engenharia Ambiental, professora de ESG da FGV Online e conselheira da Filial Regional do Paraná do Instituto Capitalismo Consciente Brasil.


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