Mais do que metas e métricas, ESG é sobre cultura e propósito

De acordo com a 6.ª edição do Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa do IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), “a governança corporativa evoluiu significativamente nos últimos anos, expandindo seu foco e valor econômico exclusivamente aos sócios para o objetivo de geração de valor compartilhado entre os sócios e demais partes interessadas. Essa perspectiva contemporânea reconhece a interdependência entre as organizações e as realidades econômica, social e ambiental em que elas estão inseridas.”

Isso significa dizer que não adianta valer-se de modelos antigos com o estágio atual de consciência dos valores humanos e bem-estar social. A miséria, a poluição e a escassez de recursos, amplificadas pelo modo de produção atual, levaram humanidade a repensar o desenvolvimento. Grandes acidentes ambientais, pressões de agências e organizações internacionais, avanços na legislação e o surgimento das ONGs,  contribuíram para a noção de responsabilidade social empresarial.

John Elkinton introduziu o conceito do tripé da sustentabilidade em 1994, afirmando que um negócio sustentável deve ser financeiramente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável. Em 2004, o acrônimo ESG (do inglês, ambiental, social e governança corporativa) foi cunhado pela publicação “Who cares Wins”, do Pacto Global da ONU e Banco Mundial, como uma provocação do secretário geral da ONU a 50 CEOs de grandes instituições financeiras sobre como integrar os aspectos ambiental, social e de governança no mercado de capitais (Pereira, 2020).

Mas para que isso aconteça, os gestores de empresas precisam compreender que o ESG é processo e não linha de chegada. Também não é só sobre métricas e indicadores, é sobre cultura corporativa. Historicamente, os currículos das escolas de administração de empresas trabalhavam com a premissa fundamental – e que tem causado um grande sofrimento desnecessário para as pessoas e para o planeta – de que as empresas existiam para ganhar dinheiro, e qualquer outra coisa não passava de distração, na melhor das hipóteses.

Esse modelo mecanicista, focado apenas em eficiência e otimização, contribuiu para problemas como burnout, síndrome do pânico, aumento das taxas de infarto às segundas-feiras. E tudo isso fica muito claro quando dizemos felizes: finalmente, chegou o “sextou”.

Mas não é sobre o trabalho em si e, sim, sobre o modo pelo qual organizamos, gerenciamos e lideramos organizações. Significa dizer que o mesmo trabalho pode ser fonte de sofrimento e estresse ou pode levar à realização e ao crescimento, dependendo de como é a cultura da empresa. Ao contrário, uma visão holística como descrito no livro “Empresas que Curam”, de Raj Sisodia e Michael Gelb, compreende o sistema como um todo integrado, onde pequenas mudanças podem ter grandes efeitos, valorizando a complexidade e interdependência das relações. 

Um modelo de ganha-ganha-ganha beneficia a empresa, o meio ambiente e a sociedade, reconhecendo que o meio ambiente é a nossa base de sustentação e que possui limites. Empresas devem oferecer um meio de vida digno e sustentável para seus colaboradores, promovendo um ambiente de trabalho baseado em cooperação e equilíbrio familiar, em vez de forças e ameaças. Pessoas felizes e menos estressadas produzem mais e estão mais dispostas a aprender novas habilidades. O desenvolvimento econômico requer uma força de trabalho desenvolvida e esperançosa. 

“Quando você dá oportunidade às pessoas, está dizendo a seus semelhantes que eles fazem parte de algo, têm valor, são relevantes, têm esperança e são suficientes. Como toda empresa que cura, elas cuidam muito bem de seus parceiros – colaboradores, fornecedores, vendedores e clientes. É absurdo tentar separar o bem-estar das pessoas do modo como fazemos negócios. No fundo, todos queremos locais de trabalho que apoiem a integralidade e o desenvolvimento de todos envolvidos. Trabalho como uma incubadora de crescimento pessoal e saúde psicológica” (Sisodia e Gelb, 2020).

Empresas que cuidam bem de seus parceiros e promovem um ambiente de trabalho que apoia a integridade e o desenvolvimento pessoal têm mais sucesso. Criar uma cultura de feedback livre, onde se valoriza tanto o aprendizado quanto o amor, é essencial. Uma empresa deve descobrir e permanecer fiel ao seu propósito, unificando gerência, empregados e comunidades, motivando comportamentos éticos e garantindo a sustentabilidade.

Líderes devem aceitar a complexidade inerente dos sistemas e adotar abordagens flexíveis e adaptativas, tornando-os, assim, mais resilientes.

Isso beneficia a empresa, as pessoas, a sociedade e o meio ambiente, promovendo um equilíbrio saudável e sustentável.

Referências Bibliográficas

IBGC. Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa. PDF. 6.ª edição, 2023.

Pereira, Carlo. ESG é uma preocupação que está tirando seu sono? Calma, nada mudou. O ESG não é uma evolução da sustentabilidade empresarial, mas sim a própria sustentabilidade empresarial. Revista Exame: 08/10/2020. Disponível em: https://exame.com/colunistas/carlo-pereira/esg-o-que-e-como-adotar-e-qual-e-a-relacao-com-a-sustentabilidade/

Sisodia, R.; Gelb M. Empresas que Curam: Despertando a Consciência dos Negócios para ajudar a salvar o mundo. Editora Alta Books: 16/07/2020.


Autora

Patrícia Almeida, conselheira da Filial Regional do Capitalismo Consciente no Paraná.

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