por Francine Póvoa*
Nunca me senti totalmente preparada para ser mãe, afinal quem está totalmente preparado para esta experiência absolutamente única? Ser mãe fazia parte dos meus planos, mas eu tinha mais dúvidas do que certezas sobre o assunto. Será que eu seria uma boa mãe? Será que eu daria conta de equilibrar carreira e trabalho? Será que eu daria conta de tudo, absolutamente tudo?
Quando escolhi o mundo da gestão eu desconfiava que os negócios, se bem conduzidos, poderiam ser uma importante força transformadora da sociedade, não apenas do ponto de vista técnico da gestão, mas também do ponto de vista humano. E sempre tive a convicção de que sensibilidade e razão podem e devem andar juntos, de que é possível gerir um negócio e liderar pessoas com a mente e o coração trabalhando juntos.
Mas, como “gerir” a maternidade? Será que ser mãe caberia dentro do meu currículo?
Durante alguns anos, antes de ficar grávida, quando estava ainda avaliando minhas competências neste quesito, comecei a perceber algumas características da nossa cultura no que se refere à maternidade. Primeiro, uma visão idealizada e o fato de que ser mãe era algo esperado de toda mulher, um “fato natural” na vida de uma mulher. Já naquela época eu considerava que a maternidade deveria ser uma escolha consciente e não uma obrigação. Outra questão que me chamava a atenção eram alguns posicionamentos extremos do tipo, “você só se sentirá completa quando for mãe”; ou “prepare-se, sua vida será um caos depois que for mãe.”
E eu hesitava entre um posicionamento e outro… Será que não haveria um meio termo?
Quando Bia nasceu, há exatamente 14 anos, tive um misto de sensações, às vezes contraditórias. Amor, alegria, cansaço, medo, confiança, coragem, dúvidas, certezas. Como mãe, vivi aqueles desafios clássicos, de me esforçar para equilibrar bem todos os meus papéis pra dar conta de tudo. Várias vezes tinha que pensar em uma logística complexa para conciliar uma viagem de trabalho com uma apresentação de balé da minha filha ou reunião na escola. Quantas vezes me senti culpada por trabalhar muito e até por gostar de trabalhar! Às vezes vinha uma ideia absurda de que eu não era uma boa mãe por isso, que eu não deveria me sentir tão realizada no trabalho.
Mas que bom que vamos amadurecendo e aprendendo com os desafios que a vida nos apresenta! No trabalho fui encontrando a minha forma de agir, de liderar, que refletisse quem de fato eu sou e meus valores. Trabalhei com minha autoconfiança para conquistar meu espaço, defender minhas ideias e lutar por minhas causas. Tive mais clareza sobre meu propósito, na vida e no trabalho: queria contribuir para a construção de um mundo mais justo, equânime e feliz.
Na vida pessoal entendi que eu não tinha que dar conta de absolutamente tudo e de ser perfeita. Dentro das minhas possibilidades eu estava sendo uma ótima mãe e isso era evidente na vida da minha filha, que estava se tornando a cada dia uma criança (agora uma adolescente) mais feliz, independente, segura de si, generosa e justa. Compreendi, não faz muito tempo, que a maternidade tinha tudo a ver com o meu propósito, afinal procuro educar minha filha para que ela possa fazer a diferença, para que possa contribuir positivamente para a humanidade, começando pelos que estão mais próximos a ela nas pequenas coisas do dia a dia.
Estamos vivendo um momento muito desafiador para a humanidade. A pandemia do coronavírus colocou em evidência diversas fragilidades de nossa sociedade e cabe ressaltar o impacto na vida das mulheres, em especial daquelas que são mães de filhos pequenos. As mulheres e mães estão sobrecarregadas e exaustas. Sabemos que no mundo de uma forma geral, e em nosso país em especial, em pleno século XXI, a maior parte do trabalho doméstico e do cuidado com os filhos fica sob a responsabilidade da mulher, mesmo que ela trabalhe “fora de casa”. Dados de pesquisas sobre diversidade e mercado de trabalho realizadas recentemente nos mostram um cenário que merece nossa atenção. De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA, a participação das mulheres no mercado de trabalho em 2020 foi a menor dos últimos trinta anos. Muitas empresas, ao terem de reduzir os custos, demitiram mais mulheres do que homens. De acordo com a pesquisa “Woman in the Workplace”, realizada pela empresa de consultoria McKinsey, uma em cada três mães que trabalham fora nos EUA, estão pensando em deixar o mercado de trabalho ou reduzir a sua jornada devido à exaustão.
E o que nós podemos fazer para mudar esse cenário? Aqui vão algumas dicas:
Se você é mãe, peça ajuda e não se cobre tanto. Permita-se ser ajudada. Converse com o pai dos seus filhos sobre como se sente e como vocês podem se organizar para equilibrar melhor as responsabilidades de ambos, no trabalho e em casa.
Se você é pai, participe efetivamente. Esteja atento a como pode contribuir. Procure ter iniciativa e não fique esperando alguém pedir que você ajude. Pai não ajuda na educação e no cuidado com os filhos, pai educa e cuida também. A responsabilidade pelos filhos e pela casa é de ambos, pai e mãe.
Se você é gestor ou gestora, esteja atento e atenta às necessidades de sua equipe. Considere que há pais e mães e que o momento é muito desafiador para todos. Considere também como você está conduzindo sua vida pessoal neste momento e seu papel de mãe ou pai.
Penso que o momento em que estamos vivendo traz grandes oportunidades de aprendizado sobre como estamos conduzindo os negócios, sobre nosso comportamento como sociedade e também sobre como viver a maternidade. E a maternidade não é única, ela é diferente para cada mulher!
Pessoalmente posso dizer que hoje sou uma mãe melhor e mais feliz e que continuo aprendendo e errando todos os dias, mas felizmente acho que ando acertando mais do que errando!
*Francine Póvoa é mãe da Bia, Diretora Fundadora da Legacy4Business, Embaixadora Certificada e co-líder da Filial Regional do Capitalismo Consciente em Minas Gerais.