Liderança pode ser uma capacidade inata ou desenvolvida. Em qualquer um dos casos, aquele que assumiu, ou tomou o papel de líder, vai passar por momentos desafiadores.
No livro “Liderança Consciente”, John Mackey — CEO da Whole Foods e autor de “Capitalismo Consciente” — relata o dia em que quase foi demitido da empresa que fundou. Uma coincidência também vivida por outro grande líder inspirador — Steve Jobs — que chegou a perder a cadeira mais alta da empresa que criara na garagem da sua casa e, mais tarde, tornou-se um império.
O desenvolvimento pessoal e a liderança
Um líder é, em sua essência, uma pessoa bem-sucedida, inspiradora, servil, humana, que agrega talentos e consegue fazê-los trabalhar de forma extraordinária. Mesmo assim, não são imunes a altos e baixos, medos e fracassos. A dádiva da consciência plena é uma busca interminável que o líder leva para sua jornada de vida.
Mackey define o termo “consciente”: “‘consciência’ é uma palavra que pode ser imediatamente associada ao crescimento pessoal, espiritualidade ou filosofia, em vez de desenvolvimento profissional”. Ou seja, a jornada da liderança consciente passa pelo aprendizado de ser líder de si mesmo.
Um passo de cada vez
Isso não significa que alguém não possa ser ou atuar como líder enquanto estiver percorrendo seu caminho de autoconhecimento e amadurecimento pessoal. Em seu livro “A Organização Dirigida por Valores”, Richard Barrett entende que existem diferentes estilos de liderança para cada nível de consciência da própria organização.
Sim, porque as organizações também passam por níveis de maturidade diferentes. Segundo Barrett, o caminho da mudança do “eu” para o “nós” — tão esperado em um líder consciente — precisa transpor as etapas das necessidades básicas humanas.
Maslow, quando descreveu sua famosa pirâmide, já falava sobre isso. Ele dizia que primeiro o ser humano precisa atender suas necessidades básicas de sobrevivência (alimentação, saúde, segurança) para depois conseguir olhar para suas questões relacionais e de autoestima (amor, família), e só então estar preparado para a realização pessoal.
Já Barrett estendeu o nível da autorrealização e caracterizou a liderança em sete níveis. Os primeiros três focados nas necessidades de fundamento para a organização. O quarto, para as necessidades de transformação/evolução. E, por fim, os últimos três, direcionados à contribuição que essa organização pode dar a sociedade.
Cada nível de desenvolvimento da organização traz consigo um outro de consciência de liderança. A capacidade da organização evoluir e expandir sua consciência dependerá do quanto seu líder estiver apto e trabalhando sua própria expansão de consciência.
O olhar da liderança
Um líder consciente precisa estar preparado para atuar em qualquer nível de necessidade. Afinal, conforme Hugo Bethlem — cofundador e presidente do Instituto Capitalismo Consciente Brasil — relata no prefácio do livro “Liderança Consciente”, “as organizações trabalham duro todos os dias para ganhar dinheiro e gerar um impacto positivo na sociedade e para todos os stakeholders”. Ou seja, não dá pra ficar pintando a parede da sala se está pegando fogo na cozinha. Situações de crise, sejam de origem financeira, relacional ou nascidas de uma catástrofe, pedem que líderes que estejam com olhar mais amplo retornem sua atenção para o que é essencial, como por exemplo, garantir a sobrevivência da organização e das pessoas que atuam nela.
E como manter esse equilíbrio? Como estar preparado para os holofotes do sucesso ao mesmo tempo em que enfrenta uma crise desafiadora? Esse é exatamente o ponto: a liderança consciente passa, primeiramente, pelo fortalecimento do caráter e transformação pessoal, que se apoiam em uma compreensão poderosa da cultura e natureza humana. A começar pela emocional e as necessidades do próprio líder.
*Stela Nesello é Conselheira na Filial Regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul.