Cristina Diaz para Instituto do Capitalismo Consciente
As instituições de Educação Básica, são, por excelência, movidas por altos propósitos. Tanto elas quanto os profissionais envolvidos neste sistema são, essencialmente, movidos por uma missão, uma visão, um sonho de fazer de nosso país um lugar melhor através da Educação. Trabalhar com a formação de crianças e jovens entre 3 e 17/18 anos é algo absolutamente encantador e que exige o melhor de cada um de nós.
Ao trazer este altíssimo propósito para o mercado de escolas particulares, mais precisamente àquelas constituídas sob formas empresariais com finalidades lucrativas, o desafio no equilíbrio entre propósito e lucro pode ser grande. Em alguns casos, parece distante da realidade escolar algumas expressões como lucros financeiros, retorno sobre capital investido, plano de negócios, provisionamento, entre tantos outros termos empresariais tão comuns em outros tipos de empresas. Para alguns donos de escola, normalmente educadores, pode ser pouco relevante ou até impossível parar de “educar” ainda que por alguns minutos, para se preocupar com os aspectos financeiros: “enquanto estivermos pagando nossas contas, não pararemos para pensar no vil metal”.
Por outro lado, o mercado de Educação Básica vem atraindo a atenção, nos últimos anos, do mercado financeiro, dos grandes conglomerados de Educação Superior e de fundos de investimento nacionais e internacionais. A previsibilidade da receita, o crescimento do número de alunos, a baixa inadimplência, a fidelidade, fazem deste mercado um investimento atrativo e seguro.
Atualmente, é um mercado bastante rentável, de aproximadamente 40 mil escolas e 9 milhões de alunos no Brasil.
Esse movimento no mercado de Educação Básica, se levado dentro da lógica capitalista tradicional, enxergando as Escolas meramente como instituições com finalidades lucrativas e, exigindo delas altos retornos financeiros, pode trazer um risco grande de afastamento dos elevados propósitos e missões destas instituições tão peculiares.
Some-se a esse equilíbrio sutil, algumas características intrínsecas das Escolas: elas são intensivas em gente, totalmente dependentes de um tipo específico de profissional – Professores, devem receber e acomodar alunos nas mais diversas configurações familiares, sociais e econômicas, e se tiverem todas as etapas da Educação Básica, elas devem atender muito bem seus “clientes” por 12 a 15 anos, todos os dias, por um período mínimo de 4 horas por dia. Esse atendimento envolve tanto as questões puramente educacionais quanto as questões periféricas como, por exemplo, acolhimento socioemocional, alimentação, atividades extracurriculares, enfermaria, psicólogos etc.
Quem já viveu algum tipo de experiência escolar deve saber que, a cada dia, a Escola é diferente. É um organismo vivo, de alta entropia e fortemente relacional. Os gestores de escolas sabem que, normalmente, passam boa parte de seus dias “apagando incêndios” de várias naturezas e muito menos tempo planejando os destinos da empresa.
Neste contexto, propor que ainda seja possível compatibilizar a finalidade lucrativa com o altos propósitos empresariais parece distante e é aqui que o paradigma do Capitalismo Consciente pode agregar algo muito importante: para além do “OU”, devemos falar sobre o “E”.
E se pudermos ser uma organização movida por altíssimos propósitos e com sólidas finalidades lucrativas? E se pudermos manter o foco no propósito e compreender que a saúde financeira da empresa é o que a permite cumprir sua missão? E se pudermos retornar o capital investido pelos fundos de investimentos e entregar uma Educação integral e de qualidade?
E se utilizarmos uma gestão com base em dados, mas de maneira consciente e humanizada? E se ao tomar decisões levássemos em consideração todos os stakeholders, pensando no que é melhor para nossos alunos, famílias, comunidade, professores, diretores, sistema educacional, instituição, mantenedores e investidores? E se pudéssemos falar sobre uma liderança escolar consciente que demanda resultados de seus professores, por exemplo, ao mesmo tempo em que os incentiva e os aprecia e gerencia recursos de maneira eficiente?
A comunidade que vem sendo criada ao longo dos últimos anos em torno do Capitalismo Consciente traz exemplos de empresas de diversos setores que vêm se beneficiando deste novo paradigma. Através de cursos, mentorias, palestras, ferramentas de gestão, entre outras iniciativas, é possível aproximar os gestores de escolas de uma rede de suporte que os ajude a fazer frente aos desafios diários que encontram, sem deixar nenhum aspecto de lado.
O que fica claro é que, para além da dicotomia do OU, temos que encontrar o E, principalmente em gestão escolar. Não há dúvida de que escolas mais bem geridas e que se mantém fiéis aos seus altos propósitos são melhores escolas e que, de melhores escolas, saem melhores alunos.
Cristina Diaz
Advogada de formação e filha de Professores, Cris cresceu com o tema Educação. Após 7 anos no mercado jurídico, em 2009 passou a se dedicar integralmente à criação, modelagem e ajuste de produtos e serviços educacionais inovadores que gerem impacto social, interesse e engajamento, dentro de instituições maduras e startups com ou sem finalidades lucrativas. Atualmente, Cris é a CEO do Canguru de Matemática, iniciativa privada que tem como missão mudar a maneira como a Matemática é vista no Brasil. Dentro do Canguru, Cris é responsável por três áreas: Concurso Canguru, publishing e conteúdo digital.