O que Davos apontou sobre a importância da longevidade na economia mundial

São Paulo, 14 de fevereiro de 2024 – Davos é uma vila no meio de montanhas suíças. Muito segura porque só há duas vias para entrar ou sair, por isso, é possível ter um evento que ocupa a cidade toda. A Promenade, rua principal de quase 2 km fica totalmente modificada durante o “World Economic Forum”. Lojas e restaurantes são repaginados por grandes marcas de consultoria, tecnologia que usam o espaço para fazer eventos, palestras, reuniões e jantares. Tudo com acesso limitado. É preciso ter sido convidado ou se inscrito previamente para participar de um evento desses.

Estar num local como Davos é entender quais são as tendências a serem priorizadas para “corrigir” ou para “fomentar” em todo mundo. Durante a semana do “WEF”, foi lançado um documento muito importante sobre Longevidade com seis pilares a serem desenvolvidos, sendo um deles específico sobre o trabalho para profissionais maduros. Os estudos apresentados destacaram uma estimativa de US$ 5 trilhões de dólares que poderiam voltar a economia dos países ricos se estivessem utilizando a população madura para também fazer girar a economia! Esse documento é um primeiro passo para o tema ser relevante nos anos à frente!

No Fórum ‘Davos Innovation Week’, sobre inovação e que aconteceu em Davos simultaneamente ao “WEF” e que atua para ajudar empreendedores de todo o mundo a desenvolver as competências necessárias para terem sucesso em seus negócios, fui convidada a apresentar um novo modelo de contratação de pessoas maduras, que venho desenvolvendo com a criação da Talento Sênior. O modelo é o Talent As a Service, ou TaaS, uma alusão ao conceito do Software As a Service (SaaS) da seara tecnológica.

Nesse modelo, várias empresas podem compartilhar talentos maduros por horas da semana para atender a uma demanda específica, a partir do conhecimento que possui sobre o tema. Esse profissional maduro, pode ser um ex-CEO, um ex-diretor, que ainda estão ativos no mercado mesmo que aposentados, e podem contribuir com sua experiência por um custo viável para a contratante, já que ele dedicará horas de trabalho e não todos os dias, como num contrato padrão de trabalho.

Sobretudo, para os profissionais mais maduros, esse tipo de oportunidade abre um leque bastante interessante de atuação. Apesar de Davos estar muito focada no importante tema ‘Mudanças Climáticas’, também foi motivador mostrar que se tivermos um planeta bom para vivermos muito tempo, precisaremos de oportunidades de trabalho para sermos mais ativos também por mais tempo. Se a longevidade do ser humano aumentou, nada mais natural que o mesmo aconteça com o seu prazo de disponibilidade para o mercado de trabalho.

Durante uma passagem pela ONU de Genebra, segunda maior sede da ONU depois de NYC, notamos que o tema ainda não aparece como alarmante ou urgente. Até por isso ainda não tem destaque nas ODS 2030 (apesar de estar lá de forma indireta sim).

No Brasil, o Censo 2022 causou impacto ao revelar dados sobre o envelhecimento populacional, que encolheu 6,45%, ou seja, quase 5 milhões abaixo da estimativa do IBGE, que atribui o fato aos níveis reduzidos de nascimento, migração para fora do país e queda da taxa de mortalidade. Estamos seguindo para um país com cidadãos mais maduros que jovens. O Brasil já ultrapassou a marca de 54,8 milhões de pessoas com mais de 50 anos e, segundo o contador do site Longevidade, a cada 20 segundos o país acrescenta mais um brasileiro cinquentão.

De acordo com as perspectivas do IBGE, em 2043, um quarto da população deverá ter mais de 60 anos, enquanto a proporção de jovens até 14 anos será de apenas 16,3%. Teremos mais habitantes maduros que jovens. No âmbito da economia, a diminuição da população em idade ativa pode afetar a oferta de força de trabalho, a produtividade das empresas e o crescimento econômico do país. O aumento da demanda por serviços de saúde, cuidados de longo prazo e aposentadoria, gera desafios para o sistema previdenciário e de saúde.

Viver mais, apesar dos desafios, vai trazer oportunidades para ajudar no desenvolvimento de setores específicos da economia brasileira. Além disso, profissionais com mais experiência colaboram para o impulso da inovação. A diversidade geracional é crucial para incentivar a criatividade, o pensamento inovador e o sucesso dos projetos, trazendo benefícios como: experiência e conhecimento, pensamento estratégico, resolução de problemas complexos, colaboração intergeracional e empatia com o público-alvo.

Olhar para a desconstrução do etarismo é uma urgência para o planeta que envelhece e precisa cada vez mais pensar estrategicamente no desenvolvimento da economia dos cuidados. Sem dúvida este tema será muito importante na revisão das ODS depois de 2030. E até lá, teremos muito a fazer para garantir que o olhar para essa população não seja apenas econômico, mas também humanitário e inclusivo.

Autora:

Juliana Ramalho, CEO da Talento Sênior. Representou a organização no ‘Davos Innovation Week’, um fórum de inovação que ocorreu simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde apresentou seu modelo de negócio focado na longevidade.

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