Somente 2% das empresas Brasileiras são bem avaliadas por todos os stakeholders

Em um mundo cada vez mais transparente, empresas não podem mais ignorar as reais demandas do mercado. É essencial uma abordagem integrada que gere valor para todos

Um Olhar Integrado

Em 2017, no Grupo de Gestão de Mudanças e Inovação da USP (EESC/USP), iniciamos o primeiro estudo de avaliação multistakeholders do país. O objetivo era mapear a percepção das empresas brasileiras por diferentes grupos de interesse, avaliando a qualidade das interações e o impacto de suas ações. Na época, mapeamos 1.115 empresas do país, e, após validarmos os dados via consulta direta aos stakeholers, reconhecemos as 22 melhores empresas em parceria com o Capitalismo Consciente Brasil, replicando pela primeira vez a abordagem do Prof. Raj Sisodia no país, fundador do movimento Capitalismo Consciente Internacional.

O lançamento do livro “Empreendedorismo Consciente” em 2019, do qual sou coautor, detalha os casos de empresas que participaram deste primeiro estudo, exemplos como Natura, Boticário, ClearSale, Elo7, Hospital Albert Einstein e Grupo Jacto. Essas empresas se destacaram por integrar práticas sustentáveis em seus modelos de negócios, aliando desempenho financeiro com responsabilidade social e ambiental.

Expansão do Estudo

Em Julho de 2024, na Humanizadas, uma spin-off da Universidade de São Paulo (EESC/USP), revisitamos e expandimos o estudo inicial. Utilizando uma metodologia aprimorada e novas abordagens de análise de dados. Dessa vez, identificamos inicialmente mais de 26 mil empresas (resultado 23x superior ao anterior).

Este novo levantamento revelou padrões e tendências significativas.

Padrões nas Análises de Dados

Identificamos quatro grupos de empresas:

  • Grupo 1: Bem avaliadas pelo público interno e externo (“Top Performance”).
  • Grupo 2: Bem avaliadas pelo público interno e mal pelo externo.
  • Grupo 3: Mal avaliadas pelo público interno e bem pelo externo.
  • Grupo 4: Mal avaliadas por ambos os públicos.

Conforme ilustrado no Gráfico 1, apenas 2% das empresas brasileiras estão no Grupo 1. Cerca de 61% das empresas não possuem boa avaliação do público interno (Grupos 3 e 4) e 85% não são bem avaliadas pelos públicos externos (Grupo 2 e 4). Faz parte do público interno conselheiros, lideranças e colaboradores. Faz parte do público externo consumidores, clientes, parceiros e sociedade em geral.

Source: Humanizadas (2024)

Níveis de Satisfação

No Gráfico 2, podemos observar que as empresas bem avaliadas pelos públicos interno e externo (Grupo 1) possuem 75% de satisfação, enquanto as mal avaliadas por ambos os públicos (Grupo 4) têm apenas 41%. Quando uma empresa foca apenas em um público, esse índice sobe para 55% (Grupo 2) ou 52% (Grupo 3). Por exemplo, este resultado indica que não basta gerar valor para o cliente OU do colaborador, é preciso gerar valor para todos os públicos para se destacar, afinal de contas, os públicos conversam entre e ajudam a formar a reputação de uma marca no mercado, influenciando decisões de compra, trabalho e investimento.

Source: Humanizadas (2024)

Desafios e Soluções

Um dos principais desafios para as empresas é a complexidade das fontes de dados e a falta de comunicação entre projetos e pesquisas. É comum ver pesquisas de clima, cultura, satisfação, engajamento ou reputação que não dialogam entre si.

Com o crescente aumento da influência dos stakeholders, muitas empresas abriram pesquisas e projetos que não se comunicam, gerando problemas de comunicação, desalinhamento interno e perda de recursos. Isso resulta não apenas em perda de tempo, recursos e energia, mas também na perda de oportunidade para endereçar as reais necessidades dos stakeholders e as prioridades estratégicas do negócio.

Para solucionar esses desafios, as empresas devem integrar suas abordagens e focar naquilo que realmente importa para os stakeholders e o negócio, adotando um olhar realmente estratégico e sistêmico sobre a empresa. No Relatório Melhores Para o Brasil, destacamos empresas que geram valor para todos os stakeholders. Essas empresas têm 70% maior retorno financeiro e 235% maior capacidade de inovação.

Conclusão

A criação de valor sustentável exige que as empresas adotem uma abordagem integrada, considerando as necessidades de todos os stakeholders. Isso não implica em atender a todas as demandas indistintamente, mas em identificar e priorizar projetos que tragam maior valor para os stakeholders e para o negócio de forma estratégica.

Empresas que equilibram a satisfação dos stakeholders tendem a melhorar sua reputação, obter melhores resultados financeiros e aumentar a capacidade de inovação. O estudo evidencia a importância de uma abordagem holística, onde a geração de valor é maximizada ao atender as necessidades de todos os grupos de interesse.

Na Humanizadas, em parceria com Google e Fapesp, estamos desenvolvendo uma Inteligência Artificial para auxiliar as empresas na implementação de uma visão integrada. Essa tecnologia será fundamental para fortalecer a reputação corporativa e garantir o sucesso a longo prazo.


Autor

Pedro Paro, fundador da Humanizadas e colunista da Exame.

Artigo originalmente publicado na Exame. Clique aqui para acessar.

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