Diante dos devastadores eventos climáticos no sul do Brasil, a insustentabilidade urbana se torna inegável. As chuvas e rios não são os únicos culpados pelos alagamentos; nossa ocupação irresponsável das margens dos rios e encostas dos morros coloca em risco tanto vidas humanas quanto ecossistemas preciosos. Precisamos adotar práticas conscientes de sustentabilidade para assegurar o futuro das próximas gerações e do planeta.
A natureza possui uma memória intrínseca, ligada à matriz ecológica de cada território. Reconhecer e agir sobre as causas profundas dos desastres, como os ocorridos no Rio Grande do Sul, é essencial. A gestão inadequada dos territórios e a urbanização desenfreada contribuem significativamente para tais tragédias. Sustentabilidade não é um objetivo estático, mas uma prática dinâmica que exige vigilância e adaptação contínua, integrando todos os aspectos da vida em sociedade, conforme os princípios da ONU: cuidado ambiental, desenvolvimento econômico, justiça social e eficácia institucional.
Uma cidade sustentável busca a harmonia entre o urbano e o rural, promovendo uma cultura de consciência e responsabilidade.
Capitalismo Consciente se inspira nesses princípios para fomentar uma sociedade e uma vida com sentido coletivo. As cidades devem operar de forma autossuficiente, abordando questões ambientais, econômicas, sociais e uma gestão integrada dos territórios. Cidades inteligentes, com soluções tecnológicas como medições climáticas e monitoramento de recursos hídricos, são aliadas importantes no caminho para a sustentabilidade, embora não garantam sucesso absoluto.
Os recentes desastres no sul do Brasil mostram que a questão não é apenas natural, mas resultado de décadas de gestão inadequada e um modelo econômico insustentável. Esse modelo prioriza o lucro em detrimento do bem coletivo e do cuidado com o meio ambiente. Precisamos de uma nova abordagem consciente dos impactos ambientais e promova a autossuficiência urbana.
Reduzir a necessidade de deslocamentos e promover centralidades urbanas autossuficientes são medidas essenciais.
A expansão urbana desenfreada ameaça áreas rurais e naturais, afetando a drenagem do solo e os ciclos hídricos. Sem infraestrutura verde adequada e esvaziados de uma inteligência social, os ecossistemas não conseguem responder de maneira resiliente às emergências climáticas. Uma gestão consciente do solo urbano e rural, baseada na permeabilidade do solo e sistemas de corredores verdes, é fundamental para um desenvolvimento urbano sustentável.
Políticas públicas desempenham um papel crucial na criação de cidades sustentáveis, promovendo equidade social, cuidado ambiental e uma economia ética. No entanto, essa responsabilidade não é exclusiva do poder público; parcerias entre governo e sociedade civil são essenciais. Exemplos inspiradores, como Medellín, Curitiba e Guayaquil, mostram que a colaboração entre diferentes atores pode gerar mudanças significativas.
A participação ativa da comunidade é vital para o sucesso do desenvolvimento sustentável. Métodos que integrem e colaborem com setores-chave na construção das cidades são essenciais. A sustentabilidade vai além de indicadores como ESG; é uma prática contínua para uma cultura consciente. A resiliência, governança eficaz, cultura de diálogo, colaboração e investimentos em educação e tecnologia são fundamentais.
Estamos diante de uma transformação radical no modelo de produção das cidades e dos territórios, um imperativo para garantir um futuro sustentável. O Capitalismo Consciente compromete-se no propósito maior de contribuir para essa tomada de consciência, construindo uma nova cultura de reciprocidade em nossas sociedades e cidades.
Autor
Daniel Caporale, conselheiro do Capitalismo Consciente – Filial RS, diretor da SG Cultura Cidadã Consciente, Arq. Urb. Mestre em Desenvolvimento Sustentável