Por Daniela Jacques*
Provavelmente, a maioria das pessoas concorda que cada indivíduo é único e especial, com identidade e história próprias, portanto, o respeito deve ser primordial. Da mesma forma, nunca esteve tão em voga os temas diversidade, inclusão social, pertencimento dentro e fora das corporações.
No entanto, o que aponta o último relatório de Índice de Inclusão Kantar, realizado em 14 países, é que apesar dos esforços das corporações, ainda existem práticas de exclusão e rejeição afetando a vida profissional e afetiva das pessoas. Alguns dados importantes:
– Quando perguntado às pessoas sobre suas experiências no local de trabalho, mais de 80% disseram que observaram ou experimentaram algum tipo de discriminação.
– Apenas (33%) se sentem fortalecidas o suficiente para tratar destas questões com a alta administração ou RH. Além disso, sobre os aspectos de inclusão, quase metade (46%) das pessoas concordam que na empresa é mais importante “quem você conhece” e não “o que você sabe”.
Como romper este ciclo e trazer, de fato, a diversidade e o pertencimento?
São inúmeros os caminhos possíveis, porém, eu gostaria de pontuar o que mais tem me chamado a atenção nesse contexto:
É necessário ter segurança psicológica para permitir que cada pessoa seja exatamente quem ela é dentro dos ambientes, independente dos valores, formação, religião, raça, idade, entre outros. Para isso acontecer, é preciso lançar o olhar diretamente para a “vulnerabilidade corporativa“, ainda considerada como um “fracasso”. Os discursos corporativos são preferencialmente direcionados para ações de “sucesso”, falando- se pouco sobre todo o processo, que é a soma dos erros e acertos. Isso empobrece o diálogo, pois desconsidera toda a experiência como um aprendizado.
No entanto, para lidar com a vulnerabilidade (a individual e a das outras pessoas) é importante a escuta ativa, sem julgamentos e vieses negativos. Aly Muritiba, diretor do filme Deserto Particular, premiado e ovacionado durante 10 minutos no Festival de Veneza e que concorreu ao Oscar, disse em entrevista que foi carcerário antes de ser cineasta, e que o aprendizado adquirido foi a importância de ouvir as pessoas que nunca tiveram alguém que as escutasse.
“Gosto de falar sobre tipos que não conheço profundamente, em um exercício de empatia. Gosto de construir personagens com dilemas humanos: suas dores, amores e crenças — mesmo que eu não concorde com elas”.
Pensando na importância da escuta e do diálogo para o rompimento de julgamentos, o museu Human Library (Biblioteca Humana), na Dinamarca, criou um projeto inovador: uma biblioteca que permite que se “pegue emprestada uma pessoa” ao invés de um livro, para ouvir sua história de vida por 30 minutos. Os participantes se encaixam em perfis considerados “estranhos” e estereotipados pela sociedade e, por isso, na maioria das vezes, são marginalizados. O objetivo deste espaço é criar um ambiente para o diálogo seguro, onde perguntas difíceis são feitas, ajudando na quebra de julgamentos. O museu diz que não devemos julgar um livro pela capa, nem uma pessoa por sua aparência ou primeira impressão.
“Humano no centro”, empresas humanizadas estão em pauta nos ambientes corporativos. Porém, precisa-se de mais lugares como o museu Human Library (Biblioteca Humana) dentro das empresas e na própria sociedade, porque, com certeza, o diálogo e a escuta ativa são fundamentais para que tenhamos uma sociedade mais igualitária e respeitosa. Toda mudança começa primeiro pelo indivíduo, no respeito à identidade e todas as diferenças. Por isso eu volto ao início: você tem julgado um livro pela capa ou uma pessoa por sua aparência ou primeira impressão?
*Fundadora da Poesis, uma consultoria dentro da economia criativa, DNA Corporativo e pesquisas etnográficas. Membro do Laboratório de Economia Criativa da ESPM. Publicitária com MBA Marketing COPPEAD. Pós-graduação em Pesquisa de Comportamento e Antropologia do Consumo Future Concept Lab (Milão) SENAI/CETIQT e Mestre em Gestão da Economia Criativa (ESPM).
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