A busca por organizações mais inclusivas, equitativas e sustentáveis tornou-se uma prioridade nos últimos anos, com líderes empresariais explorando maneiras de integrar esses valores em suas práticas comerciais. Durante o painel “Não é porque é grande que é fácil. As falhas no caminho para o sucesso”, realizado durante o III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente, Andrea Rolim, presidente da Kimberly Clark Brasil, Edvaldo Vieira, conselheiro e consultor, e Fernando Modé, CEO do Grupo Boticário, compartilharam experiência valiosas sobre como suas organizações estão abordando a diversidade, equidade e inclusão (DEI), além de iniciativas inovadoras para a sustentabilidade. A conversa foi moderada por Rodrigo Santini, diretor-executivo do Sistema B Brasil e proporcionou insights profundos e estratégias pragmáticas para enfrentar esses desafios complexos e partir da intenção para a ação.
Construindo organizações inclusivas e sustentáveis
Andrea Rolim iniciou a sua participação com a afirmação de que “começar essa jornada não é fácil nem para quem é pequeno e nem para quem é grande.” De acordo com ela, o importante é decidir fazer e tornar essa decisão parte da estratégia organizacional, com o apoio da liderança. “Se essa agenda não for a agenda da liderança, nada vai acontecer”, disse, enfatizando que além do papel fundamental da liderança, é preciso garantir que todas as estratégias e prioridades definidas sejam transformadas em ação, com a contribuição de pessoas capacitadas para fazer esse trabalho.
Outro ponto importante colocado por Andrea para fazer a agenda de sustentabilidade se mover, é a participação voluntária de colaboradores. “Você não contrata 150 pessoas adicionais para trabalhar em uma agenda de sustentabilidade do dia para a noite. Você tem que garantir que as pessoas que já estão na organização vão tocar 50 projetos adicionais”, explicou.
Segundo Andrea, há uma questão de governança importante envolvendo os temas de sustentabilidade, inclusão e diversidade. Para ela, ações que são mais cotidianas têm uma governança e processos mais estabelecidos na maior parte das organizações. O mesmo não ocorre com a questão da sustentabilidade, inclusão e diversidade, que são temas mais novos e precisam ser encarados com bastante pragmatismo. Como exemplo de como construir processos para a pauta, Andrea citou a sua experiência quando assumiu a Kimberly Clark:
“Há três anos, a organização tinha mais de 120 projetos fragmentados na área de sustentabilidade. Ninguém conseguia olhar para aquilo como um todo. A gente fez uma coisa tão simples como montar um comitê, ter a liderança no topo, determinar quais eram as prioridades, construir métricas para as questões ligadas à materialidade do nosso negócio. Algumas a gente está à frente, mede mensalmente e apresenta junto com o resultado financeiro do negócio. Algumas a gente está atrás, porque são muito desafiadoras. Mas o mais importante para isso funcionar é tornar o tema uma pauta constante. Se não fizer parte da agenda, nada acontece”.
A presidente da Kimberly Clark abordou a importância de reflexão sobre os acertos e erros da empresa, destacando a dualidade de sentimentos ao lidar com questões de inclusão e diversidade. Ela incluiu um exemplo de um censo abrangente realizado no ano anterior, revelando duas principais descobertas. Primeiro, há uma discrepância entre a percepção da importância da agenda de inclusão e diversidade e da responsabilidade atribuída aos outros para conduzi-la. Em segundo lugar, a liderança expressou desconforto em lidar com a diversidade, revelando a falta de preparo organizacional.
Ao discutir a inclusão e diversidade, Andrea falou sobre a evolução do cenário corporativo ao longo dos anos, especialmente no que diz respeito à importância de humanizar as relações e considerar a diversidade como parte integrante do sucesso organizacional. Ela ressaltou que essas questões não podem ser tratadas como externas ao negócio, mas como elementos fundamentais para a sustentabilidade e a resolução dos desafios contemporâneos.
A líder também mencionou a relevância econômica da diversidade, citando estudos que indicam uma preocupação crescente das pessoas com a responsabilidade das empresas. Além disso, ela destacou a complexidade da jornada rumo à sustentabilidade, enfatizando a necessidade de abordagens pragmáticas e a importância de integrar considerações ambientais em todas as operações.
Quanto à gestão de projetos relacionados à sustentabilidade, Andrea indicou uma abordagem organizada para evitar o procedimento descontrolado de iniciativas. Ela apresentou um exemplo de reformulação bem-sucedida do programa de estágio, onde a empresa atualizou um processo de seleção às cegas, resultando em uma diversidade significativa entre os estagiários. Além disso, a empresa investe na criação de grupos de trabalho para consolidar projetos e focar em prioridades que impactem significativamente a agenda da organização.
Para finalizar, Andrea ressaltou que as organizações que negligenciam a inclusão, a diversidade e a sustentabilidade enfrentam desafios financeiros a longo prazo. Ela falou sobre a necessidade de abordar essas questões como parte integrante do negócio e concluiu que o papel da liderança é crucial para transferir essas agendas e enfrentar os desafios com seriedade e comprometimento.
Integrando Propósito e Pragmatismo nas Empresas
Edvaldo Vieira falou sobre a importância de abordar temas como Capitalismo Consciente, inclusão, diversidade, propósito e intencionalmente com a mesma seriedade dedicada aos planos de negócios. Destacou a necessidade de incorporar esses elementos no cerne das operações, com foco no planejamento, na ação efetiva e no investimento.
Vieira ressaltou a relevância do “letramento” desde a liderança, afirmando: “tem que vir do topo, tem que estar na governança”. Apontou a importância da comunicação interna e da governança estratégica, demonstrando que a inclusão e a diversidade não são meras burocracias, mas estratégias fundamentais.
Ao abordar a inclusão e a diversidade, Edvaldo sugeriu avaliar o estágio atual da empresa, confirmando que os vieses inconscientes ainda permeiam as organizações. E destacou a necessidade de compreender a sociedade, citando a importância de iniciativas como grupos de afinidades para promover o diálogo e aprendizagem contínua.
Para o consultor, a necessidade de ações afirmativas e intencionais não deve ser vista como caridade, mas como oportunidade. E citou a importância de desafiar o status quo, implementar indicadores de diversidade em processos de seleção, e confrontar os vieses inconscientes, especialmente nos gestores de nível médio.
Edvaldo finalizou sua participação refletindo sobre a importância do protagonismo negro e a necessidade de oportunidades reais, não apenas capacitação. E concluiu abordando a complexidade de dar coaching para aqueles que detêm o poder, ressaltando que uma jornada rumo à inclusão e diversidade é contínua, exigindo processos, indicadores e uma abordagem empresarial para garantir avanços efetivos.
Conduzindo a Transformação Cultural para uma Empresa Mais Diversa e Inclusiva
Fernando Modé apresentou insights sobre a integração da diversidade e inclusão no cerne dos negócios da empresa, destacando a importância de tratá-los como qualquer outro tema organizacional. Ele enfatizou a presença constante desses temas nas discussões estratégicas, mostrando que são elementos fundamentais nos planos de longo prazo.
Modé falou sobre a relevância da comunicação eficaz, mencionando suas interações com milhares de colaboradores e reforçou a importância do alinhamento de propósitos para engajar e conduzir uma empresa atraente.
O CEO abordou a intencionalidade como um valor fundamental dentro da organização, destacando exemplos de momentos em que a empresa priorizou seus valores em decisões de negócios. “Essa intencionalidade, para mim, é uma questão de valorizar aquilo que a gente entende que são os princípios, os caminhos pelos quais a gente quer conduzir a nossa vida empresarial, pessoal e tudo o mais.”
Fernando discutiu o desafio de manter a diversidade em uma região (Sul do Brasil) onde a representatividade é historicamente menor, exaltando a importância de valorizar diferentes formas de experiência e conhecimento para construir uma equipe verdadeiramente renovada. “Eu tenho a oportunidade de, no final das contas, conseguir realizar o nosso propósito. A gente acredita que através da beleza é possível transformar a vida dos indivíduos e, a partir da transformação do indivíduo, transformar a sociedade ao redor.”
O líder do Grupo O Boticário concluiu enfatizando a necessidade de aprendizagem contínua, considerando diferentes perspectivas e sentimentos, e destacou a importância de focar propósitos para avançar na agenda da diversidade de maneira produtiva e sustentável.
Confira alguns cliques do painel no III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente:
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