*por Luiza Gaidzinski Carneiro para o Instituto Capitalismo Consciente Brasil
Stakeholders são todas as pessoas que impactam a empresa ou são impactadas por ela. São os colaboradores, os clientes, os parceiros, os fornecedores e a sociedade em geral tocadas diariamente pela organização. Portanto, podemos afirmar que um negócio não existe sem pessoas. Não são os produtos, serviços ou transações financeiras que formam uma empresa. Mas, sim, um grupo diverso de pessoas. Como, então, criar uma comunidade potente com todos esses pares a ponto de alavancar negócios em busca do propósito maior?
No nosso caso, no Arquipélago – Ecossistema de Projetos, evoluir a empresa como um ecossistema foi a resposta. A inspiração na natureza, onde o conjunto de diferentes organismos vivos, a partir das suas interações e componentes, formam o sistema maior – ecossistema – foi a guia para repensar nossa forma de atuar e conectar com o futuro do trabalho. Em pesquisas realizadas durante a fase de exploração para transformar o nosso modelo de negócios, motivados tanto pelos últimos anos de pandemia quanto pelo mercado, descobrimos que a abordagem de ecossistema era um caminho potente para alinhar nossas estratégias com o movimento global que presenciávamos.
Um estudo da Deloitte e do Fórum Econômico Mundial aponta que as estruturas de um ecossistema são definidas por atores interdependentes, que estão dentro e fora das organizações, que trabalham para alcançar objetivos individuais e coletivos. São interações entre produtores, inovadores, clientes e órgãos reguladores, por exemplo, às vezes guiadas por questões geográficas – a exemplo do Vale do Silício e outros ecossistemas de inovação. Ou outros agrupamentos que só são possíveis através das plataformas digitais (nosso caso), por muitos chamados de “ecossistemas digitais”, “ecossistemas nômades” ou empresas “anywhere work”. Nesta realidade, diferentes participantes, como colaboradores contratados, parceiros de negócios, trabalhadores temporários, prestadores de serviços, desenvolvedores, crowdsourcing, entre outros, se estruturam como uma força de trabalho para cada desafio e projeto. Juntas, as especialidades se complementam e se contrapõem, criando soluções através da colaboração, criatividade, diversidade e, por que não, da coopetição. A base digital permite proximidade e inteligência coletiva, mesmo que as pessoas estejam separadas por oceanos.
Este novo cenário é consequência não apenas de uma forma contemporânea de enxergar o trabalho, o bem-estar e a qualidade de vida. Mas, também, de uma demanda atual de mercado de clientes ávidos por relacionamentos com a dualidade “longo prazo Vs. oxigenação de ideias e times”; e de uma geração que enxerga a relação com o trabalho diferente das gerações anteriores. Atuando a partir de uma lógica sob-demanda, em que cada profissional é empreendedor de si mesmo, dos seus talentos e especialidades, é possível montar times mais eficientes e customizados; diminuir custos focando o dinheiro onde realmente importa e remunerando mais; compartilhar cargos e posições; e atuar de uma maneira descentralizada. Nesta lógica, o local do trabalho é onde está o trabalho, desmaterializando estruturas e focando a energia em temas latentes para as entregas, como a produtividade. O realizar independe de um local físico e se conecta de fato com as tarefas, questões socioemocionais, rituais e ferramentas que permitam entregar, aprender, desenvolver, produzir, evoluir e, também, se divertir.
Cultura é o diferencial
Não são todas as pessoas e, principalmente, culturas organizacionais que estão preparadas para atuar de maneira descentralizada, distribuída e orientada por stakeholders. Sabemos que há um nível de consciência a ser lapidado dia após dia, destravando camadas de autoconhecimento de todos os envolvidos. Também não existe uma fórmula de sucesso ou receita de bolo para um negócio organizado na lógica de ecossistema. No entanto, sabemos que o olhar para a cultura organizacional, os valores, a essência, as competências, as forças e as fraquezas, são o caminho inicial. Independentemente dos produtos, serviços ou soluções de mercado criadas, o verdadeiro diferencial está na cultura: na forma como interpretamos e lidamos com os contextos.
Para a Geração Z estar em uma comunidade é saber que não se está sozinho, que se vive uma experiência compartilhada. Esse anseio desse jovem grupo de trabalhadores abre espaço para novas plataformas de serviços e estruturação organizacional focadas em cultura. E falar de comunidade é falar de motivações comuns intrínsecas, como o propósito e os vínculos emocionais, base dos negócios conscientes. Por tanto, sob essa óptica, conseguimos afirmar que empresas conscientes têm ambientes de trabalho que encorajam as relações coletivas e, sobretudo, auxiliam pessoas a florescerem como seres humanos em busca de sua realização.
Abaixo, algumas das características, vantagens e efeitos de se trabalhar na lógica de ecossistemas:
O valor de cada um deve estar claro
A visibilidade em um ecossistema digital deve ser a premissa número um, já que as pessoas estarão em rede e precisam ver e serem vistas. As informações são do projeto e do grupo, não das pessoas, e o valor gerado por cada um deve ser claro e aprofundado para que exista engajamento e reconhecimento coletivo.
Noção de interdependência
Todos os stakeholders dependem dos demais – alguns minimamente, outros de modo máximo. Tanto para realizar suas atividades quanto para cumprir objetivos comuns. O sucesso ou fracasso de um projeto depende da capacidade de colaboração entre as partes, e aqui incluímos também os clientes. Quem consome precisa ter noção da sua responsabilidade e papel no sucesso, ora através de ciclos de feedbacks estruturados, ora colocando a mão na massa junto.
Economia Aberta de Talentos
As complementaridades precisam ser valorizadas. Atores distintos em diferentes momentos do negócio podem trazer caras e estilos opostos para o ecossistema, transformando o modelo organizacional, o estilo de trabalho e de gestão. Isso não necessariamente é um problema. No entanto, embora talentos diversos possam se fortalecer, o propósito maior precisa ser claro e único, assim como o objetivo comum de cada fase. Com isso, a flexibilidade cognitiva se torna um valor essencial: é a capacidade adaptativa das pessoas frente aos novos contextos e desafios que emergem o tempo todo.
Pensamento crítico e consciência
Abraçar a complexidade é entender que tudo que criamos, nos cria de volta. Com este olhar, não somos apenas profissionais e talentos, somos também os artefatos projetados. A consciência de que estar na jornada é ser a jornada faz toda a diferença. Para além: olhar com criticidade para cada etapa colabora com novas perspectivas, ideias, visões e conceitos de um mesmo problema.
Para terminar, uma frase que ouvimos em uma conversa e abraçamos como lema: “se a cultura come a estratégia no café da manhã, a estratégia é a nossa cultura”.
*Luiza Gaidzinski Carneiro é colíder do Arquipélago, empresa associada ao Capitalismo Consciente e embaixadora da filial regional do Capitalismo Consciente no Rio Grande do Sul.
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