Durante o III Fórum Brasileiro de Capitalismo Consciente, Andrea Bisker, a CEO visionária e fundadora da Spark:off, subiu ao palco para desvendar as complexidades da análise de tendências e compartilhar insights sobre a criação de um futuro próspero e inclusivo. Com 25 anos de experiência em comportamento do consumidor e inteligência de mercado, Bisker se tornou uma figura proeminente em consultoria de inovação. Como palestrante experiente, professora no programa de MBA da ESPM e defensora dedicada da economia sustentável, ela instigou os participantes a olharem para o futuro e estabelecerem metas significativas.
Tendências Pioneiras em Sustentabilidade
Com uma carreira enraizada no empreendedorismo desde os 23 anos, Bisker, agora com 56, expressou sua paixão pela economia prateada, enfatizando a importância de ser um bom ancestral. De acordo com ela, sua rotina diária envolve examinar as mudanças na sociedade, alterações no comportamento do consumidor e os desafios decorrentes do aumento da expectativa de vida. Ela levantou questões pertinentes sobre a aposentadoria aos 65 anos, em um mundo onde as pessoas podem chegar até os 100 anos. Segundo ela, compreender pontos comuns entre avanços tecnológicos, econômicos, ambientais e políticos é crucial para antecipar o futuro e proteger os negócios.
Conforme a audiência mergulhava no estado atual do mundo, Bisker introduziu o conceito de “policrise”, caracterizando os desafios multifacetados decorrentes da era pós-pandêmica – crises econômicas, políticas, ambientais e sociais. Ela enfatizou a necessidade de permanecer conectado para se preparar para o que está por vir, destacando que o mundo está em um estado de crise perpétua. Nesse sentido, a especialista compartilhou insights sobre a captura de sinais futuros, destacando a necessidade de analisar eventos passados e presentes. Fazendo um paralelo com a evolução do discurso de sustentabilidade, ela lembrou de uma época em que termos como ESG (Ambiental, Social e Governança) não eram “mainstream”. Hoje, com as preocupações ambientais ganhando destaque, o papel das empresas na promoção da sustentabilidade se tornou crucial.
Liderança, Transparência e Responsabilidade
A conversa se voltou para o papel da liderança na navegação desses desafios. Bisker falou sobre a transformação de “ECO guerreiros” para uma abordagem mais consciente da sustentabilidade. A pergunta crucial levantada foi: “Como podemos mudar de ser parte do problema para nos tornarmos parte da solução?”
Citando um relatório recente da Wunderman Thompson, Bisker introduziu o conceito de “Terra como stakeholder”, em que o planeta é considerado um participante-chave nas decisões corporativas. Ela citou exemplos como a Faith in Nature, uma empresa britânica de produtos de higiene e beleza, que nomeou um representante para a natureza em suas reuniões de diretoria. O processo de tomada de decisão envolve considerar como a natureza decidiria, resultando em uma perspectiva única e sustentável.
Bisker destacou ainda as ações de líderes como Yvon Chouinard, fundador da Patagonia, que doou ações da empresa para um fundo dedicado ao combate às mudanças climáticas. O tema do lucro versus propósito foi explorado, com líderes considerando o quanto lucro é necessário e contemplando uma reavaliação sistêmica.
Revelando Valores Inegociáveis
Transitando para o futuro, Bisker revelou cinco “inegociáveis” essenciais para construir um futuro sustentável. Estes incluem consciência, transparência, igualdade, colaboração e uma mentalidade decolonial.
Consciência: Bisker enfatizou a necessidade de mudanças profundas no mindset de indivíduos e empresas. A tomada de decisões consciente envolve compreender o impacto das ações no meio ambiente, nas comunidades e nas gerações futuras. Isso se estende aos consumidores que fazem escolhas informadas e responsáveis.
Transparência: A transparência surgiu como um requisito para a confiança. Organizações e indivíduos estão cada vez mais em busca de clareza sobre práticas, metas e impactos. Bisker observou que 60% dos consumidores globais consideram confiabilidade e transparência as características mais importantes de uma marca.
Igualdade: O mundo ESG promove inerentemente a inclusão, advogando pela igualdade em todas as formas – gênero, raça, idade e mais. Bisker referenciou a sessão anterior de Lisa Coleman, destacando o impacto positivo da promoção da igualdade em escala global.
Colaboração: Bisker enfatizou a necessidade de soluções colaborativas para abordar desafios globais. Em vez de competir isoladamente, ela incentivou empresas, governos e sociedade civil a se unirem por objetivos comuns de sustentabilidade.
Mentalidade Decolonial: Abordando o impacto histórico de padrões coloniais nas relações globais, Bisker instou a uma mudança para uma mentalidade decolonial. Reconhecer e corrigir esses padrões, valorizar a sabedoria local e rejeitar abordagens exploratórias são vitais para construir relacionamentos mais equitativos e respeitosos.
Uma Aliança para o Futuro Sustentável
No seguimento da abordagem aos “inegociáveis”, Andrea Bisker introduziu o conceito de pensamento ecossistêmico. Em síntese, para consolidar os valores inegociáveis, ela enfatizou a necessidade de internalizar e viver esses princípios coletivamente, promovendo uma conscientização profunda, transparência, confiança, colaboração, igualdade e uma mentalidade decolonial. Esses são os pilares essenciais para moldar um mundo onde o progresso beneficie a todos e cada decisão considere o bem-estar do planeta e das gerações futuras.
Andrea então compartilhou cinco temas relevantes para os próximos anos, que representam soluções inspiradoras para enfrentar desafios iminentes.
1. Capital Biológico – Bioeconomia: A urgência de repensar o modelo de desenvolvimento econômico atual, destacando a bioeconomia como um caminho necessário. Envolvendo setores como agricultura, agroindústria, energia, saúde e meio ambiente, a bioeconomia visa utilizar biomateriais, bioenergia e biotecnologia para promover o desenvolvimento sustentável. Estudos indicam que a aplicação da bioeconomia pode impulsionar o setor industrial, atingindo um faturamento anual de 284 bilhões de dólares até 2050.
2. Biomimética – Aprendendo com a Natureza: Conexão entre bioeconomia e o conceito de biomimética, e como ambos buscam inspiração na natureza para criar soluções sustentáveis e inovadoras. A biomimética, focada em estudar os princípios criativos da natureza, já se mostra promissora em diversos campos, incluindo química, biologia, medicina, arquitetura e transportes. Andrea destacou casos exemplares, como embalagens inspiradas na autodefesa de frutas, evidenciando o potencial transformador dessa abordagem.
3. Economia Circular – De ponta a ponta: A crescente preocupação com o esgotamento de recursos e o impacto ambiental do consumo insustentável. Bisker destacou a economia circular como um modelo que desafia a abordagem linear tradicional, enfatizando reutilização, reparação, remanufatura e reciclagem de produtos e materiais. Com uma receita mundial estimada em 340 bilhões de dólares em 2022, prevendo dobrar até 2026, a economia circular é reconhecida como um fenômeno global que cresce mais rápido que o mercado do vestuário em geral.
4. Descarbonização – Novos Ares: Bisker abordou a necessidade urgente de reduzir as emissões de dióxido de carbono para enfrentar as mudanças climáticas. Com mais de 95% do PIB global comprometido com a neutralidade de carbono, a descarbonização tornou-se central na luta contra as mudanças climáticas. No contexto brasileiro, a redução do desmatamento na Amazônia é vital, e esforços recentes mostram progresso, apesar dos desafios contínuos.
5. Economia Regenerativa: A economia regenerativa emergiu como uma abordagem que valoriza a regeneração do capital natural, como a Terra e o Sol. Diferente da simples sustentabilidade, ela busca criar sistemas sustentáveis, regenerativos e resilientes. Andrea destacou a importância de superar a mentalidade convencional de “business as usual” e evoluir em direção a modelos de negócios regenerativos, contribuindo positivamente para o mundo ao seu redor.
Desafios e Reflexões para o Futuro Sustentável
Por fim, Andrea resgatou a provocação de um professor sobre o Brasil ser “o país do futuro do pretérito”, instigando todos a pensarem no que podem fazer para tornar o Brasil um país do “futuro do presente”. Ela ressaltou o potencial brasileiro, destacando aspectos como a energia renovável, a competitividade na produção de hidrogênio verde e o papel crucial da Amazônia na estabilização do clima.
E deixou aos participantes a pergunta final: “Como você quer ser lembrado no futuro?” Uma chamada para ação e reflexão sobre o papel individual e coletivo na construção de um mundo mais consciente, equitativo e sustentável.
Confira como as empresas estão incluindo os “cinco temas relevantes” citados por Andrea Bisker em seus negócios, no Report “Conectando o Agora ao Futuro”, produzido pela Spark:off, especialmente para o III Fórum Brasileiro do Capitalismo Consciente.