por Graziela Merlina*
Se você tivesse que escolher alguma dessas palavras para definir VULNERABILIDADE, qual delas escolheria?
- Fraqueza?
- Fragilidade?
- Insegurança?
- Desamparo?
- Exposição?
- Vergonha?
Acredito que ao menos uma dessas palavras esteja mais próxima daquilo que VULNERABILIDADE significa pra você.
Assim, talvez te surpreenda a escolha da Round Table Companies (um grupo americano de storytellers). Para esse time, VULNERABILIDADE é sexy. A ideia aqui é que tudo que nos torna belos (e, portanto, sexy) são as nossas histórias. Histórias reais, das quais nos orgulhamos e das quais não nos orgulhamos. Mas são nossas, únicas, falam de nosso EU. Quer algo mais sexy do que permitir que alguém conheça o seu EU? E há outra forma de isso acontecer sem se permitir estar vulnerável?
Seria ótimo então se pudéssemos abraçar a VULNERABILIDADE e fazer dela nosso espaço humanizado, seja em nós, nas relações, nos projetos, no mundo. Mas, a notícia que vem a seguir é que VULNERABILIDADE nos pede CORAGEM. É preciso ter a coragem de ser quem somos, de sermos imperfeitos, de reconhecermos medos, culpas e vergonhas.
Esse alerta vem de 20 anos de pesquisa da escritora e pesquisadora da Universidade de Houston, a brilhante Brené Brown. Segundo Brown, a maioria das pessoas passa a vida tentando evitar ser vulnerável. Mas, é assumindo erros e mostrando fraquezas que conseguimos mais empatia e confiança das pessoas. Afinal, isso é ser humano.
A busca pela perfeição, é uma corrida que nos tira da humanidade. Nos coloca em um estado de arrogância, superioridade, autoproteção e controle. Qual o preço a pagar? Perdemos a oportunidade de aprender, evoluir, ser ajudado, acolhido. Talvez nosso maior exemplo está no momento vivido pela pandemia global do Covid-19. Onde estão todos aqueles que sempre têm as respostas? Ou estão proferindo previsões que são puramente chutes ou estão escondidos atrás da sua própria vergonha de não saber.
E onde estão os curiosos e vulneráveis? Estão falando de seus sentimentos, vivendo um dia de cada vez, estão cobertos de autocompaixão e compaixão ao outro, reconhecendo o mergulho no desconhecido.
Por diversas vezes me peguei nesse lugar de “mestre” e não de aprendiz. É um exercício de auto-observação doloroso, mas valioso. Afinal, ficar na culpa pela necessidade de perfeição não contribuirá em nada para aprender e evoluir.
Algo que ajuda a me comprometer com a VULNERABILIDADE, é o resgate da minha criança. Quando eu pergunto a ela o que eu posso ser porque não preciso ser perfeita.
Quando eu não me permito a diversão, porque preciso estar produtiva o tempo todo para ser perfeita, lembro que quando começava a chover, a minha mãe pedia ajuda para tirar a roupa do varal. Eu fazia tudo muito, muito devagar porque o mais legal era tomar chuva mesmo. Enquanto eu fingia que não alcançava algumas roupas, me divertia com a água escorrendo pelos meus cabelos.
E eu podia me divertir, porque eu não precisava ser perfeita.
Quando eu sinto vergonha por agir com ingenuidade, porque ser perfeita é ser sagaz, lembro que minha mãe dizia que eu não podia comer muita salsicha porque engordava (sim, naquela época as crianças comiam salsichas). Eu não acreditava. Daí, eu pegava salsicha escondida e ia comer com a mão em cima da barriga pra sentir se ela crescia. Como nada acontecia eu achava que minha mãe me enganava só pra eu não acabar com as salsichas.
E eu podia ser ingênua, porque eu não precisava ser perfeita.
Quando eu sinto vergonha por não fazer certo, porque ser perfeita é não errar, lembro que uma vez havia um cheiro horrível na geladeira. Minha mãe não descobriu nada estragado. Mas foi porque eu tirei de lá antes dela saber. Foi a minha tentativa frustrada de fazer brigadeiro. Só me lembro que não poupei ingredientes. Vai saber a reação química que deu.
E eu podia arriscar, porque eu não precisava ser perfeita.
Quando eu sinto vergonha por não saber / conhecer alguma coisa porque preciso ter todas as respostas para ser perfeita, lembro que eu tinha medo de uma parede da cozinha. Sempre havia muitas formigas ali e minha mãe dizia: “Nossa! Que formigueiro!” Pra mim, formigueiro era um homem que morava lá dentro da parede e fabricava formigas. Eu tinha medo desse homem.
E eu podia ser desinformada, porque eu não precisava ser perfeita.
Quando eu penso demais em agradar todo mundo para ser a querida perfeita, lembro que era bem comum aplicarmos trotes pelo telefone. Mas teve um trote que passou dos limites. Ligávamos para as pessoas dizendo que tínhamos uma mensagem do além e em geral fazíamos uma piada sem graça, como por exemplo, sua cueca está suja de coco. Mas, em uma ocasião, o senhor levou muito a sério e chamou a esposa: “Fulana, vem logo, acho que tem uma mensagem da sua mãe pra você.” E ele dizia ao telefone: “D. Hermínia, pode falar. Estamos aqui.” Desligamos o telefone na hora. Estava com uma amiga. E até hoje não sabemos se quem deu o trote na verdade foi ele.
E eu podia ser inconveniente, porque eu não precisava ser perfeita.
Agora, essa minha criança traz alguns lembretes pra você:
- Não adianta brincar de esconde-esconde com a vulnerabilidade. Quando o medo, do qual você tenta fugir, te encontra, ele te domina.
- Não é um jogo solitário, quanto mais pessoas em campo, mais apoio você terá pra não deixar a bola cair, ou pra recomeçar quando ela cair.
- As incertezas e os riscos são parte da vida. Vulnerabilidade não é escolha. Se você não brincar de “salada mista”, jamais conhecerá sua sorte.
- Não se trata de um Jogo da Verdade. Ser você, vulnerável, humano também é respeitar seus limites de exposição.
- Brincar é sempre bom.
Aperte o PLAY da VULNERABILIDADE, e seja SEXY.
Gostou do texto? Ele é um de três artigos da trilogia que aborda vulnerabilidade, escolhas e confiança. Os próximos artigos desta série já estão disponíveis para leitura, basta clicar em uma das imagens abaixo:
Graziela Merlina*
Conselheira Capitalismo Consciente Brasil
Idealizadora do HUB Consultores Conscientes @CasaMerlina
Fundadora da ApoenaRH
Game Designer
Palestrante